O suave som do mar enchia os ouvidos, vindo de longe. Era como se o mundo inteiro estivesse em um silêncio profundo. Não haviam carros circulando, não haviam sons de vozes e nem ruídos de animais. Era como se o planeta inteiro estivesse adormecido e o agradável som das ondas quebrando fosse sua respiração. A Terra inspirava.
Mas, então, essa respiração foi se transformando em um lamurio de sofrimento. A paz tansformava-se em dor. E o suave som das ondas tornou-se uma extrondosa tormenta. Um incessante apito soava, como o som de uma sirene informando que a Terra estava sofrendo, e iria destruir àqueles a feriam: os humanos.
Foi aí que, Manuela, levou os olhos ao horizonte e viu o inferno de água se aproximando: o tsunami de 50 metros arrastava tudo que tocava em uma velocidade avassaladora. Ela não teve tempo sequer de cerrar os olhos. A água gélida a engoliu, juntamente com tudo o mais que existia.
Abriu os olhos. A adrenalina a fez saltar, mas o movimento rápido lhe fez sentir uma tontura e por pouco não a derrubou. O apito agudo do despertador soava incansável. Manuela piscou algumas vezes até se orientar. Era esse o apito que ouvira. Estivera sonhando.
Respirou fundo no intuito de aliviar o ritmo cardíaco e desligou o despertador. Passou as mãos no rosto, ainda um pouco trêmula, levou os cabelos para trás e resolveu que era hora de iniciar a rotina.
Após tomar seu café da manhã e se arrumar para o trabalho, se encarou no espelho. Os olhos verdes que ali refletiam lhe devolveram um olhar cansado. Suas madeixas ruivas estavam soltas, com ondas que caiam até abaixo dos ombros, intensificando a cor clara de sua pele e aquelas pequenas sardas que sempre odiou, as quais sempre tentava esconder com a maquiagem.
E, então, saiu de casa.
- Manuela, pode vir à minha sala, por favor? -a voz grave de barítono lhe falou pelo telefone sem fio.
- Sim, claro, senhor Gonçalves - ela lhe respondeu.
Desligou o aparelho e levantou. Rapidamente clicou para enviar o e-mail antes de caminhar nervosa em direção à porta do escritório que dividia com seus outros dois colegas. Estes lhes olharam questionado sua saída.
- O chefe me chamou - esclareceu, nervosa, principalmente por estar recém iniciando sua carreira na empresa.
- Vai lá, Manú, não deve ser nada. Não fica com essa cara de quem tá com dor de estômago - acalmou-a Romeu, o garoto moreno e alto, adivinhando suas preocupações.
Nessas curtas semanas no novo emprego, Manuela havia criado uma pequena amizade com Romeu, principalmente quando riu de seu nome quando ele o disse, mesmo sem ser sua intenção. Felizmente, ele não havia ficado irritado com isso, e riu da expressão que ela fizera quando percebeu a grosseria que havia cometido.
- É... - concordou Pedro, o rapaz mais baixo, sem muitas palavras, como de costume.
E, então, Manuela saiu apressadamente em direção à sala de seu chefe. Bateu à porta e ouviu a voz de Jonathan, o senhor Gonçalves, como Manuela o chamava, a convidando para entrar.
- Pois, não, senhor Gonçalves? - perguntou a um homem forte e começando a ficar grisalho, que usava uma camisa branca e calças jeans. Tinha um rosto quadrado de traços fortes em seus trinta e poucos anos. Diziam que havia herdado a pequena empresa de seu pai, que possuía vários pequenos negócios pelo país.
- Manuela, se continuar me chamando de senhor Gonçalves, vou começar a lhe chamar de senhora Ramos. Você sabe que gostamos de manter o relacionamento entre todos aqui informal, não sabe? - falou Jonathan com um singelo sorriso, exibindo duas covinhas adoráveis, enquanto se sentava em uma confortável poltrona enfrente a escrivaninha lotada de objetos decorativos, alguns papéis e o computador de trabalho.
- Sei, sim, senhor... Digo, Jonathan. - ela enrubesceu.
- Melhor assim! Pode se sentar, Manuela - disse-lhe, apontando a cadeira de couro negro, que é padrão em todos os escritórios, do lado oposto à escrivaninha, à sua frente.
Ela obedeceu prontamente ao seu pedido, sentando-se em silêncio e, logo que o fez, começou a balançar um pé inconscientemente devido ao nervosismo. Deixou as mãos descansarem, com os punhos tensos, sobre as pernas.
- Bem - disse Jonathan -, se está nervosa, pode respirar tranquila pois não tenho reclamações a seu respeito. Pelo contrário, gostaria de parabenizá-la pelo esforço e desempenho nessas últimas semanas. Você tem se saído melhor do que a encomenda - sorriu tranquilamente o homem, seu semblante bonito aparentando sinceridade e curiosidade. - Mas eu gostaria de saber o que você está achando: está satisfeita conosco?
Levou três segundos inteiros para Manuela ingerir a informação e entendê-la, sentir o alívio percorrer em suas veias transformando o medo em repentina felicidade, e então formular uma resposta.
- Nossa, eu estou gostando muito, sim! Todos são muito gentis - respondeu-lhe, abrindo um sorriso discreto.
- Que bom! Mas quero que você faça uma coisa por nós - sua expressão ao dizer isso foi divertida e enigmática.
A repentina alegria de Manuela esmoreceu um pouco e aquele nervosismo que havia ido embora, retornou. Seu chefe estava prestes a lhe pedir que fizesse alguma coisa pessoalmente, e, então, se ela não o fizesse perfeitamente, seria como andar com um outdoor pairando sobre sua cabeça com uma palavra escrita em letras garrafais: INCOMPETENTE!
- O que é? - perguntou, incerta.
- Anualmente há um evento de publicidade, onde são expostos ao público várias ferramentas novas de trabalho, técnicas inocadoras e novos estudos para aplicação na área, entre outras coisas que visam o aperfeiçoamento e inovação dos profissionais. E nossa empresa, que está crescendo muito, e atua nessa área, deve estar presente. Eu sempre levo alguém e, dessa vez, acredito que você deva ir comigo - explicou Jonathan tranquilamente, encostando as costas na poltrona e observando o rosto de Manuela.
- Ah, eu gostaria muito de ir! - respendeu - Que dia será?
- Na semana que vem, no domingo pela tarde - ele sorriu mais uma vez.
- Pode contar comigo! - exclamou.
- Ótimo, então, por hora, você está liberada. Depois combinamos os detalhes!
- Certo - disse Manuela sorridente, e se levantou.
E assim, o resto do dia de trabalho passou rapidamente.
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Um Novo Lar
Science FictionVeja bem: inúmeras teorias foram criadas no intuito de dar a humanidade respostas sobre o início do universo, sua dimensão e a existência de vida inteligente fora do minúsculo grão de areia que chamamos de lar, a Terra. E outras inúmeras teorias ain...