Dia um: origens

57 9 3
                                    

As garotas caminhavam pela praia com Daniel correndo alguns metros à frente, voltando de tempos em tempos para lhes mostrar uma concha ou outro objeto que encontrasse na areia. A loira olhava a paisagem tão familiar com um pequeno sorriso no rosto quando Amanda perguntou:

-E então, Dezoito, como isso vai funcionar?

-O que quer dizer?

-Eu não faço o tipo silenciosa. E você não quer falar de você. Vai ficar me dando patadas se eu fizer perguntas?

Ela riu antes de responder:

-Não. Também não estou tentando deixar de existir, posso conversar.

-E se eu for longe demais?

-Bom... Nesse caso vou ter que dar um jeito de fazer você parar de falar, certo?

Um sorriso foi toda a resposta que Amanda deu por um tempo, e elas continuaram seu trajeto.

Dezoito lembrou-se de quando queria caminhar pela praia e seu pai sempre a fazia levar Henrique. O primo era apenas seis meses mais velho que ela, mas, por algum motivo, ele parecia mais digno de independência. Na época, ela se incomodava por não poder andar por ali sozinha, mas nesse momento percebeu que gostava da companhia que havia arranjado.

-Você morou por aqui ou coisa do tipo?

-Não. Acho que eu não gostaria tanto daqui se tivesse morado. Eu passava as férias com a família, e é difícil não gostar de um lugar que você associa a não ter lição de casa. - fez uma pausa, mas como Amanda a olhava sem comentar, continuou - Ficava na casa mais próxima da praia. Há alguns anos, alguém construiu uma mais perto, com o quintal já pegando a areia da praia. Acho que eu chorei a primeira vez que vi isso.

-Você é filha única?

-Já sei, já sei. O estereótipo da filha única mimada. -Amanda deu o sorriso que Dezoito já lia como "estou brincando, não fique brava" - tecnicamente, não. Tenho uma irmã, mas quando eu nasci ela já não morava em casa.

-De qualquer forma é bom ser a mais nova. Sua irmã provavelmente foi abrindo os caminhos. Seus pais já estavam mais preparados para o primeiro namorado, a primeira nota baixa, a primeira balada e tudo o mais.

-É, talvez. Mas é que acho que sou a filha "de verdade", entende? Lúcia foi um erro adolescente. Eu sou a menininha que faz parte da família-propaganda-de-margarina, e meus pais fazem questão de nos tratar de acordo.

Dezoito pensou se Amanda a acharia insensível por falar da irmã desse jeito. Mas era só que depois de anos ela já tinha aceitado esse fato; as duas irmãs tinham. E por algum motivo seus pensamentos se transformavam facilmente em palavras ali, quase sem um filtro. Quis desviar do assunto para não passar uma má impressão.

-Mas é sua vez. Essa coisa de abrir caminhos pareceu experiência própria. Quais foram seus primeiros?

-Meus primeiros?

-Primeiro namorado, primeira nota baixa, primeira balada. Como você tinha dito.

Amanda riu e balançou a cabeça.

-E eu estava preocupada em ser muito invasiva...

Antes que a loira tivesse tempo de responder, Daniel veio até elas e puxou a mão da irmã.

-Da pra ver o lago. Corrida até lá! -  e disparou.

As garotas se entreolharam e sorriram.

-Se eu vencer você conta? - Dezoito perguntou.

-E se eu vencer?

A garota pensou por um momento ("Parem de enrolar! " Vinha o grito de longe)

-Você pelo menos vai saber o nome da menina que vai dormir na sua casa.

Dezoito e TantosOnde histórias criam vida. Descubra agora