Capítulo 9

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[ Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses... ]

Naquela terça-feira, fiquei quatro horas naquela sala de hemodiálise. Eu senti muita dor durante cada segundo, mas eu não conseguia derramar nenhuma lágrima. Eu senti muita dor, mas não consegui deixar nenhuma lágrima escorregar pelas minhas bochechas, juntamente com a dor, tudo que eu conseguia sentir era nojo, desprezo de mim mesma.

Eu apenas fechava os olhos com força e lembrava do motivo pelo qual eu estava sofrendo. Eu me lembrava de cada palavra. Me lembrava do dia em que Matthew esteve em minha casa. Lembrava de suas palavras. Lembrava de cada dor que eu senti. Lembrava de seu toque. Lembrava de tudo.

Hoje eu voltaria a trabalhar e voltaria à faculdade, apesar de estar um pouco fraca, só posso pegar dois dias de atestado.

Com uma certa dor e dificuldade, eu consegui me levantar da cama. Caminhei até o banheiro e lá me sentei na tampa do sanitário. Me olhei no grande espelho...

Meu reflexo do espelho era de uma garota frágil, destruída, abandonada. Eu não conseguia ver uma mulher, e sim, eu via uma criança Inocente. E essa inocência, acabou comigo.

Me levantei lentamente e fui retirando cada peça de roupa vagarosamente. Estava completamente nua, voltei a me olhar no grande espelho.

- Porquê? - Sussurrei para mim mesma - Tenho nojo, tenho pena de mim mesma... - Sussurrei e meus pequenos dedos encostaram no meu reflexo no espelho - Você nasceu para sofrer garota... - Sussurrei novamente para mim mesma.

Soltei um suspiro pesado e entrei no chuveiro. Fechei meus olhos e deixei que a água morna tentasse me acalmar.

Flashback On

- Para... - Eu já chorava e estava completamente desesperada

- Isso só me estimula à continuar! - Falou e apertou meus seios, mas ele apertou tão forte que gritei de dor - Isso... Grita mais!

- Por favor...Para - Eu me sentia tão indefesa, tão frágil, tão inútil.

- Você sabe que eu não vou parar...

Flashback Off

Eu não aguento mais. Eu não consigo mais. A vida já chegou ao fim para mim.

Saí do chuveiro me enrolei no robi e fui até o armarinho que fica em meu banheiro. Logo minha mão trêmula segurava uma lâmina. Minha respiração estava ofegante, meu coração acelerado e minhas estavam bambas.

Aproximei a lâmina de meu pulso e estava quase cortando, mas... foi ai que lembrei.

Me lembrei que o pior erro do ser humano é tirar a própria vida... Lembranças daquelas crianças que lutam para sobreviver vieram à minha mente, Alice... aquela garotinha com água nos pulmões. Ela luta tanto para sobreviver. Era impossível ela estar aqui na terra hoje em dia, mas não. Ela não desistiu da vida. Ela tentou.

Não. Você não pode...

Meu subconsciente gritava. Realmente... eu não posso tirar minha vida. Em fração de segundos, o barulho da lâmina caindo no chão ecoou por todo o banheiro.

Andei rapidamente até minha cama e me sentei com a respiração ofegante. Se eu ficasse naquele quarto, eu sabia que iria fazer uma coisa na qual me arrependeria.

Vesti uma calça jeans preta, uma blusa de mangas compridas branca, coloquei um casaco de pêlos, calcei minha bota e prendi meus cabelos num rabo de cavalo.

InocenteOnde histórias criam vida. Descubra agora