Branca como fantasma

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Lia

Desde que acordei, não consigo tirar aquele sonho da cabeça. Parecia tão real. E aquele cachorro? Por que ele me seguia? Por que tinha uma ambulância nele? Será que é algum tipo de aviso? Seja o que for, eu não acredito nessa besteira de significado de sonho mesmo.

Resolvi levantar e beber um copo de água, não me importei de sair do meu quarto com meu pijama. Afinal, pra quê tirar o pijama se você não tem a intenção de sair de casa?

Quando estava no corredor, ouvi alguma vozes masculinas e já deduzi de cara, só pode ser o traste do meu irmão mais velho e os amigos dele. Eu ia ignorar a presença de todos eles, mas para eu ir pra cozinha, teria que passar pela entrada da sala. Então não deu outra, eles me viram ali.

- Achei que não estivesse em casa, maninha. - meu irmão parou na minha frente com uma cerveja na mão.

- E pra onde mais eu iria? - eu sorri e fechei a cara pra ele.

- Sempre tão doce, Amália. - ele respondeu e logo depois tomou um gole da sua cerveja.

- Lia. - eu disse meio amarga. Detestava que me chamassem pelo meu nome e ele sabia disso. - Bebendo a essa hora, maninho. Cuidado pra não passar mal.

- Você seria a primeira a agradecer se isso acontecesse, não é. - ele riu irônico e logo depois foi pra perto dos amigos dele.

Eu fui pra cozinha, coloquei água no copo e tomei. Peguei uma tigela e coloquei cereal dentro, depois derramei leite nela e peguei uma colher. Peguei a tigela e quando me virei, um dos amigos do meu irmão estava parado na entrada da cozinha, não me intimidou nem um pouco.

- Seu irmão devia te tratar melhor, Lia. Você é uma garota muito especial. - esse eu já conhecia, vivia me elogiando e me olhando de lado, quando vinha aqui em casa. Ele era alto, meio forte, barbudo, fedia a cerveja e era um completo babaca.

- Com licença. - foi tudo o que eu disse ao tentar passar por ele.

Ele colocou a mão dele no meu ombro esquerdo e riu de lado. Eu me esquivei, olhei feio pra ele e segui para o meu quarto. Assim que eu entrei, coloquei a tigela em cima da minha cama e fiz questão de trancar a porta. Sentei na cama, coloquei a tigela em cima das minhas coxas e peguei meu celular e meu fone, coloquei na playlist que eu ouvia toda manhã e logo tocou skaar - higher ground. Eu viajava pra outra dimensão ouvindo ela. Comi meu cereal.

Flashback on

De lá de cima, eu sentia que era livre, que estava protegida, me sentia em paz. Um sorriso sempre ganhava força pra permanecer, porque eu tinha motivos pra ser feliz. O lugar mais seguro pra mim era quando eu estava no colo do meu pai. Suas brincadeiras nunca perdiam a graça, eu amava cada instante.

- Minha princesinha tá ficando meio pesada. - ele ria enquanto me descia do seu colo e sentava comigo no sofá.

- Ou você tá ficando velho, papai. - eu gargalhei quando ele fez cara de ofendido.

- Vai vê você tem razão, minha pequena. Mas, mesmo ficando velho, eu nunca vou parar de tentar colocar um sorriso lindo nesse seu rostinho. - ele disse e acariciou minha bochecha. Eu subi no seu colo e o abracei.

Ele me apertou e suspirou alto, eu apoiei a minha cabeça no seu ombro e fechei meus olhos.

- Nunca deixe de sonhar, minha pequena. E, nunca perca o brilho desse sorriso. 

Flashback off

Suspirei e dei pause na música. Fiquei um bom tempo olhando pro lençol da minha cama, vagando pelos meus pensamentos. Lembrar dele, ainda dói. Acho que eu nunca vou me acostumar com a dor de não tê-lo mais aqui comigo. 

O toque do meu celular me despertou e vi na tela uma chamada de vídeo da minha prima Letycia. Limpei as lágrimas no meu rosto e atendi.

Chamada de vídeo on

Lety: Prima (aaaah), babado. - em plena manhã, essa garota já estava com um kilo de maquiagem na cara.

Eu: Conta logo, vai. - falei com o menor interesse possível.

Lety: Adivinha quem eu peguei na festa ontem? Hum? Aposto que você não vai acreditar!

Eu: Fábio?

Lety: Fábio é passado, Lia. Aquele ali eu não pego mais. Minha boca tá interessada em gostos novos.

Eu: Eu não sou adivinha, Letycia. E semana passada você e o Fábio estavam se pegando.

Lety: Xiiu! Mas, eu não quero mais. Já que você não vai adivinhar, eu falo. Eu peguei o Luídi.

Eu revirei os olhos e ela riu.

Lety: Prima, pensa num beijo gostoso. Humm.. vontade de provar de novo. Aí cara, ele é um gato!

Eu: Que Luídi é esse? 

Lety: Só o cara mais gostoso da cidade. A gente ficou praticamente a noite toda, foi incrível e mais, Fábio viu tudo e ficou com a maior cara de c

Eu: Tá bom! Já entendi! Você ficou com esse Luídi pra fazer ciúmes no Fábio. Agora assume que você ainda gosta dele.

Lety: Eu não fiz ciúme em ninguém. Me poupe, Lia. O Fábio não merece essa atenção toda não.

Eu: Sei.

Lety: O que é isso aí, na sua cara?

Ela encarou o meu rosto e eu não gostei nem um pouco da atenção pro meu rosto, sei que ela só quer mudar de assunto.

Lety: O que aconteceu com você, prima? 

Eu: Não aconteceu nada. Pára de drama.

Lety: Aconteceu sim. Olha só esse rosto pálido e branco. Tá precisando de um blush extremamente forte e um pouco de raio ultravioleta nessa pele.

Eu: Ah vai cagar, Letycia. Era só isso? Vai pedir solicitação pro Luídi vai. Tenho que desligar.

Lety: Eu já pedi e ele aceitou. Era só isso sim, fantasminha. 

Ela gargalhou do outro lado e piscou pra mim. Eu mostrei meu dedo do meio como de costume.

Lety: Tchau fantasminha gostoso.

Eu: Tchau vaca.

Chamada de vídeo off

Eu joguei meu celular na cama e comecei a rir, lembrando da idiota da minha prima.


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