Capítulo 1

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P.O.V Camila Cabello

Com uma certa dificuldade estiquei-me para fechar a janela, uma brisa gelada entrara no local. Afinal, Nova Iorque é uma cidade fria e eu não quero que Lauren pegue um resfriado logo agora que tinha saído da UTI e descido para os apartamentos - assim, ficando apenas de observação pelos médicos. Eu mantinha o sorriso no rosto, tinha que passar tranquilidade para minha mulher, olhei-a rápido e seu semblante era calmo. Quer dizer, na maioria das vezes era, de uns meses pra cá ela estava começando a ter dificuldades nos movimentos faciais. Mas bem, eu sei quando Lauren está bem ou não.

- Você quer que eu ligue a televisão? - Peguei o controle que estava por cima de uma mesa no quarto e balancei para Lauren - Aqui deve ter algum canal bom, eu acho.

- Eu quero. - Seus olhos não estavam mais focados em mim e sim na TV do apartamento - Amor? - Fiz um barulho com a garganta para que Lauren prosseguisse. Minha mulher olhou-me em desespero e eu fiquei agitada até perceber o sangue subindo pelo tubo do soro. Sem pensar duas vezes chamei por alguma enfermeira para trocá-lo. Entrou no quarto uma senhora branca, daqueles brancos que nem se usam mais, seu cabelo ruivo estava desbotado, precisa de uma manutenção, penso eu. A mulher falou algumas coisas com um sotaque, o qual deduzir ser texano, trocou o soro e logo saiu do local.

Soltei todo o ar que parecia estar preso há anos em meus pulmões, eu estava muito cansada... Na verdade, cansaço não é nada comparado a essa exaustão mental que estou sentindo. Minha atenção agora estava totalmente voltada aos olhos verdes de Lauren, que no momento pareciam ter sido tomados por uma alegria enquanto olhava para frente. Eu não precisaria nem olhar para televisão para saber que estava passando algo sobre natação, piscina, praia ou coisa do gênero... Michelle sempre foi apaixonada por isso, pela água. Ao checar a TV, percebi que estava certa, estava passando uma competição de natação escolar, deduzi.

- A-Amor? - A voz doce e baixa de Lauren me tirou do transe que estava - Lembra? A gente... - Balancei a cabeça com calma e engoli a saliva na boca para falar:

-A gente se conheceu em uma de suas competições....

FlashBack ON

Manhã de uma segunda-feira de verão de 1995. O sol brilha intensamente no céu azul sem nuvens, faz calor às nove horas da manhã, hora em que Normani e eu chegamos à Carrollton School of Sacred Heart, a escola em que estudamos em Miami. Seria mais um dia de aula, chato e entediante, mas para nossa alegria o turno da tarde teria alguns eventos esportivos

- Putz, que merda- Cruzei os braços e Normani, vulgo minha melhor amiga, fez careta irritada - Sabe... Eu não acho a mínima graça nesses esportes. Aqui devia ter eventos culturais também, sabe? Um pouco de Jazz, Ballet... Livros! Isso é uma escola e não um centro esportivo.

- Garota, para com isso, esporte também é cultura. Isso soou meio boçal da sua parte, ok? - Deu uns tapas leves em meu braço e virou-se para a professora novamente. Dei de ombros e voltei a rabiscar alguns versos no verso do meu caderno. Infelizmente fui atrapalhada pela minha professora de História, que tamborilava em minha bancada com seus dedos irritantes.

- Senhorita Cabello?

- Hum? - Disse fitando-a. - Gostaria de ler o que tem escrito aí? - Olhei para Normani e Ally que riam silenciosamente da minha cara de pânico. Óbvio, óbvio que eu não iria ler um dos meus poemas. Tomei fôlego e soltei:

- Desculpa, Sra. Pena, isso não vai se repetir. Talvez eu leia em um concurso de talentos. - Fechei meu diário e a professora me deu uma bronca com o olhar. Suspirei. E assim se passaram mais três aulas até chegar o turno da tarde.

A gente poderia escolher qualquer canto para assistir qualquer esporte. Allyson resolveu ver o namorado, Troy, jogar basquete. Já eu estava ouvindo Normani berrar em meus ouvidos para ir assistir o Polo Aquático junto dessa e de sua amiga, Dinah Jane.

- Okay, Mani! Vamos logo com isso, já que tenho que assisti mesmo - Ouvi o seu "YES" no ar.

- Me segue, a Dinah já está me esperando. - Segurou meus braços e saiu me arrastando pelos corredores do colégio. Dessa forma, poucos passos depois, entramos no complexo aquático e nos encaminhamos para a arquibancada, onde nos sentamos e pude observar as meninas na piscina em seus maiôs e com toucas de proteção, ambos na cor azul. Elas pareciam se divertir e gostar daquilo, mas pensei que eu jamais faria algo do gênero.

