Capítulo 4

22.7K 1.9K 40
                                    


Samuel estava com a ideia fixa nessa conversa de matéria falando sobre outra cultura e não me deixava explicar que eu escreveria sobre outra coisa. A história foi parar nos ouvidos dos superiores que vieram me cumprimentar pela grande ideia.

Foi deixado claro a mim algumas regras sobre o texto. Eles queriam uma opinião pessoal e aprofundada. Seria algo que Google nenhum poderia me dar e eu comecei a ficar desesperada. Talvez eu devesse entender que estava beirando perder essa chance porque não existia nenhuma ida a outro país e não havia nenhum texto sobre isso. Nada.

Por mais que eu cogitasse ir até Fábio e pedir ajuda , eu não conseguiria, afinal, neguei o pedido que fez a mim.

Casar com um estranho era uma loucura, será que ele não havia pensado nisso?

E minha família? Ninguém nunca me viu interessada em alguém, nunca falei de namorado e do nada eu iria chegar com a conversa de casar em outro país?

Infelizmente essa era a minha única chance.

Pode até parecer maluquice o fato de eu pensar em aceitar uma proposta tão doida de um estranho, ou até uma ambição doentia, talvez falta de raciocínio na hora de pensar em outra saída, mas eu estaria ajudando alguém que estava precisando e iria me ajudar simultaneamente.

Peguei minha bolsa e dirigi até o pub. Eu faria isso por mim.

Toquei o sino no balcão e ninguém apareceu. Apertei freneticamente tentando chamar atenção.

-O que quer?- Fábio perguntou chegando até o balcão.

-Ainda não aprendeu a ser educado com os clientes?- Tentei amenizar a tensão.

- Veio fazer o que aqui?- Continuou com sua face mal humorada.

Talvez estivesse chateado, ou nasceu irritadinho assim mesmo. Seja lá qual foi o motivo eu teria que falar logo porque vim aqui.

-Eu posso te dar o que você quer e você e pode me dar o que preciso.- Fábio me olhou surpreso.

-Tem certeza?

Ele pareceu entender um duplo sentido que eu não havia colocado nas palavras.

-Olha só...

Me sentei no banco.

-Eu sou uma jornalista conhecida, como você mesmo viu na festa. Eu tenho dinheiro, minha família também é muito conhecida e temos contatos. Eu não conheço você direito, mas só quero deixar claro que se você estiver pensando em fazer alguma coisa errada, vai se dar mal.

Tentei explicar o mais devagar e ameaçador possível.

-Então você aceita?- Perguntou cauteloso para ter certeza.

- A gente casa, não teremos nenhuma relação além disso, são só negócios, você ganha seu visto, eu faço minha matéria e cada um tem o que precisa.- Expliquei seriamente.

-Combinado- Ele estendeu a mão para mim e eu apertei com força.

Essa pode ser a coisa mais louca que eu vou fazer na minha vida, mas eu preciso arriscar.

-Tudo bem princesinha- Falou com ar de riso.

-Não me chame assim!- Reclamei, ele riu de mim.

-Primeiro eu preciso saber se você não é um psicopata serial Killer que mata garotas ou algum tipo de traficante de mulher-

Meus cotovelos estavam apoiados no balcão, eu olhei dentro dos seus olhos avaliando suas reações.

-Você-Apontou para meu rosto- Está lendo muito romance policial- Ficou na mesma posição que eu estava.

-Pode ser, mas eu preciso saber- Insisti.

-Vai saber quando conhecer minha família-Voltou a sua postura normal e começou a enxugar alguns copos que estavam no balcão.

-Eles vêm pra cá?- Perguntei espantada. Quem em sã consciência envolveria a família num negócio?

-Não, nós vamos para lá

-Tudo bem, onde eles moram?

-Na Armênia!

Não!

-Não! De jeito nenhum, isso não faz parte do combinado- exclamei, ele continuava o que estava fazendo sem de importar comigo.

-Não combinados nada ainda, você está aqui para isso, se a gente não levar a sério todo mundo vai saber- Só me olhou rapidamente e deu as costas.

-Eu não vou confiar minha segurança a um estranho.- Afirmei emburrada e voltei a me sentar no banco.

Isso parecia cada vez mais difícil.

-Mikaela, se eu quisesse te fazer algum mal eu já teria feito, tenha certeza e vou ser sincero, estou pensando seriamente em fazer porque você está me irritando- Falou com a calma de um criminoso frio.

Chega, desisto dessa merda!

-Foi interessante te conhecer Fábio- Peguei minha bolsa para cair fora dali.

Sua mão me impediu de continuar meu caminho.

- Eu só tenho você,por favor- Me segurou com as duas mãos pelo ombro.

Ele até que parecia sincero. Tudo bem, eu acreditava em tudo que ele me dizia, mas meu senso investigativo me inclinava a suspeitar de qualquer um e eu não podia deixar as pessoas verem minha fraqueza porque era uma deixa para de aproveitarem da pobre garota sensível.

-Tudo bem- Retirei suas mãos de mim.

-Eu sou uma pessoa importante, se eu sumir, você vai ser o principal suspeito, então, nem pensar em tentar fazer nada de mal comigo- Falei tentando soar o mais ameaçadora possível.

Em troca de minha ameaça fajuta, eu recebi o mais lindo sorriso de alegria que Fábio podia me dar.

-Não fique tão feliz assim e desembucha!

Ele continuava secando os copos de forma automática.

-O que quer saber?

-A gente precisa de uma história. Todo mundo vai perguntar coisas como "Quando se conheceram? " "Estão a quanto tempo juntos".

-Você melhor do que ninguém aqui sabe contar uma história.

-Pois é, mas eu não vou me casar sozinha. Você tem que estar por dentro.

-Eu estava pensando em improvisar.

-Você tá maluco?

Perguntei furiosa, ele olhou para mim indiferente sem dizer uma palavra.

-Você não pode improvisar. Você sabe que enganar assim o governo é sério demais pra querer improvisar né?

Perguntei abismada.

-Se soubesse minha capacidade de improvisar você ficaria impressionada.

Sorriu.

-De jeito nenhum. Mas ok, eu invento e trate de guardar na sua mente.

Informei já pensando na canseira que vai ser daqui pra frente.

-A gente pode mudar só poucas coisas como por exemplo, eu te conheço a....dois dias? Podemos aumentar esse tempinho aí, mas continua igual o fato de que nos conhecemos aqui quando você me atendeu pessimamente.

Sorri com a última parte e ele que já havia parado de enxugar copos para prestar atenção em mim, revirou os olhos.

-Tá ótimo.

Afirmou.

-Então tá, eu volto amanhã depois do trabalho!

Avisei e deixei aquele homem pra trás.

Tudo vai dar certo....ou muito errado.

A proposta - DEGUSTAÇÃO -Onde histórias criam vida. Descubra agora