Quieto demais

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Bruno


Depois de resolvermos os assuntos pendentes da banda, a gente resolveu sair do pub e viemos direto pra uma lanchonete que tinha inaugurado há pouco tempo. Os meninos e eu já tínhamos sentado e estávamos esperando os pedidos ficarem prontos.

O Paulo e o Vitor estavam com as caras enfiadas no celular como sempre, o Denis tá tagarelando sobre uma partida de futebol aí que ele perdeu e eu tô encarando minhas mãos há uns 20 minutos. Tô em um extremo tédio, hoje.

Vitor colocou a tela do celular dele na minha frente, levantei o rosto e encarei ele.

- Olha pra tela. - Foi tudo o que ele disse.

Quando olhei vi a foto de uma menina branca até demais e eu não tinha a menor ideia de quem ela era.

- E daí? Tá me mostrando isso, por quê? - eu falei totalmente desanimado.

- Eu tô afim dela, Bruno. E, descobri que ela vai estudar lá na escola esse ano. Aí te falar, vou pegar. - ele falou com muita confiança.

- Quem garante que tu vai mesmo? - Denis se intrometeu na conversa.

- Eu pego quem eu quiser, parceiro. - ele falou e piscou pra garçonete que passou perto da nossa mesa.

A gente começou a rir dele e ele fechou a cara. Pegou o celular e começou a mexer em alguma coisa. Vitor era assim, falava e provava. Tudo pra ele era eu quero, eu consigo. Ele é um cara maneiro, mas tem que saber lidar.

- Já conversou com ela? - Enfim, Paulo largou o celular.

- Ainda não. Mas vou chamar no face. - ele falou ainda de olho no celular.

Paulo começou a falar sobre o fora que o Vitor tinha levado da professora de ciências, quando ele pediu pra ficar com ela na hora do intervalo. Esse moleque não perdoa uma, mano.

A gente tava zoando o moleque e ele tentando se defender, como sempre. Eu estava começando a me distrair com eles, mas meu bom humor foi pro espaço assim que ela entrou na mesma lanchonete que a gente estava.

Não sei se foi por costume, mas peguei o cardápio e tratei de esconder o meu rosto. Rezei em pensamento pra ela não nos ver, já que a gente tava nos fundos da lanchonete. O mesmo que nada, senti o perfume do troço de longe. Oh coisa ruim, mano.

Só ouvi aquela voz irritante cumprimentando os meninos e logo depois a mim.

- Bruno, meu anjo. Sua visão tá tão ruim assim que você tem que esconder o rosto no cardápio pra ver quais lanches tem? - ela me perguntou usando tom de ironia. Merda! Merda! Merda!

Quando abaixei o cardápio, eles estavam rindo da minha cara, mas estavam tentando disfarçar.

- Acho que suas amigas estão te chamando. - falei pra ela sem dar muita atenção.

- Eu prefiro dar a minha atenção pra você. - ela falou sorrindo e logo sentou do meu lado.

- Eu passo. - falei revirando os olhos. Ela é um grude, não quero nada com ela, mas parece que ela não enxerga isso, meu Deus.

Ela pegou na minha mão e eu soltei a mão dela na mesma hora. Então ela resolveu puxar assunto com os meninos.

Eu dei uma chance pra essa garota e ela fez da minha vida um inferno. Eu não podia sair com os meus amigos, porque tinha que dar atenção pra ela. Não podia ir dormir, sem dar o boa noite pra ela. Não podia ir a casa das minhas primas, porque ela tinha que ser a única mulher da minha vida (totalmente louca, eu só tinha 16 anos na época). Mano, a gente nem namorava. Eu só ficava com ela e ela já tinhas essas paranoias. Fiquei tão enjoado dela, que falei que não queria mais. Ela fez tanto drama, mais tanto drama, que na hora pensei que ela poderia ser uma ótima atriz se quisesse. E, agora ela fica nessa aí de ficar me perseguindo. 

Levantei e fui até o lado de fora pra relaxar um pouco. Me encostei na mureta que tinha na calçada e fiquei ali um tempo. Às vezes, eu curto ficar um pouco sozinho. Colocar os pensamentos em dia.

Eu estava tão distraído que nem vi o Paulo se aproximando, ele parou do meu lado e me cutucou com o cotovelo e aí eu olhei pra ele.

- Eu gosto de ficar sozinho. - eu falei sem ironia e nem deboche.

- Eu sei. - ele respondeu.

- E, você quer o quê? - perguntei logo.

- Quero nada, não. - ele falou e ficou quieto de novo.

Só dava pra ouvir os sons abafados das conversas lá dentro e a música que estava tocando na caixa de som.

O Paulo e eu nos conhecíamos desde os 13 anos, fizemos amizades quando o professor colocou a gente como dupla na aula de matemática. Ele era bom e eu péssimo, ele me ajudou muito. E desde essa época, nós somos como irmãos. Ele respeita meu espaço e eu o dele.

Ficamos aqui fora. Não demorou muito os moleques saíram de lá de dentro com duas sacolas, com nossos lanches dentro.

- Bora pra outro lugar. - Vitor falou e tirou a chave do seu carro do bolso. Saímos dali e depois de uma confusão dentro do carro, decidimos ir pra minha casa. 


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⏰ Última atualização: Feb 03, 2019 ⏰

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