2 - Estações do ano

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Nós somos como as estações do ano, apesar de existir uma extrema mudança do frio (inverno), para o calor (verão), nós temos algo que nos prepara: o início do calor (primavera) e o início do frio (outono). Por isso, digo que somos como as estações, temos os nossos extremos, como por exemplo quando estamos extremamente felizes ou tristes, contudo até lá chegarmos temos que passar por "fases".

A universidade estava prestes a começar, por isso hoje iria a uma loja de discos de vinil comprar alguns, visto que esta é a minha loja predilecta, sabendo que depois só voltaria ao fim-de-semana para o apartamento dos meus pais.

O dia de hoje estava frio, o meu casaco de cabedal não me cobria muito bem, também por baixo disso apenas envergava uma camisola de alças preta, que eram da mesma cor que as botas, do meu chapéu e do meu cabelo.

Tentei abrir a porta, porém não seria a habitual Isabella se não a puxasse (o que não teria efeito) e logo depois empurrei-a acertando.

O senhor Almeda recebeu-me com o seu habitual sorriso trocista, ele brincava sempre comigo devido à minha confusão de abrir portas. Acenei-lhe com a mão e caminhei até ao balcão que era onde ele estava.

- Hey Isa - cumprimentou-me dando-me um passa-bem, desta vez ele estava sentado numa cadeira que parecia confortável e não na sua tão famosa cadeira de rodas - chegaram uns discos novos, talvez te possam agradar alguns deles - apontou para uma das estantes, sussurrei um "está bem" e caminhei até à estante que ele me disse que eu iria encontrar os discos.

Olhei para os vários discos, queria comprar todos se fosse possível, porém queria guardar algum dinheiro para adquirir coisas para o meu apartamento que fica perto da faculdade. Tinha nos meus braços o disco "Badlands" de Halsey. Foi quando notei alguma agitação por parte do senhor Almeda.

- O que se passa, senhor Almeda? - perguntei vendo que este estava agitado e constantemente a olhar para uma porta que estava atrás de si.

- Isabella, posso-te pedir uma coisa? - questionou o idoso.

- Claro que sim! - afirmei enquanto caminhava até à frente do balcão.

- A minha neta Evelyn está ali naquela sala, como sabes o meu estado, - explicava apontando para as suas pernas, pois este não as conseguia mexer, levando-o a andar de carrinho de rodas - ela tem ataques de epilepsia e eu estou preocupado porque não ouço nada vindo dela, podes ir lá dar uma olhada?

O Senhor Almeda pela sua fama era um velho que estava sempre a resmungar, sendo que recebia os seus clientes, tratando-os apenas com o respeito merecido e era para que a sua loja pudesse sobreviver, por isso eu não iria ferir o seu orgulho, porque eu imagino o quanto desconfortável este estava por me pedir isto. Movi-me até ao interior do balcão, entrando pela porta que segundo ele, daria até uma sala.

Assim que lá cheguei reparei numa miúda que se debatia no chão. Era aquilo que se chamava de um ataque de epilepsia? Rapidamente, fiquei em alerta; estava nervosa. Tentando manter a calma e relembrei-me de todos os passos que teria de fazer para parar com esta situação.

Primeiro, tirei todos os livros que estavam em cima do sofá, mandando-os para o chão, peguei na miúda, embora ela se debatesse deitei-a de costas e retirei-lhe o relógio do pulso para que não se magoasse com o mesmo. Segundo, peguei numa bandana que se encontrava em cima da mesa em frente ao sofá, colocando-o entre os dentes da miúda para evitar que mordesse a própria língua; levantei-lhe o queixo para facilitar a passagem de ar e comecei a desapertar a camisa dela, pois estava quase que colocada ao seu corpo. Quando Evelyn começou a babar-se pus a cabeça de lado para que não sufocasse com a própria saliva.

Eve passando um tempo, deixou de se debater, parecendo acordar de um pesadelo, esta olhou-me com desespero e envergonhada.

- Olá Eve, eu sou a Isabella - comecei por me apresentar, apesar de ainda estar a controlar a minha respiração - onde é que é o teu quarto? - perguntei, agora olhando para o seu rosto no máximo deveria ter uns 15 anos, esta apontou-me para uma porta que calculei que deveria ser um quarto; Peguei nela ao colo e pus-la dentro da cama - descansa, tudo vai ficar bem. - tranquilizei-a, passando-lhe a mão no cabelo

Vi o telemóvel de Eve na mesa de cabeceira, peguei nele e liguei para o contacto que dizia "mãe", expliquei-lhe a situação, ela disse-me que iria sair mais cedo do trabalho, que iria contactar a médica de Evelyn para ver se estava tudo bem, agradeceu-me e por fim pediu-me para que não comentasse nada com o seu sogro (senhor Almeda), para ele não se sentir culpado por não poder fazer nada; encerrando assim a chamada.

Voltei para o balcão.

- Então como é que ela estava? - senhor Almeda perguntou nervoso.

- Estava tudo bem - menti devido ao pedido da mãe de Eve e logo a seguir espirrei - ela é bem simpática, tal e qual o avô, agora foi descansar não se preocupe. - passei-lhe a mão pelo ombro confortando-o e novamente voltei a espirrar.

Saí do balcão, voltando a olhar alguns CD's, foi quando olhei em volta e procurei por algo que me interessa-se. Quando digo algo que me interessa-se eu pensava em música e não em um rapaz que continha o cabelo curto, parecendo recentemente cortado, continha uns caracóis claros e perfeitos que nem mesmo se tentasse fazer com alguma máquina ou até mesmo no cabeleireiro nunca sairiam tão bem, usava uma casaca de cabedal como a minha e por momentos pensei que fosse a minha alma-gémea por estar a usar algo tão parecido com o que eu tinha vestido. Mas foi quando percebi que o indivíduo estava demasiado importado com um dos discos de vinil dos Ramones, que por ter a assinatura dos integrantes estava pendurado na parede encaixilhado num quadro.

O pior estava para vir, o jovem com as suas mãos, que por sinal eram gigantescas, pegou no quadro e o senhor Almeda ao perceber o movimento do mesmo gritou:

- Rapaz!! Pousa isso onde estava!

Pela loja estar tão silenciosa, ao ouvir o berro o indivíduo assustou-se deixando cair o quadro com o disco só se podendo ouvir o estrondo no chão.

Como era de esperar comecei a gargalhar (por me rir sempre em situações inapropriadas) e nem com a mão à frente da boca o som era suavizado, pelo contrário isso fez com que o rapaz se aproximasse de mim dando-me o prazer de poder ver o seu rosto, naquele momento tudo parou; parei de respirar, o som dos berros de o homem de idade (de senhor Alemeda), parecia ter sido reduzido. Contrariamente as minhas pernas ganharam vida, tudo o que fiz foi pousar o disco que tinha na mão na estante e corri para a porta despedindo-me do homem de idade.

- Adeus senhor Almeda, depois passo por aqui! - e fugi

Podendo então só em um dia presenciar dois dos meus extremos, o extremo da tristeza por ver Eve, uma miúda tão nova a ter uma doença que a iria marcar para a vida e o meu extremo da felicidade por ver um rapaz tão abençoado que por momentos pensei ser a minha alma-gémea.

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⏰ Última atualização: Sep 14, 2015 ⏰

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