8-Como eu fui recebido no ''outro lado''

75 0 1
                                    

Depois da batida da moto no muro, eu me desesperei. Vi meu cabeça toda arrebentada, meus miolos, sangue para todo o lado. Eu não queria acreditar... Era o fim.

Fiquei meia- hora no local do acidente, quando uns seres de branco, com olhos como chamas incandescentes vieram me buscar. Eu fiquei feliz... oba, se estão de branco, vão me levar para o céu.

Eu não era católico, nem evangélico, não seguia nenhuma religião. Mas acreditava em Deus.

Perguntei para os seres de luz: Vocês vão me levar para o céu?

Eles nada responderam. Eram dois seres, não argolas na cabeça nem asas. Um dos seres tinha a aparência de uma mulher idosa,de cabelos brancos, voz muito agradável. O outro ser parecia uma menina de uns 7 ou 8 anos.

Os anjos, acho que eram anjos, me levaram para uma salinha bem pequena. Disseram -me que eu tinha que passar por uma entrevista. Falei : ''Já tô morto mesmo, pode perguntar o que quiser."

Mas eu também tinha minhas perguntas.

Pensei que os anjos iam ler um relatório de todos os pecados que cometi em vida. Eu cometi alguns pecados. Mas não, eles perguntaram:

- Marcos, como você está se sentindo? -Falou o anjo que parecia uma mulher idosa.

-Falando sério, coroa....-aqui pode falar gírias?- perguntei ao anjo.

-Pode. Expresse-se naturalmente como fazia no mundo dos vivos.

-O bagulho é o seguinte, estou meio atordoado... assustado... ainda não caiu a ficha.

-Isso é normal após a morte de um jovem apegado demais a vida e as coisas materiais.

- Qual é o seu nome?- perguntei ao anjo?

-Meu nome é Reflexus.

-Sua mãe botou um nome horrível em você. Ih, falei m..., não me mande para o inferno. Me desculpe!

Sempre gostei de zoar os colegas de trampo, alguns colegas de classe, mas zoar um anjo é demais.

Eu estava com muito saudade de casa, tava doido para abraçar a minha coroa e ver a minha amada Cíntia. Não sabia se pedia permissão para sair da salinha e ir visitar a minha família. Peço...

-Eu gostaria....

-Gostaria de quê? - disse Reflexus me olhando de um jeito sério.

- Gostaria de ver a minha mãe. Posso vê-la agora?

- Poder pode. Mas não deve. Ele está chorando. .. Sofrendo muito...

-Tudo bem, não vou agora.Melhor dar um tempo para ela, acho que minha presença no enterro e perto dos meus entes queridos aumentará o meu sofrimento e o sofrimento deles.

Decidi não ir ao meu sepultamento. Conversei com Reflexus um bom tempo, mas aqui o tempo não existe. Não há relógios, nem calendários.

Tem uma tela no seu quarto - disse Reflexus - através dela você acompanhará o seu enterro.

- Vou ficar sozinho no quarto- perguntei.

-Não. Terás um companheiro de quarto. Ele chegou um pouquinho antes de você.

O Anjo me conduziu a um pequeno quarto, eu teria agora meu primeiro amigo na morte.

O nome dele era Cláudio. A primeira pergunta que eu ia fazer era : ''Como você morreu?"

Cláudio era bem falante. Ainda conservava a aparência terrena. Assim como eu. Mas não temos mais corpo. É apenas como um holograma, uma projeção.

Cláudio era um senhor, aparentando uns 60 anos. Tinha aparência sofrida.

Começamos a falar. O nosso assunto preferido sempre aqui é falar da morte.

-Oi, Cláudio, sou novo aqui. Na verdade, acabei de chegar - disse tentando começar uma amizade.

-Seja bem-vindo, a sua nova vida, quer dizer... sua nova situação.

-Ainda não caíu a ficha, velho... Ih, desculpe... não quis ofendê-lo. É apenas uma gíria.

-Sim, os jovens falam assim mesmo, já fui jovem, foi pedreiro, me casei, tive quatro filhos mas...

-Mas caí de um andaime... apenas 10 metros de altura ... morri um dia antes de fazer 61 anos.

-Noooooooosssaaaaaaa, muito trágico- disse Marcos- mas pior foi a minha morte. Posso contar?

-Conta, estou curioso para saber como foi que você morreu. Também morreu trabalhando?

- Não. Morri de um acidente de moto. Eu voava na minha Yamaha.

- Vocês jovem sempre exagerando, bebendo demais, usando drogas ou voando em uma moto.

-Verdade. Eu achava que eu era safo. Minha coroa e minha noiva me deram um milhão de conselhos.

-Mas não adiantou nada, né? - disse Cláudio- se você ouvisse demoraria mais tempo para vir para o Além.


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Queridos leitores,estão gostando?

Mandem seus comentários.

Não está fácil escrever esta história.

Não percam o próximo capítulo: ''O MEU SEPULTAMENTO''.



O dia em que morriOnde histórias criam vida. Descubra agora