Quando chegaram em casa, Adelaide apresentou à Ayla seu novo quarto, que era o antigo de Amélia, sua filha.
A garota logo sentou-se na cadeira em frente a um espelho, ali tinha uma especie de penteadeira improvisada.
A velha desembaraçava seu cabelo com uma escova larga.
─ Você tem o mesmo nariz da minha filha. Sabe, você me lembra ela. Era linda...
─ ''Era''?
Olhares confusos, perdidos em vários lugares do quarto. Finalmente o silêncio foi cortado:
─ Teodoro, era o nome dele. Me abandonou quando Amélia tinha três anos, fugiu com um circo. Conheceu uma trapezista, ou sei lá o que a mulher era, e se apaixonou. Quando me largou, adivinha só? Disse que a amante estava grávida de alguns meses... Não foi de todo o mal... Eu estava cansada dele, não entendo como pude me entregar. Às vezes, fazemos más escolhas. Mas mesmo tendo sido a pior coisa que apareceu na minha vida, Teodoro me deu a melhor, Amélia. Me apaixonei por ela, por meu maior tesouro. Mas não tinha como alguém não se apaixonar, não amá-la. Se a conhecesse, entenderia ─ sorriu com lágrimas nos olhos e entendeu que a menina sabia exatamente o que precisava dizer: nada.
No silêncio da noite, Ayla abriu os olhos e percebeu estar em um lugar diferente, um jardim ilhado pelas águas de uma cachoeira próxima. Já havia estado ali, sabia. Tudo parecia muito real, sua cabeça doía, caiu no chão. Ao levantar seus olhos, percebeu estar ofegante no chão do quarto.
Se levantou e foi até a janela.
Um buraco vazio, era o que sentia dentro de si. Almejava preenchê-lo, saber de onde vinha, para onde tinha de ir. Por que estava ali? Por que não se lembrava de nada, exceto aquele garoto? Sim, o conhecia, mas onde já o vira? Por que ele também não se lembrava dela?
O céu estaval azul marinho, com algumas estrelas. Obsevando-as, se esquecera que o tempo existia e quando piscou percebeu que no lugar da lua, agora estava o sol. Já era manhã.
Pensando sobre o que sonhou ─ ou foi uma lembrança? ─ tentava ligar, de alguma forma, a cena que veio em sua mente quando ainda estava na casa de Maurício.
Sentiu uma pequena ardencia nas costas, passageira. Lembrou-se do aconteceu com ela, mas logo balançou sua cabeça e se concentrou no que Adelaide falava enquanto estavam sentadas na mesa, tomando seus cafés-da-manhã.
─ Você quer ir junto comigo pro trabalho?
─ Adoraria ─ respondeu de boca cheia e a sua nova amiga riu.
Ayla desviava de camponeses que corriam freneticamente empurrando carrinhos, tentava seguir Adelaide. Assim era o centro. Louco, corrido. As pessoas que se movimentavam ali pareciam estar ocupadas, atrasadas, desconfiadas. Queriam correr contra o tempo. Ah, se pudessem destruir todos os relógios que havia na Terra para poder ter, pelo menos, um segundo de sossego.
Aquela multidão suada a incomodava, não pelos pingos quentes que corriam de suas testas por causa da temperatura ─ que nem estava assim tão quente assim ─ ou pela euforia, não sabia dizer realmente o que era. Mas nunca sabia, porque não se lembrava de nada. O que já começava a incomodá-la.
Uma mulher esbarrou em seu braço, levava um bebê colado ao corpo. Agonia. O menininho dormia, tão sereno e calmo, ignorando o mundo ao seu redor. Podia sentir a energia tranquila dele, teu sono adorável. A mãe queria protegê-lo, mas quem pode estar a salvo num mundo como o nosso?
Depois de andarem muito, chegaram à uma biblioteca. Era antiga e velha mas com um ar aconchegante, apesar do cheiro de poeira que, de primeira, fez a menina espirrar.
─ Adelaide, até que enfim! ─ uma mulher gorda, com um chapéu enorme de penas rosas e um vestido preto com bolinhas brancas interrompeu a conversa ─ Por que demorou tanto? E… Quem é essa? ─ olhou a menina de cima à baixo.
─ É minha sobrinha, Bernadete ─ mentiu ─ Ela poderá nos ajudar. Estamos precisando de alguém para organizar os livros e os arquivos, tudo está uma bagunça e ela poderá fazer isso.
─ Ela tem alguma experiência? Temos a maior biblioteca dessa cidade, pelo nosso acervo de livros, não podemos contratar alguém que nunca tenha feito nada parecido antes.
─ A maior e a mais bagunçada, certo? Fique tranquila, ela cuidará de tudo. Eu garanto! Ponho a minha mão no fogo por ela.
─ Adela, você não precisa fazer isso ─ Ayla sussurrou.
─ Isso o que?
─ Colocar sua mão no fogo por mim. Vai arder.
─ Não leve as coisas tão literalmente, menina.
─ Já acabaram os cochichos? Preciso de alguém competente aqui. Temos tanto trabalho a fazer e vocês ficam de conversinha. Isso não é nada profissional, fiquem sabendo! ─ Bernadete falou e bateu o pé, depois foi para atrás de um balcão. Adelaide foi para o outro lado da biblioteca, preenchia algumas fichas e Ayla continuou parada ─ O que você está esperando?
─ Você me dizer o que fazer.
─ Vá até o porão, lá tem muitas caixas ─ falava séria ─ Dentro delas tem muitos papéis e documentos, organize tudo.
─ Como?
─ Por data.
─ Como a senhora quiser…
O porão era escuro, com dezenas de caixas, livros, materiais espalhados, alguns móveis velhos e um lustre empoeirado no teto.
Sentou-se próxima a umas folhas e começou a lê-las, mas por mais que as lê-se e relê-se, continuaria sem conseguir interpretar o que estava impresso naqueles papéis, amarelados por conta dos anos que se passaram, seus pensamentos estavam longe. Uma sensação de que havia algo intalado em sua garganta a impedia de prestar atenção.
Aviso:Ei gente! Bom, eu quero dizer que A queda é uma história que estou reescrevendo, e tenho tomado o risco de mudar várias partes e acontecidos, quero tomar cuidado pra não mudar a direção do final, mas se eu precisar, em algum momento, refazer uma parte, peço que me desculpem. Não tenho postado ou escrito mais, porque sou irresposável e perdi meu caderno com minhas histórias, assim que achar, volto a publicar. Prometo tentar achar logo! E obrigada por estarem acompanhando até aqui, é muito gratificante!
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A queda.
RomancePerdida entre o céu e a terra, entre pensamentos e buracos vazios de lembranças, com um peso negro sobre suas costas. É assim que Ayla caminha, ou tenta, em busca de suas raízes, impedida de ter um futuro por não saber de seu passado. Mas sua mente...