ACORDO

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Terça-feira, dia 3 de Novembro, 20:17, parque Ibirapuera.

Marjorie:

Eu suava em bicas. O meu shorts de lycra estava quase entrando no meu corpo por osmose, e a minha camiseta masculina, branca e velha, estava transparente de suor. As minhas pernas queimavam e os meus pulmões trabalhavam em dobro.

Cara, aquilo era bom.

Um dos meus maiores vícios era correr. Eu corria todos os dias no mesmo lugar, no parque Ibirapuera, um pouco longe da minha casa, mas bastante amplo e cômodo para as minhas necessidades. De terça-feira eu só corria uma hora, e já havia ultrapassado 17 minutos do meu tempo, então resolvi parar quando percebi que os meus músculos não queriam mais me obedecer.

- Chega - eu ofeguei comigo mesma.

Joguei-me em um banco de concreto e retirei uma garrafa de água de dentro da mochila. Depois, tirei os fones de ouvido, que já estavam machucando as minhas orelhas, e fechei os olhos, sentindo a brisa esfriar o meu rosto e corpo.

Tudo estava quieto.

Paz.

- Finalmente! - eu abri os olhos assustada, dando de cara com ninguém mais ninguém menos que Thomas Rosemberg. - Você sabia que esse parque é imenso? Estou há quase uma hora te procurando!

Inferno.

- Você está me seguindo, por acaso? - eu perguntei, procurando algo para fazer sem que precisasse olhar para a cara dele, exclusivamente por dois motivos: a) eu não gostava dele e b) ele era muito bonito. Afinal, eu tinha 17 anos e nenhum controle sobre os meus hormônios. Então apenas coloquei as minhas pernas em cima do banco e comecei a desamarrar e amarrar os meus cadarços.

- Tecnicamente eu somente forcei esse encontro, o que não seria exatamente "seguir" - ele explicou, sentando-se ao meu lado, pegando a minha garrafa de água e tomando um gole, tudo isso sem pedir autorização. - "Seguir" seria alguma coisa mais o que você fez comigo hoje de manhã.

Eu revirei os meus olhos. Será que ele pensava que o mundo girava em torno do seu próprio umbigo?

- Eu não segui você - eu me defendi. - Eu estava procurando o meu isqueiro da sorte, que deixei cair ontem no meio dos arbustos, e vi você estilizando a sua irmã. Ótimo olho para as roupas, aliás.

- Você fuma? - ele perguntou, ignorando a minha cutucada.

- Sim... - eu admiti, porque sabia que era um péssimo hábito.

- E como consegue correr como eu te vi correr agora mesmo? - ele voltou a perguntar.

Aquela era uma ótima pergunta.

- Prática - eu respondi, dando de ombros. - Você vai me dizer porque está me seguindo, ou não? Eu ainda preciso voltar para casa, tomar um banho, jantar e terminar o trabalho de história, que você provavelmente nem sabe da existência.

- Eu não te segui! - ele exclamou, ofendido. Soltei uma risadinha, achando graça na sua indignação, mas logo fiquei séria novamente; do jeito que Thomas era, podia pensar que eu estava lhe dando mole só por rir da cara dele. - Eu perguntei às suas amigas onde eu poderia te encontrar. Pelo menos elas são simpáticas.

"Malditas", eu pensei.

- Uns amores - eu disse, de fato. - E por que você queria me encontrar?

Ele pegou a minha mão e eu dei um pulinho, escorregando uma das minhas pernas para baixo. Eu olhei para ele, cabelo no rosto, uniforme do colégio desalinhado e um sorriso idiota na cara.

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