01. Homem Inescrutável

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A relação entre Dulce e a sua mãe não tinham a melhor relação do mundo. Por conta do trabalho como modelo, ela estava sempre viajando, Rebeca de Maria, era uma mulher com pouco mais de 40, não modelava como antes, mas havia uma presença especial em cada desfile. Ela era o que a agência chamava de Coach Model, importante demais para a nova geração de jovens cheias de sonhos, exceto para sua própria filha. Rebeca e Dulce não cansavam de se odiar.

Seus pais nunca haviam sido casados, eram dois jovens inconsequentes quando tiveram Dulce. Por mais que Rebeca tivesse tentado criar sua filha, a relação entre ambas não era a das melhores.

— O que eu estou tentando dizer-lhe, querida, é que você pode desistir de fazer esse curso e modelar junto comigo.

— Não era esse tipo de conselho que eu queria.

— o seu pai me falou que estava desapontada com o último semestre...

— Mãe, eu estou nesse curso desde os 17 anos! Já passei por coisas piores naquele lugar e mesmo assim não desisti.

Elas haviam marcado de se encontrar num bistrô, somente assim Rebeca aceitaria passar um tempo com Dulce.

— É, realmente, é impossível conversar com você!

— Eu separei um tempo precioso para estar com você, Dulce! Ao menos seja agradecida.

– O que? É você quem não consegue dizer uma frase sem trazer à tona seu egocentrismo!

– Egocentrismo? Eu estou aqui, ouvindo aquilo o que tem a dizer e tentando te ajudar!

– Não! Você está esperando o melhor momento para falar de si mesma!

A jovem se levantou, nem ao menos lembrava o real motivo para aquele encontro, apenas desistiu de tentar convence Rebeca de que ela estava errada.

— Quer saber, mãe, eu não deveria ter-lhe feito perder esse tempo precioso. Foi um ótimo encontro... esquece tudo o que conversamos está bem?

Jogou sobre o ombro a bolsa tiracolo, levantou-se e deixou o local, chateada consigo mesma e om todo o resto do mundo. Andou pela rua com os olhos marejados, por sorte o bistrô não ficava muito longe da universidade. Pensou em passar uma parte de seu dia escondida na biblioteca, mas sabia que havia um lugar melhor para chorar sozinha.

Dulce estava sentada na arquibancada. Ela chorava. Chorava por não ser compreendida. Chorava por não ter tido uma mãe de verdade. Chorava por sentir o gosto do desprezo. Chorava, pois, o único que a entendia era seu pai. Para boa parte das pessoas ela era frágil e mimada, e era. Mas sua cabeça estava desregulada, seus sentimentos balançados, e a suas lágrimas lavavam a sua alma. Ali, enquanto o time de futebol treinava, ela se isolava de tudo e todos.

— Gosta da própria companhia? — Aquela voz... aquela terrível voz que insistia em a perseguir. Era ele, Alexander Cabral, o misterioso e detestável professor. O que se passava na cabeça daquele homem para tentar se aproximar dela no pior dos momentos?

Ela o encarou, censurando cada gesto do homem.

— Às vezes a melhor estar sozinha, do que com alguém indesejado.

Ele sorriu, havia um corte em seu lábio inferior, estava quase cicatrizado. Pela primeira vez, Dulce o encarava de perto, pode velo de uma maneira diferente, se não o detestasse o julgaria como belo.

— Sou alguém indesejado?

– Talvez...

Ele teve a maior das ousadias, por sorte, estranhamente Dulce gostou daquela atitude. O professor se sentou do lado dela. tateou pelo bolso do paletó, jogou a mochila em seus pés, o que fazia levando aquilo para onde quer que fosse? Tirou do bolso interno, tirou um maço de cigarros e um isqueiro. Levou o cigarro ao lábio, Dulce observou mais de perto as mãos dele, estavam muito machucadas. Talvez aquilo que Daniel disse fosse verdade. Aqueles machucados só poderiam ter surgido de uma briga. Calada, ela observou mais de perto o rosto daquele homem detestável. o que ele fazia ali?

A amante Livro1 ( Em Revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora