(Parte 2) Capítulo 4 - Ignorada

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Sábado de manhã e eu acordada desde cedo. Na verdade, acho que eu nem chegara a dormir. Fiquei a madrugada toda naquele estágio do sono em que se está dormindo, mas não completamente. O fato é que não consegui dormir por causa do ser que estava hospedado no quarto em frente ao meu. Depois do desmaio - causado por mim -, consegui carregar Justin até seu quarto, jogando-o sobre a cama. Antes de sair do quarto, verifiquei sua respiração e pulsação para ter certeza de que não o tinha matado, e assim o deixei lá, com a mesma roupa. Virei meu corpo na cama e me espreguicei antes de me levantar. Olhei para o relógio sobre o criado-mudo e suspirei mal-humorada por estar acordada às seis e meia da manhã, sendo que eu podia estar no vigésimo terceiro sono já que não teria aula.

Bufei e calcei minhas pantufas. Coloquei meus óculos e assim, deixei o meu quarto, indo em direção à sala. Peguei a frigideira e alguns ovos na esperança de conseguir cozinhar algo decente para comer, e assim, comecei a fritar os ovos logo após quebrá-los e derramá-los na frigideira. Sorri vitoriosa ao ver que havia conseguido realizar aquela simples tarefa e assim, me servi. Peguei um suco de laranja na geladeira e arrumei o meu prato com o copo sobre a bancada. Sentei-me e comecei a comer em silêncio, observando o dia pela grande janela da sala. Aquela simples janela fez meu estômago revirar diante à lembrança do que havia acontecido entre Justin e eu naquele mesmo lugar. Engoli o pedaço de ovo que eu mastigava e balancei a cabeça negativamente, voltando minha atenção ao meu café da manhã.

Peguei algumas torradas e passei um pouco de pasta de amendoim, dando uma grande e saborosa mordida. Meu corpo tensionou e eu parei de mastigar na mesma hora em que ouvi uma movimentação na casa, mais precisamente, vinda do corredor. O Justin acordou. Repentinamente, um nervosismo tomou-me conta e eu já não sabia se continuava a comer, ou se ligava a televisão e fingia estar assistindo algo, ou se até mesmo eu corria para o meu quarto e me trancava lá, evitando ao máximo encará-lo novamente. O tempo em que ouvi o barulho até o momento em que Justin apareceu na sala foi tão curto que o máximo que consegui fazer foi continuar na mesma posição, sentada de frente para a bancada e com a cabeça baixa enquanto comia. Pelo canto de olho, vi que ele parou de andar subitamente quando me viu ali na cozinha. Porém, alguns segundos depois, ele balançou a cabeça e voltou a andar, indo em direção ao freezer.

Ainda de canto de olho, eu o observei pegar o recipiente de gelo e em seguida, uma sacolinha. Ele jogou três pedrinhas de gelo dentro da sacola e fez um nó, logo erguendo a sacola até a cabeça, justamente no lugar em que o havia acertado com o telefone na noite passada. Justin guardou o gelo novamente no freezer e foi até o armário, pegando a caixa de cereal, e em seguida, o leite. Ele se sentou na ponta da bancada há certa distância de mim e se pôs a comer em silêncio. Segurei um suspiro e voltei a morder a torrada. Meu corpo paralisou novamente quando eu vi sua mão se aproximar da minha que estava sobre a bancada. Engoli em seco e continuei a observar o movimento da mesma, até que ele desviou o caminho e pegou o pacote de torrada que estava ao meu lado, bem próximo à minha mão.

Logo ouvi o som da sua mordida na torrada e suspirei baixo, balançando levemente minha cabeça. O que eu estava pensando? Que ele ia tocar a minha mão? Que ia ser legal e carinhoso comigo depois das coisas que eu falei para ele? Ou pior... Depois da telefonada que eu dei em sua cabeça... Se é que ele se lembra disso. Levantei-me depois de terminar meu café e me aproximei da pia para lavar a louça, quando a campainha tocou. Franzi a testa e fui até a porta, abrindo-a em seguida. A visão do senhor Steve a minha frente só me fez ter uma forte dor de cabeça, já sabendo o porquê de ele estar batendo à minha porta justamente naquele horário.

- Bom dia, senhor Steve. - cumprimentei educadamente, ajeitando meus óculos.

- Bom dia, senhorita Wright. Imagino que a senhorita já saiba o porquê de minha breve visita.

O Hóspede (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora