- Às vezes a vida parece ser muito complicada, o que de fato ela é. Somos cercados de milhões de pessoas todos os dias, nos conhecemos, nos encantamos e o pior e mais perigoso, nós nos apaixonamos. E é cômico, pois eu nunca havia sentido tal adrenalina, algo tão cruel, tão surreal, fora do comum. E foi assim que o conheci, na manhã de um domingo frio e cinzento, como fazia de costume, em uma lanchonete velha próxima a minha casa, uns dois ou três quarteirões de distância. Ele logo sorriu, e se aproximava como quem não queria nada, faceiro, encantadora a maneira como ele parecia sorrir com os olhos, de canto. Tal gesto fazia minhas pernas tremerem, o que me intimidava. Sempre fui uma mulher muito reservada, dentro do meu espaço, aquele tipo que nenhum dos caras da escola ou vizinhança desejava ou paqueravam de tal forma. Mas algo o chamou atenção, algo que me pertencia, algo que eu gostaria de descobrir.
- Um jogo perigoso de amor e sedução, dia após dia, eu inocente me envolvi demais e acabamos nos aproximando. Como num efêmero flashback vejo nossos beijos, nossos risos, nossas transas, cada trago uma bebida, cada gole um prazer. Acho que sim, havia me envolvido por completa, estava entregue, submissa, como um cão que ladra para saciar a fome, uma fome de desejo, como a sombra que devora a luz. Nunca compreendi o quão os homens são insanos, até o presente momento, ainda sinto o cheiro de sua pele nos meus cabelos, eu sinto senhor delegado - suspiros na sala da delegacia - é um cheiro de vodca, um cheiro de podre, um odor prazeroso. Sinta... - indagou sussurrando à medida que aproximava sua blusa já rasgada e ensanguentada ao rosto de um policial - Este é o cheiro do amor - soltou um sorriso sutil.
- Mas como tudo nunca foi nem tampouco será fácil ou perfeito em minha vida, logo o grande espetáculo se dissipou em cinzas ao vento, tal qual eu me fiz enxergar durante longos meses, uma grande lança de ferro cravada em um coração apaixonado ardente, cujo não sangra e a morte vem de dentro, da alma. - encarava veemente o grande vidro dentro da sala vazia - Ele mentiu para mim. Não entendo porque diabos que ele mentiu - se exaltou - mais do que suas palavras, seu olhar! Como pude me deixar enganar - logo, seus olhos não pareciam estar presentes na delegacia, era como se estivesse buscando memórias em seu subconsciente - Eu então descobri...
- O que descobriu Senhorita Parker? - perguntou o delegado inclinando-se sobre a mesa na imensa sala onde ambos estavam se encarando em duas cadeiras de madeira maciça buscando afinco entender o caso - conte-me tudo!
- Foi há uma semana, eu o disse que faria uma viagem de dez dias para o interior, que iria resolver uma papelada do inventário do meu ex-marido, o que de fato eu fui, mas durou muito menos do que eu pensei, quatro dias, eu tola, preparei uma surpresa, resolvi o visitar e como de costume eu fui até a sua casa, era um lugar bem reservado, um lar humilde, porém algo me soou um pouco estranho, a porta que sempre estava aberta para me receber e como de costume desfrutar o café da manhã juntos, naquele dia, a porta estava lacrada, pensei que ele havia saído para lecionar, e o gritei... - uma breve pausa - ele não respondeu, mas eu sabia que ele estava ali, foi quando eu a vi, uma moça de aproximadamente uns 27 anos caminhando nua sobre a sacada do quarto, com um cigarro aceso, ela era muito bonita, confesso, cabelos louros e cumpridos, os olhos exuberantemente azuis, tínhamos até certa semelhança - nem uma lágrima se fez presente, porém o olhar era obscuro - Naquele momento não senti mais meu corpo, meus olhos temiam a acreditar no que viam, estavam em chamas, era como se o meu coração estivesse sentindo o calor, e se queimando a cada lembrança imunda de longos meses - derrubou todos os papéis da mesa, berrando - tem ideia do que é ser tocada todos os dias por um homem que nunca teve a intenção de amá-la? Você tem Sr. Delegado? - indagou a moça - o que o senhor faria? Se fosse a sua mulher estivesse deitada transando com um cara bem mais novo e atraente que o senh... - Logo é interrompida com um soco que marcou seu rosto - Nunca mais repita isso, sua vadia imunda - respirou fundo - Minha mulher é uma mulher de respeito - terminou.
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Os Contos de Valentina
Short StoryNeste novo projeto novo colocarei alguns dos contos que escrevo todas as semanas. Com personagens mulheres de personalidade forte. Espero que comentem, votem, se gostar. Sua opinião é muito importante. Obrigado desde já!