Capítulo 1

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Virgínia, EUA, 2015

Há um pássaro bicando a minha janela, ele parecia ser um borrão azul enquanto voava, e bicava a janela sem parar.

- Passarinho, você quer entrar? – pergunto educadamente, ele continua bicando. Levanto da cama e abro a janela, o passarinho entra e pousa na minha mesa.

- O que você quer? – ele levanta voo e voa ao meu redor, de perto consigo ver que ele é azul e suas penas são esverdeadas, ele é lindo.

- Desculpa azulado, ainda não desenvolvi a capacidade de falar com pássaros.

Ele parece ser tão feliz em apenas voar ao meu redor. Eu queria ser um pássaro, deve ser maravilhoso, poder voar para longe, a qualquer momento, sem nada que te prenda a um lugar, ser livre de todas as responsabilidades e tristezas.

Azulado parece sentir minha tristeza e pousa de novo na mesa, vou ao banheiro e encho um pote de água para ele beber. Ele parece agradecido e enquanto ele beberica a água sento-me novamente na cama. Procuro um caderno de desenhos e começo a desenha-lo. Ele parece perceber o que estou fazendo, pois fica calmamente parado me observando. Também observo ele, é lindo, parece com meu cordão. Olho para baixo, esta em meu pescoço, envolvido em uma corrente de ouro. Um pingente em forma de pássaro, suas asas estão abertas e parecem reluzir, seus olhos são pequenas pedrinhas vermelhas, acho maravilhoso. Foi mamãe que me deu.

Sempre tive mais afinidades com animais do que com pessoas em geral, elas me deixam nervosas, nunca sei o que tenho que dizer ou fazer, conhecer alguém exige muito de mim, há uma serie de coisas implícitas do que podemos fazer ou não fazer ao manter uma conversa com uma pessoa. Sempre acabo passando vergonha, sempre ajo de maneira errada e me acham estranha, então de uns tempos pra cá eu procuro evitar tais coisas como o convívio social. Na escola, eu sou uma pária social, ninguém me nota, e se notam, procuram me evitar.

Já com os animais não é assim. Eu me sinto incrivelmente confortável perto de um, eu não tenho que agir de determinado modo ou tenho medo de acabar fazendo alguma coisa errada, eu simplesmente sou eu mesma, e eles parecem gostar disso. Azulado ainda está no meu quarto quando eu finalmente termino o desenho, ele parece estar contente de apenas ficar ali enquanto pinto seus delicados traços em uma folha de papel.

Os animais normalmente parecem que são atraídos para mim, eles vêm e vão com o passar do tempo, cachorros, gatos, pássaros... até insetos. Eles me fazem companhia e eu finalmente me sinto paz. Esse pássaro parece ser meu novo amiguinho, espero que ele fique comigo, mas sei que isso não vai acontecer. Logo eu irei me mudar, sinto que sou um fardo para o meu pai, e que ele não gosta de mim, ele apenas me atura porque um juiz obrigou que o fizesse. O Jack é obrigado a me dar um teto e comida, mas é só isso o que ele me dá. Também não esperava mais nada dele.

Arranjei um emprego em uma loja de conveniência a três quadras de casa e arrumo meu próprio dinheiro, é bom porque lá eu apenas tenho que fazer a limpeza e não sou obrigada a manter contato direto com nenhum cliente, apenas faço o que me mandam e termino o serviço. O emprego é de segunda a sexta. Fico o dia inteiro ali após a escola, e isso é ótimo já que não tenho que me comunicar ou ver Jack. Mas logo ele irá se casar com Lowenna Barnes e ela irá morar aqui conosco, ela e seus dois insuportáveis filhos. Ela definitivamente me odeia.

Meu pai tem dinheiro, muito dinheiro, não que eu queira algo dele, eu não tenho o direito, o cara nem me conhecia há um ano. Mamãe foi o relacionamento de uma noite, o relacionamento que estragou um noivado maravilhoso para Lowenna, isso faz dezesseis anos, mas a bruaca ainda guarda ressentimentos. Jack acompanhou mamãe durante a gestação, mas logo que eu nasci ela fugiu comigo para longe, digamos que Donna Johnson é um espírito livre que não gosta de ser amarrado. Jack nunca mais soube de nós duas.

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