Capítulo 1

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- Aonde você estava?!- Diz a jovem morena que olhava-me frustrada. Conhecia ela à muito tempo e conseguia ler seus pensamentos em apenas um olhar, confesso que me divertia muito ao vê-la zangada. Apesar de ser mandona e séria, ela é uma boa amiga, na verdade, a única que eu realmente acho que é minha amiga.

- Jhulie? Jhulie!- Diz ela passando sua mão em frente ao meu rosto, fazendo-me sair dos meus pensamentos e a olhar confusa. - Aonde você estava? - Vejo ela cruzar os braços, era uma forma de mostrar sua autoridade, eu inocentemente lanço-lhe um sorriso, enfatizando que ela já sabia a resposta. Obtive meu sucesso, assim que a mesma revira os olhos e passa a mão em seus cabelos.

- Pare de chegar atrasada. Estou cansada de mentir para o Sr. Corey. - Diz lançando um olhar mortal. Apenas respondo à olhando tristemente e juntando as mãos, em sinal de súplica. Vejo seu olhar desmanchar e um leve sorriso escapar. - Por Deus Jhulie! Você não tem jeito mesmo. - Assim que vejo minha vitória ser alcançada, afasto-me em direção a entrada.

A tempos uma vontade de mudança me consome, não queria passar o resto da minha vida apenas trabalhando e pagando contas, sentia que minha vida era mais do que isso, mas o que eu poderia fazer estando presa nesse loop de desgraças e frustações.

Minha vida tinha se tornado sem sal, sem gosto. Então tentava me satisfazer sabendo da vida dos meus irmãos, Todd o mais novo, constantemente vivia indo ao médico por causa de sua doença, mas parecia nunca melhorar e os seus exames e remédios, sugavam o resto das nossas economias. Perdera a conta de quantas vezes briguei com minha mãe por causa disso, não havia um dia em que não discutissemos.

Natasha a irmã do meio, tinha uma vida normal, amigos normais e problemas normais. Então não havia muito com o que se preocupar, era uma boa menina e tinha orgulho dela, mesmo que nunca houvera falado-lhe isso.

Tudo o que me restara era curtir, e o único lugar que conseguia fazer isso era indo em festas. Elas tiravam-me da tediosa vida que me fora destinada, sentia-me livre, mesmo que  durasse apenas por algumas horas. Também afastavam-me dos dias ruins e dos problemas que os acompanhavam. As duras palavras de meu pai referente à mim, sumiam em segundos e finalmente sentia o grande peso em minhas costas desaparecer.

Mas logo pela manhã, tudo parecia voltar com mais força e novos problemas apareciam. Tudo sempre dava errado, e as vezes a culpa não era minha, mas tudo vinha para mim e sempre acabava em mais uma dor de cabeça. Estava cansada de ser xingada, culpada e mal tratada, sendo que apenas tentava consertar as coisas.

Mas não importava o quão eu tentasse, tudo conspirava para dar errado. Como ser despedida sem ter uma chance para se explicar, ser chamada de egoísta sendo que você só se importa com a vida da sua família, descobrir que seu namorado era um completo babaca, que te traía a todo momento, e ser expulsa de casa sem ter um motivo aparente.


-Você o que? - O grito assustado de minha mãe, faz com que uma enorme curiosidade tomasse conta do meu ser. Naquela noite não havia jantado com eles, aparentemente meu pai não queria que eu estivesse em sua frente, nunca eu o vi tão bravo. Minha mãe fez o máximo para que eu não fosse expulsa de casa, não fui, mas em compensação, tive a maior bronca da minha vida.

Ignorando as ordens de minha mãe, eu caminho até a porta do seu quarto e encosto minha cabeça na porta, tendo maior facilidade para ouvir o que estava acontecendo. Ouvindo a briga que estava acontecendo do outro lado da camada de madeira, percebi que minha mãe estava apavorada, seus soluços eram altos e seu choro atrapalhava sua fala. Meu pai ao contrário, estava calmo, escutava ele tentando acalmar minha mãe a todo custo, mas era em vão.

-Jonh.. C-como você pôde fazer isso?- A voz da minha mãe ecoa fraca, informando de que estava mais calma. Depois disso não conseguia ouvir mais nada, estavam em silêncio. Mas escuto passos se aproximando da porta e silenciosamente corro para o meu quarto, deitanto-me rapidamente. Logo, a minha porta se abre e vejo meu pai, caminhando até mim, ele sentasse na cama e deposita um beijo em minha testa. 

