Prólogo

8.8K 305 98
                                    

06 de outubro de 2014

Lauren estava deitada sobre a maca e alguns enfermeiros, com pressa, a levavam para dentro de uma sala afastada de onde Camila estava de pé ao lado de Dinah e Apolo. Então, um médico alto e de aparência jovem entrou atrás deles e fechou a porta da sala. O Cabello-Jauregui mais velho foi em direção ao moço de uniforme branco, quando, às pressas,  soltou algumas perguntas embaralhadas. Tudo o que Camila podia ver era uma porta bege, com paredes brancas em volta. Ela não tinha como saber o que se passava ali dentro com Lauren e todas aquelas pessoas que, provavelmente, estavam ajudando-a a permanecer viva. A latina já estava acostumada com o hospital, afinal, desde que foi descoberto que Lauren Jauregui, sua esposa há 15 anos, estava com uma doença rara denominada "ELA", Camila passou a visitar o local com mais frequência. Ela e sua mulher já tinham passado naqueles mesmos corredores frios mais vezes que um senhor de 87 anos passou sua vida toda.

ELA. Ela estava tomando conta do corpo de Lauren. Definitivamente.

E não havia nada que Camila pudesse fazer.

E nem mesmo Lauren podia fazer algo.

ELA. Ela estava levando embora a única pessoa que Camila realmente lutou pra ter durante toda a sua vida.

ELA: Esclerose Lateral Amiotrófica. uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva, irreversível, de maneira limitante, sendo uma das mais temidas doenças conhecidas.

O médico, que havia entrado às pressas na sala, saiu dando à família de Lauren Jauregui a notícia de que ela havia sofrido uma parada cardíaca, mas que foi revertida a tempo e que agora ela estava sendo encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva para poder tentar se recuperar totalmente. E as pessoas ali presentes sabiam exatamente o que aquilo significava. Imediatamente, Camila que estava ali parada sentiu alguém mais alto envolvendo-a, por trás, num abraço carinhoso, mas com certa força, tentando confortá-la, mas conforto era a última coisa que ela conseguiria sentir naquele momento. Era Apolo. Um menino já com seus 13 anos; cabelos escuros bagunçados; olhos castanhos úmidos pelas lágrimas que não permitia que rolassem para poder ser forte pela mãe; pele morena; traços delicados, porém bem marcados; e o queixo estava apoiado no ombro de Camila, que não aguentou e deixou suas primeiras lágrimas escaparem ao notar que era o filho mais velho quem lhe abraçara. Levou as mãos até o rosto, tentando conter o desespero e o garoto apenas virou a mulher para si e ela escondeu o rosto na curva de seu pescoço. Ele, por sua vez, acariciou as costas da latina, recebendo em seu ombro as lágrimas de alguém que sabia que o fim de uma vida inteira estava próximo. Dinah, porém, não precisava mover um único dedo para transmitir à Camila toda a segurança que ela precisava.

- Nós estamos fazendo o melhor que podemos, Sra. Jauregui. - Joseph, médico que cuidava de Lauren passou calmamente as mãos sobre o ombro de Camila. - Ela vai ficar bem... Na medida do possível.

-J-Joseph? - a latina focou os olhos no do homem a sua frente e engoliu todo resquício de choro em sua garganta - Seja sincero, o estado de Lauren... O estado dela... Por favor me diga, não minta!

- Você sabe, já conversamos sobre isso muitas vezes... A doença vai piorando lenta -

- Diga logo! - Dinah falou sonoramente.

- Está ficando muito difícil para ela respirar sozinha... Creio que dessa vez ela tenha que ficar no hospital, Camila.

07 de outubro de 2014

As visitas à Lauren só foram liberadas no dia seguinte e Camila foi a única a vê-la. Apolo e Luna estavam na casa de Dinah desde a noite anterior e Camila preferia que continuasse assim. Ela não tinha forças para encarar a realidade sozinha, muito menos para explicar tudo o que estava acontecendo a sua pequena filha de 5 anos. Afinal, esse era o papel que Lauren sempre desempenhou; o de conversar com as crianças sobre os problemas que enfrentavam, tentando, ao máximo, fazer com que eles encarassem tudo com naturalidade e força. Na verdade, Lauren sempre foi a força dentro daquela casa. Lauren sempre foi o ponto de apoio, era ela que enxugava as lágrimas de todos e falava um sonoro "você consegue!" soar pela casa inteira, mas quem conseguiria falar e fazer isso pela mulher de olhos verdes?

Por mais que Camila viesse se preparando para esse momento por, mais ou menos, três anos, encarar uma Lauren deitada na cama, respirando com ajuda de aparelhos, tendo os batimentos cardíacos controlados a todo momento e com o olhar perdido pelas paredes daquele quarto sem graça fez com que toda a força que ela vinha criando se desfizesse. Assim que Lauren ouviu a porta sendo fechada, seus olhos procuram pelo lugar de onde vinha o som e, com certa dificuldade, conseguiu avistar sua esposa parada encarando-a. Seus olhos estavam fundos, os cabelos longos presos em um rabo de cavalo bagunçado e os traços do rosto indicando que ela havia dormido mal durante toda a noite. Mesmo com os olhos visivelmente úmidos, Camila sorriu. Aquele sorriso que não expressava a máxima alegria da mulher, aquele que indicava apenas que ela estava ali pela esposa. A que estava na cama, sendo monitorada por aparelhos e coberta por fios, abriu a boca, tentando, em vão, emitir algum som com sentido. Ela queria dizer que tudo ficaria bem, que não havia motivos para Cabello passar a noite chorando, como sabia que ela fizera, que lutaria para permanecer ao lado da família e, principalmente, que a amava.

As duas suspiraram juntas, cansadas de toda aquela batalha para que permanecessem unidas. Camila deu alguns passos até ficar ao lado da cama em que Lauren se encontrava, seus olhares se cruzaram. Aquela tão conhecida troca de olhares, que dizia muito mais do que se pode imaginar, que fazia qualquer palavra tornar-se pouco para expressar a intensidade do amor que aqueles verdes e castanhos transmitiam. Aos poucos a latina aproximou seus lábios da testa de sua amada e depositou um beijo parco. Camila engoliu em seco ao sentir as mãos tremulas de Lauren buscar pelo rosto de sua mulher.

- I'll be h-here, giving it my b-best shot baby. Your l-love's got all that I need. - A voz rouca saiu em um sussurro acompanhado de um pequeno sorriso. - C-cante.

-Here, crying from the rooftops, nothing can stop us if we believe. - Camila depositou outro beijo e deu um sorriso tênue. Ela não ouviu mais nada. O silêncio do ambiente se confunde com o barulho da cabeça. Para de pensar em uma coisa só e pensa em tudo ao mesmo tempo. O peito aperta, como se alguém estivesse pressionando as duas mãos em algo lá dentro. Os batimentos aceleram. O ar acaba e não há oxigênio que entre pelo nariz e saia pela boca que resolva o problema. Uma agitação incontornável domina o corpo da latina, que não responde, tentando se manter quieto como mecanismo de defesa. E aí, sem motivo, tudo passa. Estafa. E encarando aquele castanho tão intenso dos olhos de Camila, a mente de Lauren foi transportada para tantos momentos em que aqueles olhos transmitiam ora felicidade, ora tristeza, ora orgulho, ora medo... mas em todos os olhares de Camila sempre havia, por menor que fosse, um traço de amor.

Until The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora