CAPÍTULO 01

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MICAELLY

No abismo

Sinto que meu mundo desabou por completo e é exatamente no abismo que me sinto nesse momento. Sem alguém para me ajudar, para fazer com que eu siga em frente, estou no completo desespero. Mas mesmo sem forças, sei que preciso prosseguir, dar um rumo a minha vida, esquecer o que aconteceu, deixar tudo no passado e seguir adiante.


Apoiando a testa no vidro da janela do avião acompanhei conforme ele saía do chão, estava deixando para trás não apenas a cidade onde nasci, mas também o meu passado. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, com as costas da mão a sequei, ignorando como alguns passageiros olhavam em minha direção. Precisei me forçar a não abaixar os olhos. Sempre odiei a pena, ninguém merece que sintam pena.

- É por essas e outras que vou embora daqui - murmurei baixinho colocando um cacho do meu cabelo negro atrás da orelha.

Olhei pela janela, mas nem via nada, meu olhar estava perdido, meu pensamento estava longe, tentando talvez encontrar uma solução de como eu iria fazer quando chegasse ao Rio de Janeiro, uma cidade tão grande, sem conhecer ninguém, um lugar bem diferente da pequena cidade do interior de onde vim, onde todos se conhecem e onde vivi até agora. Somente a ideia me cansou, fechei os olhos tentando voltar a dormir. Morava no fim do mundo e agora iria para a civilização.

-Com licença.

Ergui o rosto e abri os olhos para ver quem falava comigo. Franzi o cenho, ao ver um senhor de terno.

-Sou o Dr. Lerman. - ele me disse estendendo a mão.

Educadamente aceitei o gesto.

-Micaelly Ferraz.

Ele, ao contrário do que pensei, não parecia espantado.

-Eu sei - respondeu dando um pequeno sorriso. - Ouvi quando falou lá na agência que estava se mudando, sou sócio do seu antigo patrão e estava no escritório quando você foi pedir a sua demissão - ele colocou a mão no bolso do terno e tirou um pequeno cartão de visita - Meu filho se mandou e me deixou na mão, um irresponsável. Se concordar, gostaria de marcar uma reunião com você depois que chegar ao Rio e estiver instalada, estou precisando mesmo de alguém de confiança, com experiência para me ajudar por lá.

Pisquei os olhos atordoada. O nome finalmente havia entrado em minha mente. Lerman's é uma empresa de publicidade conhecida internacionalmente, e sim, eu o vi sentado no escritório quando fui lá pedir a minha demissão. Onde estou com a cabeça?

-Claro, será um prazer. Fico muito lisonjeada.

Ele assentindo se afastou de mim. Eu permaneci parada, encarando o senhor e ao me virar para a janela um sorriso bobo se desenhou em meu rosto, ao pensar que talvez aquela fosse a chance que eu tanto precisava para recomeçar.

Chegando ao aeroporto, fui logo pegando as minhas malas e indo para a fila de táxi. Puta merda, e que fila, lá no interior nem fila de táxi tinha, ficavam uma meia dúzia de carros parados em frente á minúscula rodoviária. Fazer o que, bora esperar chegar a minha vez, quem sabe dou sorte e divido um com alguém. De preferencia que seja com uma mulher, ouvi falarem tantas coisas sobre os perigos da cidade grande que estremeço só de pensar.

Uma hora depois, consegui pegar um táxi e chegar ao hotel que eu ficaria hospedada. Não era um cinco estrelas, mas até que era bem arrumadinho. A fachada é branca, com toques de um verde lindo, e tem 4 andares. Há! O hotel se chama Brisa. Bizarro? Não acho. Até que gostei, combina com o Rio.

RECOMEÇAROnde histórias criam vida. Descubra agora