CAPÍTULO 1

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- Os adolescentes são simples: ou esta sendo felizes demais ou estão sendo tristes demais. Mas poucas pessoas entendem isso.

Foi assim que começou a primeira palestra do ano no meu colégio. Eles tinham isso de chamar um profissional no mês de aréas diferentes para sabe, você se indentificar e decidir o que ser quando "crescer".
Quando o palestrante disse isso, eu me perguntei o que eu era. Eu não sabia se era feliz ou triste, nem o nome que se dava para alguém que não sabe o que sente. Normal, talvez? Tive vontade de levantar a mão e perguntar, mas assim como eu ele poderia não saber e eu não queria deixar ninguém constrangido.

- Vocês não tem noção de quantos jovens eu encontro depressivos, jovens que estão conectados 24 horas e que vão conferir os celulares antes mesmo de abrir os olhos.

Enquanto alguns riam do que deveria ser uma piada (mas era pura verdade), comecei a pensar no que esse senhor tinha acabado de falar. Não sobre celulares, isso era mais que claro já que todos estavam com seus celulares nas mãos, alguns passando mensagem provavelmente marcando algo depois que aqui acabasse. Não, eu estava pensando na depressão.
Os médicos dizem que os sintomas depressivos são baixa autoestima, tristeza, pessimismo e outras coisas mais. Antes, eu me perguntava até que ponto uma pessoa precisaria aguentar até se tornar depressiva, quantas coisas precisaria guardar dentro de si até não sobrar espaço. Hoje, eu mais do que ninguém sabia disso.
Sempre tive comigo que todos deveriam ter algum tipo de cais, um lugar seguro para ficar enquanto tudo ao seu redor desmorona. Mas eu não sou muito boa em explicar isso já que não tenho uma pessoa, muito menos um cais.

- Não estou dizendo que seja ruim ter acesso a várias informações, claro que não. Mas vocês não usam isso à favor. Se eu perguntar sobre redes sociais todos aqui vão saber. Mas, e se eu perguntar sobre acontecimentos históricos?

Bingo! Finalmente alguém percebeu a verdade de que estamos ficando todos burros e alienados. O fato é que com esse avanço da informática ninguém mais se olha nos olhos, ninguém mais se fala ou se toca. Ninguém mais se conhece de verdade.

- Vocês conhecem gente do mundo inteiro, menos as que moram na mesma cidade que vocês. Vocês conhecem lugares incriveís, menos do seu estado. Será mesmo que vocês estão vivendo? Isso pra mim não é viver, e sim existir. Vocês inventam problemas aonde não tem, se apaixonam por quem nunca viram e aí sofrem por essas mesmas pessoas que vocês nunca viram. Ficam mal por coisas que só existem na cabeça de vocês, dão ouvidos aos seus próprios fantasmas, e acabam se tornando um deles. Agora, me digam: isso é realmente viver?

Viver. Qual é o sentido dessa palavra, afinal? O que é viver? Estudar, trabalhar, casar, ter filhos. Seria isso viver? Acho que ta mais para obrigação. Bom, eu não sei o que é viver mas assim que eu souber vou fazer questão de contar à todos e quem sabe assim salvar os humanos.

- Fiquei enrolando vocês por duas horas, para dizer isso: vivam. Saiam, conheçam pessoas novas, lugares novos. Se conheçam enquanto ainda existe tempo.

Esse cara me tirou de casa só para me dizer que a humanidade está uma merda? Só para dizer tudo o que eu já sabia e dar um conselho de auto ajuda, sem ao menos dizer que isso é só uma fase rebelde de todas essas pessoas? Ele só pode estar de brincadeira.
Estava arrumando minha mochila pensando no tempo em que eu perdi, quando alguém tocou no meu ombro. Quando me virei e vi aquele rosto estranho (no sentido de desconhecido), não soube o que falar.

- Desculpa incomodar, é que você é a única que ficou aqui. Será que você poderia me dizer aonde fica a cafeteria?

Olhei ao redor e percebi que todos já tinham mesmo ido embora, e que eu era a única ainda sentada. Como sempre.

- Ahn, claro. Na verdade eu estava indo pra lá agora mesmo. Sei lá, se quiser que eu te leve lá e tal.

O que deu em você mulher?! Ele pode ser um estuprador ou um psicopata.

- Claro. Seria ótimo.

Me levantei e fomos caminhando lado a lado e em silêncio. Eu nunca o tinha visto nem no colégio nem em lugar nenhum da cidade - não que eu saísse muito, mas tudo bem - e a curiosidade estava gritando dentro de mim. Por sorte a cafeteria não era tão longe então logo chegamos.

- Bom, aqui está a cafeteria.
- Obrigado.
- De nada. A gente se vê por aí, acho.

Me virei para ir embora quando o ouvi me chamando.

-Oi?
- Você disse que também estava vindo pra cá. Não quer tomar um café comigo?

Não costumo andar com estranhos e nem tomar café com eles, um exemplo do velho "não converse com estranhos" que meus pais me ensinaram. Por isso não me recomeço quando respondi dizendo que sim.

Quando ele se foiWhere stories live. Discover now