Capítulo 5 - Explicações e Lorenna

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Passei o resto da semana ignorando e evitando olhar, falar ou fazer qualquer coisa que envolvesse Tsuki, Shinne ou sua namorada. Os dias se alongaram e ficaram cada vez mais pacatos. Já estava ficando enjoada de tudo sempre igual. Resolvi comer na mesma cachoeira em que Tsuki me levou para conhecer a sereia. Peguei uma cesta e coloquei o que queria para comer. Já tinha avisado minha mãe, que passava cada vez mais tempo no telefone com David. Assim que cheguei e arrumei minhas coisas chamei:
- Hey!! Por favor, venha falar comigo! Por favor!
Vi, de novo algo se movendo em meio à correnteza da cachoeira. Ela emergiu dizendo:
- Meredith! Que surpresa agradável. O que trouxe pra comer? Desculpe mas ainda não almoçei.
- O-Oi. Err... Desculpe, não me lembro do seu nome. Não me lembro de quase nada daquela noite.
- Tudo bem. Sou Yukimy e adoraria conhecê-la melhor. Vamos comer e depois arranjo um jeito de deixar você entrar no mar comigo.
Ela me dá uma piscadinha e sorrio. Comemos e quando acabo de guardar as coisas deixo a cesta perto de uma árvore, no meio de um arbusto. Me aproximei de Yuki e ela tocou meu rosto e disse algumas palavras que não pude entender. Olhei minhas pernas virando um grande rabo de peixe e fiquei super assustada.
- Yu-Yuki, o que tá acontecendo?
- Tá tudo bem Mere - ela deu uma risadinha - eu coloquei um feitiço de transformação em você. Não se preocupe, temos 2 horas para você conhecer o mar e tudo o que ele esconde. Serei sua guia durante esse tempo. Pode me perguntar o que quiser. Depois o feitiço desaparece e você volta ao normal.
Quando a transformação terminou, entrei na água. Era como andar, parecia tão natural. Como se fizesse isso a anos. Mergulhamos dentro do laguinho e Yuki me mostrou um portal, que dava para o oceano. Primeiro eu iria ver sua casa. No caminho, fui perguntando:
- Yuki, que palavras você disse quando jogou o feitiço em mim?
- Aah, errr... Bem é uma língua antiga, sabe? Pros humanos é tipo latim ou grego. Só que é mais antigo que isso. A língua antiga foi o primeiro meio de espíritos e mortais se comunicarem.
- Então, outras pessoas já conseguiram ver espíritos antes de mim?
- Mas é claro. Só que, quando os humanos vêm espíritos, quase sempre eles acabam amaldiçoados também. Porém tem uma coisa legal nisso tudo.
- O que?
- Você recebe um novo nome. Tipo uma nova identidade. Já que agora você meio que começa a viver de novo. Mas cada nome têm seu significado.
- Sério? Mas apenas amaldiçoados os recebem? E você sabe o de alguém?
- Podemos dizer que é um pouco rude perguntar o significado do nome das pessoas. Não é bem rude, é mais... Desconfortável. É como perguntar se você já transou, entende? É meio que informação demais. Apenas eles recebem e eu sei o de Dennerys e a garota que estava com Tsuki. Acho que consigo saber o de Tsuki também.
- Como sabe da garota?
- Mere, eu sei de tudo. Posso ver por toda a água do mundo.
- Me diz o que significa então.
- Dennerys - Rainha das ilusões/Ishdamar - Flor sobrevivente/Tsuki - Rei da lua
- Er.. Você pode escolher o nome?
- Não, ele apenas é dado a você quando vem ao mundo dos espíritos. Geralmente é baseado na sua vida como humano.
- Por que o nome de Dennerys significa Rainha das ilusões se ela gosta é de jogar?
- Não sei, talvez ela costume iludir as pessoas e não realmente ganhar o jogo. Venha, chegamos.
Entrei no que parecia ser uma caverna. Ao entrar, percebo o escuro e vejo que é sem saída. Sinto a água a minha volta movendo-se para cima e acompanho. É uma superfície. Um lugar onde há ar e parecia uma casa das cavernas. Tochas iluminavam o local. Suas chamas balançavam como se estivessem prestes a apagar. Vi Yuki, mas não era mais uma sereia. Era uma humana. Sentei-me perto da água de onde ela saiu e disse:
- Yuki?
- Diga.
- Você, pode virar humana?
- Claro. Como a sereia mais antiga, posso fazer o que quiser. Quero dizer que posso mudar de sereia, para humana e para animal. Posso viver no seu muno quanto tempo quiser.
- E você já o fez?
