Às vezes o vento sopra no sentido contrário, e de repente, tudo se esvai ou tudo vem à tona. Pois quem nunca viveu as loucuras de um intenso amor proibido? E acabou afogado em um vasto mar de lembranças e momentos de imensas alegrias? Onde o presente dói e chora a saudade de um passado que jamais voltará? Ou quando o sua mente não pode compreender aquele blefe adeus pronunciado da boca pra fora, assim como seu coração insiste por não aceitar. Porque a pior morte é aquela em que você morre e continua vivendo, ou se melhor se expressa, existindo. Como calar o desejo dos beijos de um calor tão voraz? Sinto-me tocada a cada vez que penso em você, é surreal, mas consigo sentir em minhas narinas o seu cheiro do seu perfume amadeirado, e o fervoroso calor do seu corpo junto a mim, a cada vez que meus pensamentos insistem em trazê-lo de volta. Mas ainda posso sorrir, entre doses e doses de uísque, confesso que como uma forma de provocação, pois se me recordo bem, todas às vezes no qual me encontrava bêbada praguejava palavras insanas, e aquilo me excitava de certa forma. Sempre gostei da forma como olhava no fundo dos meus olhos como se estivesse mergulhando no profundo da minha alma, desvendando um a um. Ou até a forma como pronunciava a palavra "louca" sempre que me ouvia cantarolando pelos cantos com passos desengonçados completamente fora do ritmo, ou como sempre parecia que me mandava um beijo quando esticava os lábios ao me chamar de "Dulce". Ora, ora, você era tão inconstante quanto eu, um furacão, uma disputa sem fim, era inevitável não o odiar, odiar a forma como eu temia seu silêncio pós briga, ou a forma como não conseguia desvendar seus pensamentos com a mesma facilidade que você possuía em relação aos meus, e o odeio mais ainda pela forma como me fez lhe amar por todos estes longos anos. Como não se recordar de seu braço tateando os lençóis a procura dos meus a cada manhã de sol, e o sorriso que se aflorava antes de seus olhos despertarem ao sentir a luz do sol que invadia a janela.
- Mãe? Acordada esta hora da madrugada? Está tudo bem com a senhora? – perguntou meu filho sonolento.
Parei por um momento admirando meu maior presente, um pedaço de você sempre presente a mim, um filho no qual a natureza me prestigiou ao me permitir chamá-lo de 'meu'. Os cabelos dele desvencilham-se exatamente como os seus neste exato momento – Respiro Fundo.
- Não filho, está tudo bem, apenas admirando as estrelas do céu, volte para sua cama. – respondi, ao desviar o olhar e um último trago no cigarro.
Aliás, o mesmo vento que acabara de bater em seus cabelos fora o mesmo que o trouxe a tona em meus pensamentos. Traiçoeiro vento, traiçoeiro! Bom, este é o ultimo gole de hoje, já estou me sentindo tonta, portanto acho que a nostalgia fica por aqui finalmente, ou fica para amanhã talvez, quando eu decidir abrir outra garrafa de uísque, ou até mesmo um vinho seco, me deixa calma, e alimenta o pouco do ego que me restou.
Dulce então bateu o copo sobre a escrivaninha, cobriu-se até a altura do pescoço, virou de lado como de costume, e por fim adormeceu, tardando a realidade que tanto a enlouquece.FIM DO CONTO.
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Os Contos de Valentina
Short StoryNeste novo projeto novo colocarei alguns dos contos que escrevo todas as semanas. Com personagens mulheres de personalidade forte. Espero que comentem, votem, se gostar. Sua opinião é muito importante. Obrigado desde já!