Fuga

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Da próxima vez, eu vou atrás de um veículo melhor, pensou Sam, enquanto fugia velozmente no espaço. Sua micro-nave era equipada com um sistema regular de orientação, permitindo vôos próximos a Terra 223¸, mas somente para patrulhas e averiguações diversas, sem qualquer tipo de armamento para defesa, munida somente de um reles escudo de plasma. Ele estava espremido na pequena câmara, o visor de vidro na sua frente mostrando coordenadas que ele só sabia ler pela metade, os controles ligados, piscando, e ele ali, tomando a frente.

Sem contar, é claro, um pequeno inconveniente. A garota.

Era ela quem deveria estar pilotando isto, ele disse a si mesmo, evitando olhar para trás. Lá estava ela, a pele bronzeada por causa da exposição contínua aos raios ultravioleta, os longos cabelos castanhos, os olhos semicerrados... Completamente inconsciente. E eu fugindo daquelas bestas.

Atrás dele, estavam várias naves de perseguição e caça, pequenas, mas se comparadas com a que ele estava pilotando, eram muito mais rápidas e ágeis. Armas de guerra. A todo o momento, atiravam raios laser ultra potentes, e ele fazia o possível, desviando da maioria, por que o escudo era quase inútil contra aquilo, mas o protegia contra outras coisas, como raios ultravioleta mais nocivos emitidos pelo sol.

Eu deveria ficar quieto, calado, fingindo que não existia!

Nessa hora, um dos lasers atingiu um dos flaps da mini-nave roubada. A nave inteira tremeu no espaço, e por sorte, não tinha causado danos muito sérios... Apenas um pequeno alarme que disparava o tempo todo, dizendo aviso, aviso! Campo de força abalado! Restaurando o equilíbrio em x segundos...

Ótimo, e eu sem poder de fogo algum, pensou. Continuou manobrando para longe de sua casa no universo, o único lugar que conhecia direito, a Terra 223. Queria voltar para lá, fingir que nada disso tinha acontecido, recomeçar a trabalhar nas grandes fornalhas, no conserto das turbinas de propulsão, dos estabilizadores de força... Ah sim, esta parte do trabalho de mecânico espacial era o melhor. Ficar à deriva na aparente gravidade zero... Por que já tinham provado que não existe lugar com gravidade zero. Apenas com uma quantidade de força pequena atraindo as moléculas de seu corpo na direção de um corpo mais pesado. Graças à barreira poderosa da Terra 223, ninguém ficava à deriva no espaço, mas ainda assim, era proibido fazer esse tipo de coisa. Só ele, como mecânico, fazia isso, e escondido... Quantas vezes seu velho tutor não tinha reclamado com ele, dizendo que se fosse pego, seria jogado numa cela?

Tio...

Seu coração encheu-se de pesar naquela hora. Seu tio, que aliás, nem era tio de sangue mesmo, era a única pessoa que ele tinha no mundo. Mas agora que ele desaparecera, e o rapaz se metera em assuntos que iam muito mais do que uma pequena perseguição, as coisas só tendiam a piorar cada vez mais. Sentia saudades de seu tutor, de como aprendera muito com ele, trabalhando em praticamente quase todas as partes da Terra 223. Ele era um bom amigo, ótimo professor e responsável, mas o rapaz só ficara sob os cuidados dele após duas grandes perdas, quando ainda era criança.

Seja como for, a garota atrás dele estava ameaçando acordar, quando mais um disparo atingiu o outro flap da micro-nave e eles entraram em uma turbulência violenta. Foi duro para o jovem readquirir controle sobre o aparelho, mas assim que fez, notou que grande quantidade das naves tinham dado meia-volta. Pediu para o computador de bordo da nave mostrar imagens do fundo da nave, e a máquina o fez. Apenas três naves de quase dez. Todas atirando, mirando feito loucas, e ele, fazendo o possível para desviar.

Então ele começou a ser atingido várias vezes quando a garota disse:

- Sam...

Ele gelou, afrouxou os controles. Ótimo, era o que precisava. A voz dela soou como uma cascata de água gelada na sua cabeça, mas seu coração bateu tão forte que ia sair pela boca. Ele tentou voltar ao controle, mas a nave tinha sido atingida mais três vezes, e os controles gritavam tanto, piscavam tanto, faziam tanto alarde e não resolviam nada. Assim que Sam recuperou a concentração, ordenou rapidamente o computador de bordo, dando ordens enquanto manobrava a nave.

Cá estou eu, longe de casa, entre a Terra e a Lua.

As coordenadas não poderiam ser mais precisas. Ele estava indo na direção do planeta azul, a Terra, o lar de seus ancestrais, uma espécie de seres formados por combinações sutis de carbono com outros elementos da tabela periódica, que alcançaram a evolução, e tão logo evoluíram biologicamente falando, acharam que eram os donos do universo e foram logo mandando e desmandando em tudo.

Se eu conhecesse o primeiro Homo Optimus... Eu faria picadinho dele.

Mas não adiantaria nada. Ele estaria sendo perseguido do mesmo jeito, e de qualquer forma, ia cair nessa enrascada dos diabos. E tudo por causa de um simples objeto que os Zargs queriam.

Tudo por causa deste maldito tubinho de ouro.


Fator TheoOnde histórias criam vida. Descubra agora