Não perdi meu tempo e peguei meu livro de história, na bolsa, para tentar acabar meu poema, mas escrever entre gritos de incentivo e aplausos de aprovação da torcida em volta de mim não me ajudava a concentrar. Por vezes, eu ouvia Dinah gritando um "Yes, Lauren!" e eu, desviando a atenção dos meus textos, perguntei-a:

- Como você sabe quem é quem lá?

- Se você vê algo estupidamente branco tocando na bola, pode ter certeza: é Lauren Jauregui. - Ela me respondeu e Normani caiu na gargalhada ao meu lado. Eu apenas sorri e olhei para o jogo. Realmente, tinha uma menina mais branca que as demais e presumi ser a tal Lauren que Dinah falava. Eu não entendia nada daquilo, por mais que me esforçasse. Uma bola passava de mão em mão e, às vezes, alguém tentava arremessá-la para o gol. Era isso que eu via, já que não sabia nem mesmo as regras do esporte. Enfim, decidi continuar acompanhando a partida, até que um árbitro apitou e o jogo acabou.

- Vamos, Mila? - Mani chamou-me e eu apenas levantei-me seguindo-a junto com Dinah. Nem me dei o trabalho de guardar nada, levei o caderno com uma caneta dentro e um livro nas mãos mesmo. Percebi que elas se dirigiam à região da piscina - que era separada da arquibancada apenas por uma grade. Em nossa direção, vinha uma das jogadoras.

Ela já não usava mais a touca, os cabelos longos e escuros estavam molhados e jogados um pouco para o lado. Água escorria por todo o seu corpo: descia dos ombros cobertos apenas pela alça do maiô, passava pelo tronco forte, a barriga que parecia bem definida mesmo sob o tecido e as pernas brancas, fortes, tão bem definidas quanto seu abdômen. Era até difícil acreditar que uma garota assim estudava na mesma escola que eu, e eu nunca havia reparado em tanta beleza. Nos lábios, ela trazia um sorrisinho triunfante, gabando-se pela vitória. Aproximando-se de nós, ela cumprimentou Mani e Dinah, mas pareceu não notar minha presença, até que minha amiga nos apresentou e ela voltou seu olhar para mim.

- Olá, Camila... - Ela falou estendendo-me uma mão em um cumprimento, que eu retribuí.

- É... Oi. - Foi tudo o que eu consegui responder, desviando o olhar para nossas mãos, notando que a dela estava até um pouco enrugada devido ao tempo que passou na água, que seu olhar ainda repousara sobre mim e que, no toque de nossas mãos, ela aplicava um pouco mais de força do que a ocasião pedia. Ela desfez nosso toque e sorriu gentil, me olhando como se pudesse ler qualquer coisa que eu pensasse no momento. Algo naquilo fez meus dedos do pé formigar e minhas orelhas esquentarem, como na primeira vez que eu tive uma paixão de infância.

Dei um passo atrás, enquanto Dinah puxava algum assunto com a menina. Entrei numa espécie de transe; as pernas queriam ceder, vagava tentando achar respostas para o que tinha acabado de acontecer, mas a nenhuma conclusão eu chegava. Talvez não tivesse mesmo conclusão a chegar.

- Camila? - Ouvi uma voz masculina me chamando e despertei daquela coisa que eu não sabia nomear. Virei-me para quem havia me chamado e deparei-me com Richard, o zelador da escola. Um senhor de meia idade, carinhoso com todos os alunos. Sorri para ele, que pareceu notar que eu não estava em mim segundos antes.

- Boa tarde! Seu pai está no estacionamento procurando por você. - Ele limitou-se a informar, sorriu e virou-se para voltar ao trabalho.

- Obrigada, Richard. - Respondi antes que ele estivesse longe o suficiente para não me ouvir. Internamente, agradecia a todas as forças do destino que levaram meu pai até ali naquele exato momento - É... hum... Meninas, já vou! - Normani me deu um leve abraço e eu saí correndo indo pegar minha bolsa. Avistei meu pai levemente irritado e comecei a andar rapidamente sem sua direção.

- Vamos, hija. - Apertou meu braço rapidamente e foi me guiando para fora - Estou atrasado para um reunião. - Balancei ferozmente a cabeça, concordando e andando.

Mas algo me fez olhar para trás. Meu livro de história rabiscado de textos clichês e dramáticos estava no chão, e quem estava prestes a pegá-lo era a garota de olhos verdes.

Céus, não!!

Flashback OFF

- Olá garotas! - A voz de Joseph invadiu o nosso quarto no hospital e eu levantei assustada.

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Until The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora