Capítulo 02

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O sol da manhã penetrava nas persianas do quarto de hospital, criando faixas de luz que cortavam a penumbra da sala. Alisson Greene estava deitada na cama, os olhos semicerrados e a expressão vazia. Havia semanas que ela havia sido encontrada em uma caverna, mas os detalhes daquele período permaneciam uma neblina impenetrável para ela. Os ferimentos no corpo e a confusão mental eram os únicos sinais tangíveis do trauma que havia vivido.

As enfermeiras e médicos passavam com frequência, oferecendo medicamentos e fazendo exames. O médico-chefe havia dito que, fisicamente, ela estava se recuperando bem, mas a verdadeira batalha estava na mente dela. Alisson não conseguia recordar nada dos eventos que levaram ao seu desaparecimento, e isso a atormentava tanto quanto as feridas em seu corpo.

Naquela manhã, a porta do quarto se abriu com um rangido baixo, e uma mulher de estatura imponente e olhar penetrante entrou. Ela se apresentou como Cristal Sohomo, uma investigadora que havia sido designada para o caso de Alisson. Seu rosto exibia uma determinação rígida, como se estivesse decidida a extrair respostas a qualquer custo.

— Alisson Greene? — Cristal disse, com uma voz firme que não admitia dúvidas. — Eu sou a investigadora Cristal Sohomo. Precisamos conversar sobre o que aconteceu.

Alisson tentou se sentar, mas a dor e a fraqueza a impediram. Ela olhou para Cristal com uma mistura de confusão e medo.

— Eu... eu não me lembro de nada — Alisson respondeu, a voz fraquejando. — Não consigo me lembrar do que aconteceu.

Cristal se aproximou, seu olhar fixo em Alisson, como se esperasse que a verdade surgisse de algum lugar dentro dela.

— Então, vamos tentar refrescar a memória. Os detalhes são cruciais, e qualquer informação que você puder fornecer pode ajudar a esclarecer o que aconteceu naquela noite. — A investigadora continuou, seu tom implacável. — Seus amigos foram encontrados mortos na caverna. É essencial que você nos conte o que você sabe.

Alisson fechou os olhos, tentando afastar a dor crescente e a sensação de opressão. Ela queria, desesperadamente, lembrar-se de algo, qualquer coisa que pudesse ajudar, mas sua mente parecia uma folha em branco.

Antes que pudesse responder, a porta do quarto se abriu novamente, e um homem de meia-idade com uma expressão tranquila entrou. Era Dr. Steven Kwertz, o psiquiatra que havia sido chamado para ajudar Alisson a lidar com o trauma.

— Desculpe interromper, mas eu preciso conversar com a Sra. Greene agora — disse Kwertz, com um tom suave que contrastava com o de Cristal.

Cristal franziu a testa, mas se afastou para permitir que o psiquiatra se aproximasse.

— Podemos continuar essa conversa mais tarde — disse Cristal, antes de sair do quarto, lançando um último olhar significativo para Alisson.

Dr. Kwertz puxou uma cadeira e se sentou ao lado da cama de Alisson. Ele observou o estado de confusão e ansiedade dela com um olhar compreensivo.

— Alisson, eu sou o Dr. Kwertz. Estou aqui para ajudar você a entender e lidar com o que aconteceu — disse ele, tentando ser reconfortante. — Vamos começar devagar. Eu quero que você se sinta confortável para falar sobre qualquer coisa que esteja em sua mente.

Alisson assentiu, mas a sensação de desconforto era palpável. O psiquiatra começou com perguntas simples, tentando estabelecer uma base para a conversa.

— O que você lembra sobre o período antes do desaparecimento? — perguntou Kwertz. — Qualquer coisa, mesmo que pareça insignificante.

Alisson tentou se concentrar, mas as lembranças pareciam fugidias. Ela falou sobre o acampamento, os amigos, e o desentendimento com eles na noite anterior ao seu desaparecimento, mas as palavras saíam sem clareza, como um eco distante.

— É como se algo estivesse bloqueando as memórias — disse Alisson, frustrada. — Eu me sinto... perdida.

Dr. Kwertz acenou com a cabeça, compreendendo a dificuldade. Ele sabia que a mente de Alisson estava lutando para acessar as memórias escondidas, e o processo poderia ser mais complicado do que o esperado. Tentou algumas abordagens convencionais para ajudar Alisson a relaxar e se lembrar, como técnicas de respiração e relaxamento, mas nada parecia funcionar.

— Eu gostaria de tentar algo um pouco diferente, se você estiver aberta a isso — disse Kwertz, com uma voz calma. — Podemos usar a hipnose para tentar acessar memórias que estão bloqueadas. É uma técnica segura e pode nos ajudar a entender o que aconteceu.

Alisson olhou para o psiquiatra com uma expressão misturada de curiosidade e medo.

— Hipnose? — repetiu ela, sua voz tremendo. — Não é... não é algo assustador?

Kwertz sorriu gentilmente.

— A hipnose é simplesmente uma ferramenta para acessar as partes mais profundas da mente. Ela pode ajudar a revelar memórias e sentimentos que estão escondidos. Não é perigosa, e você estará no controle o tempo todo.

Antes que Alisson pudesse responder, a porta se abriu novamente, e a mãe de Alisson, ainda em choque e visivelmente abatida, entrou no quarto. Ela olhou para os dois, com uma expressão de preocupação e esperança.

— Estava ouvindo vocês — disse a mãe de Alisson, aproximando-se da cama. — Posso ficar? Eu quero estar aqui para ela.

Kwertz olhou para Alisson, que agora parecia ainda mais angustiada. O psiquiatra entendeu que o momento para a hipnose não era o ideal com a mãe presente e decidiu adiar a sessão.

— Claro, vamos deixar para outro momento. Alisson, podemos conversar mais sobre isso quando você estiver mais confortável — disse Kwertz, levantando-se.

A mãe de Alisson se sentou ao lado da cama, segurando a mão da filha, enquanto Kwertz se retirava do quarto, prometendo voltar em breve.

Mais tarde, em um ambiente sombrio e opressor, Cristal Sohomo estava na sala de conferências da delegacia, com uma mesa cheia de fotos espalhadas à sua frente. Um dos seus colegas, um homem de aparência cansada, entrou e se aproximou dela.

— Cristal, você precisa ver isso — disse ele, com um tom sério.

Ele colocou um conjunto de fotos na frente de Cristal, e ela as examinou com atenção. As imagens eram de restos mortais encontrados na caverna, claramente desfigurados e em estado avançado de decomposição. As expressões naquelas fotos contavam histórias de dor e sofrimento.

— Então, os restos encontrados são realmente dos amigos dela — disse o homem. — Precisamos entender o que aconteceu e por que ela estava lá.

Cristal examinou as fotos, seu olhar endurecido pela determinação de resolver o caso. Havia algo sinistro naqueles restos mortais, e ela sabia que a peça final do quebra-cabeça estava prestes a ser encontrada. Ela não iria descansar até que toda a verdade fosse revelada.

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