- Já, várias vezes. Já me apaixonei por humanas também.
- Mas como faz isso se ninguém pode te ver?
Ela pegou um colar de pérolas que estava pendurado ao lado de uma tocha.
- Esse colar me permite ficar visível à humanos. Porém não ouso mostrar a eles minha verdadeira forma.
- Você já se apaixonou por humanAs?
- Sim. Sereias são lésbicas e sereios são gays. Uns poucos são heteros, mas do mesmo jeito não podem ter filhos. - Ela me explicava enquanto colocava algumas coisas numa bolsa tão azul quanto seus olhos ou cabelos. - Por isso enfeitiçamos os humanos a entrarem no mar. Eles não morrem, apenas são transformados em sereias ou sereios e apagamos suas memórias humanas, para adotarmos eles como crianças. Eles meio que começam uma nova vida. Vamos?
- Onde?
- Encontrar o Mar. Como acredito que Tsuki te explicou, eles podem mudar de forma e o Mar é um sereio agora. Tipo Poseidon ou sei lá como os humanos o chamam.
Ela pulou na água e suas lindas pernas voltaram a ser uma cauda.
- Yuki, desculpe ser intrometida mas, você tem namorada? Alguém que possa conhecer?
- Não tem problema, adoro ver alguém tão interessada em outro mundo. Geralmente os humanos têm uma mente tão presa. Nunca conseguem acreditar em nada além do que seus olhos pode ver. Tenho sim e ela se chama Lorenna. Mas prefere muito mais ser humana do que sereia. Vou te levar para tomar chá com ela ainda hoje. Claro, se você quiser.
Chegamos à um palácio onde fiquei uma hora conversando com um sereio. Ele era bem interessante e me contou várias histórias sobre o mundo aquático. Ele era loiro, tipo o aquaman, mas com um rabo de peixe ao invés de um macacão com escamas de peixe. Ele me contou que a sereia que me salvou foi, um dia sua esposa. Ela era fascinada por humanos, mas era presa ao mar por esta casada com ele. Ele disse que já pensou em se separar para dar a ela uma vida de sereia livre, mas ela o amava de mais. Ela morreu ao ficar presa numa rede de pesca, como ninguém a viu, deixaram a rede no barco. Ao sol escaldante nenhuma sereia sobrevive. Depois fui tomar chá com Lorenna. Apesar da aparência séria, ela me lembrou a Ariel. Aquela princesa da Disney com cabelos vermelhos, fascinada por humanos e rabo de peixe. Lorenna gostava muito de tomar chá e aprender sobre o mundo humano. Ficamos conversando durante muito tempo também. Naquela tarde, eu me senti parte daquele mundo totalmente diferente do meu. Conforme fui falando sobre o meu mundo, os olhos de Lorenna brilhavam com mais intensidade. Como uma criança ouvindo que vai ganhar a Barbie que tanto quis. Meu dia estava maravilhoso, mas tive que me despedir. Agradeci a Yuki pelo passeio incrível, peguei minha cesta e andei pela floresta. Era mais ou menos 19 horas e minha mãe tinha me ligado umas 5 vezes. O que iria dizer a ela? Bom, não importava. Eu estava atrás de Tsuki. Precisava saber se Ishdamar era realmente sua namorada e se o tempo que passamos juntos não significou nada para ele. Ao me aproximar do coração da floresta, encontrei ele e Ishdamar se beijando. Senti lágrimas vindo aos olhos e tive que me esforçar para não deixar um soluço escapa e denúnciar minha presença. Senti algo dentro de mim se partindo. Ouvi vidro se quebrando e senti que precisava ir embora. Quando os olhos de Tsuki encontraram os meus, a garota tinha desaparecido e minhas lágrimas vinham com mais intensidade. Saí correndo para casa. Minha mãe estava na cozinha quando entrei correndo. Subi para o quarto, levando a cesta comigo e a única coisa que pude ouvir foi ela gritando para mim descer. Não pude suportar ver que eles realmente estavam juntos. Não conseguir conter mais os soluços e a tristeza foi minha única companhia durante toda a noite. Acredito que minha mãe ouviu meu choro, já que não entrou e nem bateu na porta. Me deixou do jeito que queria ficar, sozinha. Passei a noite em claro, trocando mensagens com Merstyna e Amorzinhu. Ficou claro para mim que seria doloroso de mais continuar naquele mundo dos espíritos e ver Tsuki com outra garota. Decidi voltar e esquecer qualquer coisa que aprendi ou vivi nessas últimas duas semana. Já me decidi, amanhã aviso minha mãe e voltamos para casa. Ainda tenho que pensar numa desculpa, mas não vai ser problema.

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