- Me desculpe filha, mas foi o único jeito. - Sua voz soou falha, quase como um sussurro. Nunca o vi desse jeito, calmo e tranquilo, mas estranhei sua rápida mudança de atitude comigo, porquê estava se desculpando? Foi por ter expulsado-me de casa ou ter falado aquelas coisas horríveis para mim? Não sei o que era, mas lá no fundo, senti como se alguma coisa fosse acontecer e não era boa.

As palavras de meu pai não saiam da minha cabeça, a sensação ruin se impregnou no meu corpo. No decorrer do outro dia, minha mãe estava muito estranha, parecia distante e perdida em seus pensamentos. Perguntei várias vezes se ela estava bem, mas não acreditava no seu "sim", pois sabia que ela estava mentindo e acho que ela também sabia.

Por milagre do destino, resolvi mexer na pilha de cartas em cima da mesa, mas apenas me irritei vendo contas e mais contas. Mas havia uma que era dirigida a mim e, graças à Deus, não era contas. Abrindo-a, percebo que finalmente uma coisa boa havia acontecido comigo, eu havia entrado em uma Universidade! Não tinha palavras para descrever minha alegria, tanto que minha mãe ficou um bom tempo tentando entender o porquê de eu estar chorando. Pensei que ela ficaria feliz por mim, mas apenas me acalmou e informou-me de que tínhamos que falar com meu pai.

Mas em minha cabeça, eu já havia me tornado uma estudante universitária. Essa era a minha chance de mudar minha vida, iria para outra cidade, conheceria outras pessoas e finalmente, sairia das garras do meu pai. Mas tudo tinha que ser feito rápido, pois essa bolsa só seria minha, se eu comparecesse lá, tinha quatro dias para ir, não seria problema pois já vinha incluso uma passagem e o primeiro semestre pago. Nova York vou eu!

- Eu quero que você vá para Londres. - Meu pai diz seriamente, eu o olho espantada. - Eu consegui o dinheiro, só tenho que levar até ele. Mas em minhas condições não posso viajar, pensei que você iria querer ir para Londres e ficar lá por alguns dias. - Automaticamente minha boca se abriu, não estava acreditando no que ele acabara de dizer. Faço-lhe inúmeras perguntas, sobre o dinheiro e como ele conseguiu, e o lugar onde eu iria permanecer, caso aceitasse ir para lá. Estranho quando o mesmo diz, que eu permaneceria na casa do milionário, antes que eu falasse algo, ele explicasse dizendo que o homem é de confiança e que não faria mal algum.

- Pai se eu fizer isso, você vai deixar eu viver a minha vida? - Digo depois que todas as minhas perguntas foram respondidas, ele concorda com a cabeça. - Então eu aceito. - Digo confiante, mas não deixo de notar a tristeza no rosto de minha mãe.

- Está na hora. - Diz meu pai, solto minha mãe que estava me abraçando fortemente e olho para seu rosto uma última vez, estava vermelho e um pouco inchado, havia algumas lágrimas caindo, eu seco-as com meu polegar.

- Eu tenho que ir. - Ela se afasta indo para o lado do meu pai, Todd vem até mim e eu o abraço. - Quando eu voltar, prometo que nós vamos fazer muitas coisas divertidas, okay? - Ele concorda, assim que o coloco no chão, ele vai para o colo da minha mãe. Antes que eu percebesse Natasha  abraça-me chorando.

Solto-a assim qus meu pai alerta-me novamente sobre o avião. Pego minhas malas e vou andando em direção a porta de embarque, estava prestes a entrar quando resolvo olhar mais uma vez para eles. Natasha e Todd acenavam tristemente, meu pai estava sério, não sei se ele estava escondendo seus sentimentos, afinal, eu era uma fardo para ele, como o mesmo me dissera diversas vezes. Mas o que apertou meu coração, foi ver minha mãe acenando-me tristemente e com um fraco sorriso em seus lábios.

Talvez estivesse orgulhosa ao ver que sua filha conseguiu entrar em uma boa faculdade, sabendo que era um sonho distante que havia sido desacreditado, ao se deparar com as precárias condições. Não queria que eles me vissem chorar, então, tive que me segurar o máximo, e para reconfortá-los, aceno-lhes com um enorme sorriso. Mesmo passando por dificuldades e decepções, quero que eles lembrem de mim assim, sempre sorrindo.

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