Capítulo 1

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Como Emmett e papai já tinham cuidado de tudo para o velório e funeral eu fui tomar um banho e vestir algo. As pessoas logo começariam a chegar.

Desci e sentei no sofá. Tentei evitar a cozinha. Alice e Rosálie estavam lá.

-Bella!

-Oi tio Carl! -O abracei e ele notou meu desconforto.

-Sinto muito por Renée.

-Obrigada.

Falei com Esme que me esmagou num enorme abraço. Ela chorava.

Renée e Esme tem sido amigas desde as fraldas. Então, entendo a dor.

Edward, Emmett e Jasper sentaram no sofá da frente.

-Bella, o que anda fazendo da vida? -Jasper perguntou tentando amenizar o clima tenso.
-Eu sou médica. Neuropediatra.

-Que legal! Nem nos avisou isso, maninha! -Emmett falou tentando uma aproximação.

-Nossos pais sempre souberam. Eles foram a formatura.

-E eu não.

-Eu não queria você lá.

-Ainda isso! Bella, nós éramos adolescentes idiotas que levavam mais em conta o que os outros diziam do que o que verdadeiramente sentíamos! Por favor, esqueça isso e nos perdoe! -Edward falou.

-Para quem dá o tapa o esquecimento é fácil. Para quem apanha a marca fica ali o lembrando de tudo. -Falei e levantei. -Vocês acham que foi fácil? -Falei finalmente desabafando. -Alice fez uma festa de aniversário e eu não fui convidada! Logo eu que ela sempre procurava quando precisava de alguém para conversar! Naquele dia eu entendi. Enquanto eu era a pirralha que estudava numa escola diferente, a gente podia ser amigo e ser vistos juntos. Mas, quando as pessoas me viram com vocês vocês sentiram vergonha de mim! Passaram a me evitar e até jogar na Ângela sobre mim com a desculpa que tínhamos a mesma idade e que ela não devia ficar sozinha. Sempre íamos a lugares em que as pessoas não tinham conhecimento e então podíamos ficar juntos. Ninguém veria! Sabe o quanto me dói? E dói duplamente! Emmett é meu irmão e fazia isso. Depois disso eu me isolei de vez. Primeiro eu emagreci. E não de forma saudável. Eu desenvolvi bulimia. Porque eu achava que tinha que ter o corpo de Rosálie e Alice. Depois, passei a tomar bomba! Anabolizantes. Porque queria um corpo escultural. Até que eu fui internada e notei que vocês não valiam a pena! Eu desconfio até da minha sombra!

-Bella nós erramos e passamos anos e mais anos nos julgando e nos culpando por isso. -Edward falou. -Eu principalmente!

-Do que você tá falando?

-Estou me referindo ao fato de ir contra o que sentia por você pelo que os outros pensavam! Eu sempre fui louco por você, mas, me calei como um puta de um covarde!

Ri sem humor e isso pareceu surpreender todos eles.

-Amor? Isso não existe. É só uma desculpa fajuta para cometer erros e ter direito a perdão. Eu vou subir.

Subi para meu antigo quarto e tranquei a porta. Tudo estava como eu deixei.

Por mais que eu quisesse muito obrigar meu coração a não reagir desta forma, ele estava acelerado. Saber que...

Não idiota! Ele não te ama! Isso não existe!

Depois de lavar o rosto e retocar a maquiagem eu desci novamente. Agora em minha postura fria. Apenas para meu pai eu dava espaço.

Ângela apareceu e conversamos um pouco. Ela se formou em direito e se casou com seu amigo da faculdade. Agora está esperando seu primeiro filho.

-Vem comigo.

Edward me puxou pelo braço. Eu quase sai de perto, mas, ninguém ali merecia uma ceninha. Muito menos meu pai.

Chegamos ao meu quarto e ele trancou a porta.

-Olha...

-Não! Olha você! Éramos uns merdas inconsequentes, mas, aprendemos com nossos erros. O maior deles foi machucar você. Eu não quero seu perdão. Se não o quer dar de forma sincera Então foda-se! Mas, nenhum de nós sofreu mais que Emmett! Nem mesmo você! Foram anos seus pais o culpando por não ter você aqui! Anos e mais anos! Emmett tem pesadelos todas as noites em que ele praticamente implora por seu perdão e você o rejeita! Renée morreu o culpando por você não estar ao lado dela em sua doença. Você sabe o que é isso?! Carregar o peso da rejeição da sua mãe no momento da morte dela?! -Ele falou e eu engoli em seco. -Bella, eu sei o quanto erramos. Mas, você está sendo mesquinha e egoísta! E pior... Você sabe disso!

Ele saiu do quarto e eu desabei na cama. Chorei e chorei. Até que senti braços me envolverem.

-Shhh... -Tá tudo bem, irmãzinha.
-Não... Não está!

Senti seus soluços e o apertei mais em meus braços.

Eu fui injusta. Nesse momento nós precisávamos um do outro. E nosso pai, mais que qualquer um, precisava de nós dois.

Papai chegou e nós três ficamos abraçados por quase duas horas. Choramos juntos e nos agarramos ao restante da nossa família que sobrou.

Depois disso, tirando forças que eu nem sabia que tinha, desci indo para cozinha. Preparei café, chá e algumas outras coisas para quando as pessoas fossem chegando.

Emmett me ajudou e notei o pessoal mais aliviado com isso.

Eu havia perdoado Emmett, mas, não posso dizer que perdoei os outros. Mas, sei que vou tentar dar uma nova chance.

Às vezes eu questionava se eu não estaria sendo uma idiota egoísta. Porra, eles claramente se arrependeram!

Mas, lembro do modo como tudo aconteceu. De como eles só eram meus amigos às escondidas. Isso estava pesando na balança.

Afastei estes pensamentos e levei café para Charlie. Ele estava sentado na sua poltrona de sempre olhando um dos livros que mamãe sempre lia.

O Morro Dos Ventos Uivantes.

Eu mesma amava este livro por ela.

Entreguei o café e ele me sorriu fracamente.

-Perder alguém não é fácil. Quando você se foi para Londres, Renée e eu passamos semanas sendo uns bebês chorões. -Ele falou.

Engoli em seco a minha dor.

Perdi tanto tempo que poderia ter ficado perto dos meus pais. Agora, mamãe havia partido.

Éramos apenas Emmett, papai e eu. Contando com Rosálie, que agora é esposa de Emmett e parte da família.

Nossas vidas seguiriam a partir de agora. E eu realmente ainda não sabia o que esperar disso.

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⏰ Última atualização: Sep 26, 2015 ⏰

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