Eles pararam de atirar.
Na verdade, eles foram embora. Foram sim.
Sam pede para o computador mostrar alguma imagem. E ele observa os arredores, e não vê mais nave de perseguição zarg alguma num raio considerável.
Como ele queria que aquele módulo de patrulha fuleiro tivesse algum sistema de radar!
Ele pode estabilizar a nave, usando um sistema de autoreparo bem antigo. Sam sabia que todos os módulos de patrulha derivavam de módulos mais antigos e mais bem armados, capazes de autoreparar cerca de 60% de seus componentes físicos externos. Mas com o passar dos anos, foram retirando algumas funções aqui e ali, além de algumas armas que seriam bastante úteis para responder ao ataque zarg, e um escudo que o protegeria de forma mais eficiente do que aquela casca de ovo que toda hora quebrava e toda hora se recompunha, mesmo que rapidamente.
Ele respirou aliviado. Deixou os controles no automático, e foi olhar a garota.
A turbulência deve ter feito com que ela batesse a cabeça, pois estava inconsciente, mas respirando. Ele olhou para ela. Parecia linda demais. Ele sabia que não seria uma batida na cabeça que iria derrubá-la. Annk era durona, e sempre foi. Talvez fosse isso que o atraía nela. E outras coisas.
- Pena que ela não vê nada em mim, a não ser que sou um pedaço de mumano inerte - disse baixinho, enquanto ajeitava-a sobre um assento e prendia nela um cinto. Logo depois, foi vasculhar o microespaço do módulo, procurando alguma avaria. Graças a algum fator aleatório, a parte de dentro não tinha sofrido uma pane elétrica grave. Ele podia consertar tudo.
Triste mesmo foi na hora que todo o ambiente foi dominado por uma luz vermelha intensa, e, do nada, o computador gritou "objeto não identificado em rota de colisão". Quando Sam foi até o computador ver o que era, sabia que ia morrer logo.
Atrás dele, estava um projétil fino e rápido, feito um míssil. E sua velocidade era tamanha que iria se chocar com o módulo em alguns minutos.
Ainda fabricam essas coisas arcaicas?! Exclamou mentalmente, enquanto adquiria controle dos comandos novamente. Traçou duas rotas de fuga, mas descobriu que aquele projétil estava vinculado a um rastro de energia.
A energia da porcaria no meu pescoço, ele supôs rapidamente. Sua vontade era atirar aquilo em algum lugar, mas uma razão muito forte a impedia. Fazer isso era jogar fora toda a sua vida junto.
- DESGRAÇA! VOU MORRER! - gritou em Haglanü, um dos três idiomas que conhecia. Em Terra 223, falavam-se cinco. Um deles chamado Portguenglish.
Freneticamente, ele mexeu nos controles. Aquela porcaria voadora tinha detectado um míssil, um projétil, mas não detectara a nave que o lançou! Sam não podia estar com mais sorte. Então lembrou-se que as naves inimigas poderiam estar no modo invisível, e por esta razão, poderem entrar no espaço terrestre...
Espera.
Ele foi até um canto, e abriu uma portinhola que estava fechada. Havia uma janela de vidro redonda ali. Quando ele finalmente viu, ficou extasiado com a vista.
- A Terra é bem mais bonita de perto...
Ele se alegrou um pouco, e por um segundo, a barulheira do computador pareceu um zumbido distante.
A terra de seus ancestrais. O berço dos antigos.
O lar da humanidade...
Antiga.
Sam voltou aos controles quando o computador anunciou com uma precisão aterradora quanto tempo faltava para a colisão. Porque ele estava fazendo isso? Não se sabe. Nem Sam sabia. Parece que tudo estava dando errado. A começar pela fuga.
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Fator Theo
Science FictionO que é o Universo? O que é ser humano? O que é Deus? Ano sete mil, setecentos e setenta e sete. A humanidade, dividida em quatro espécies, voltou a residir no Sistema Solar Hélios (como o sistema é chamado para fins de identificação no plano galát...