Contos da Meia Noite: Possuída

Capítulo 05

O relógio marcava três da tarde quando Cristal entrou na sala de interrogatório. Alisson estava sentada à mesa, os olhos perdidos no vazio. Do outro lado, Cristal depositou uma pilha de documentos e olhou diretamente para a garota.

— Eu vou ser bem direta com você, Alisson. As provas são esmagadoras.

Alisson manteve o olhar no chão, os ombros caídos, a mente nebulosa. A ideia de estar ali, sendo interrogada por algo que não conseguia lembrar, pesava sobre seus pensamentos. Sentia-se como uma espectadora de sua própria vida, incapaz de controlar os eventos que a cercavam. O espaço da sala parecia pequeno demais, sufocante.

Cristal deslizou as fotos pela mesa, uma por uma, como peças de um quebra-cabeça macabro que a investigadora queria que Alisson montasse. As imagens mostravam os corpos dos seus amigos, brutalmente assassinados, mutilados de formas que pareciam ter saído de um pesadelo. As marcas de mordidas, os membros dilacerados... era demais para Alisson suportar. Ela fechou os olhos, os lábios tremendo, enquanto seu corpo começava a tremer levemente.

— Olhe para as fotos, Alisson — insistiu Cristal, sua voz firme e fria. — Você precisa encarar o que aconteceu. Não adianta tentar fugir.

Antes que Cristal pudesse continuar, a porta da sala se abriu, revelando o Dr. Steven Kwertz, acompanhado por um homem de terno escuro, que segurava uma maleta de couro. O advogado, Michael Hemsley, entrou com passos decididos, dirigindo-se diretamente a Cristal.

— Detective Sohomo — começou ele, sua voz baixa, mas firme —, minha cliente não está em condições de continuar com esse interrogatório sem acompanhamento médico e aconselhamento legal. O que está sendo feito aqui é completamente inapropriado.

Cristal, irritada pela interrupção, ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.

— Estamos em uma investigação de assassinato, senhor...?

— Michael Hemsley — respondeu o advogado, sem hesitar. — Sou o representante legal da senhorita Alisson Greene. E, como já disse, ela não pode continuar aqui, especialmente nesse estado. Se insistir, eu tenho toda a intenção de entrar com uma ação judicial por abuso de processo.

Cristal bufou, o cansaço evidente em seus olhos. Ela já estava à beira do limite, cansada de não conseguir respostas claras sobre o que havia acontecido naquele acampamento. Ainda assim, manteve a compostura e respondeu:

— Você acha que pode simplesmente entrar aqui e nos impedir de fazer nosso trabalho? Estamos tentando descobrir a verdade sobre o que aconteceu com os amigos dela. A verdade que ela está claramente escondendo.

— Ela não está escondendo nada, Cristal — interrompeu o Dr. Steven Kwertz, dando um passo à frente. — Alisson está em estado de choque e não consegue acessar essas memórias conscientemente. Você a está pressionando sem ter ideia do trauma que ela está vivendo. Se continuarmos assim, você pode destruí-la emocionalmente.

— Ele está certo — concordou Hemsley, com uma leve inclinação de cabeça. — Este interrogatório precisa cessar imediatamente. Vocês estão violando os direitos de minha cliente, que já está em uma condição psicológica fragilizada.

Cristal estreitou os olhos e voltou-se para Alisson, que permanecia imóvel, o rosto pálido. Ela se aproximou da garota, inclinando-se sobre a mesa.

— Alisson, você não tem nada a dizer sobre isso? O que você se lembra daquela noite? — A voz de Cristal endureceu. — Por que seus amigos estão mortos e você é a única sobrevivente?

Alisson ergueu o olhar por um breve momento, mas logo desviou, incapaz de encarar Cristal ou as fotos à sua frente. Suas mãos trêmulas apertavam os joelhos com força, como se tentar manter o controle físico pudesse evitar que sua mente desmoronasse. Ela queria gritar, dizer que não sabia, que algo muito maior estava em jogo, mas as palavras não saíam. O terror estava travado em sua garganta.