04. O Amante

5.7K 372 13
                                    

      Ela os observou conversarem na cozinha, se sentou na mesa próxima ao balcão, onde via seu pai flambar cogumelos enquanto Alex bebia cerveja preta em um copo de shop.

— Eu não tenho palavras para te agradecer, Alex! Novamente salvando minha vida.

— O acidente poderia ter sido sério!

— Por deus! Mas não foi! Ela está bem, não é Dulce?

— A medida do possível, pai.

Já eram quase nove horas, Alex olhava o tempo todo para o relógio, estava incomodado com algo. De vez em quando, olhava para Dulce, a garota refletia sobre que tipo de coisas se passavam pela cabeça do escritor.

O clima de ódio e discórdia havia simplesmente desaparecido entre ambos.

— Pode ficar para o jantar, Alex... eu faço questão que fique, é o mínimo que faço para agradecer...

— Não posso, hoje não, infelizmente.

Ela sabia que naquele dia Alex iria lutar.

...

Esperou que seu pai dormisse, pensou que deveria sair aquela noite. Deveria voltar ao píer, deveria ver o que seria daquela noite para aquele velho escritor falido. A noite era de lua cheia, porem ela estava escondida atrás das densas nuvens de chuva.

Levantou-se na ponta dos pés. Foi até o quarto de seu pai, tinha receio de encontra-lo acordado, sabia que ele se preocupava, mesmo da maneira dele.

Carlos não era a pessoa mais aberta do mundo. Fazia o que podia, não se intrometia quando sentia que incomodava, até mesmo com sua filha. A verdade, o que todos falavam no bairro sobre Carlos era verdade. Nunca teve preferenciais por mulheres, e Dulce tinha sido um acidente no qual ele tentava concertar.

Era um jovem, tentando se provar homem. Mas depois de velho, percebeu que para ser homem não havia necessidade nenhuma de se provar.

Carlos não estava no quarto. Ela desceu as escadas, segurando os sapatos nas mãos, tremendo para que não fizesse barulho. Para sua surpresa, ouvia vindo da sala duas vozes. Se sentou nos últimos degraus da escada, tentando ouvir o que conversavam.

— Deveria contar a ela, Carlos. — Disse uma voz desconhecida.

Dulce deu uma olhada por cima do corrimão de madeira. Viu na sala de sua casa seu pai sentado no sofá com outro homem, ambos tomavam vinho, apenas a luz do abajur estava acesa, os dois se olhavam, e Carlos repousava uma das mãos no joelho do desconhecido.

— Ela não estado no melhor momento esses dias... tem estado com os nervos à flor da pele.

— Acha que isso seria demais para ela? A menina tem 21 anos! Não pensa como o resto de sua família.

— Eu só não sei se é o melhor momento na vida dela para descobrir que o pai tem um relacionamento a anos com outro cara! Veja bem, eu estava com você hoje! Minha filha sofreu um acidente hoje, enquanto eu estava transando com você!

Dulce levou as mãos a boca. Quantas coisas seu pai escondia dela? Com raiva, terminou de descer a escada e saiu de casa, batendo a porta com toda força do mundo. Ouviu seu pai chamar seu nome, sabia que ele iria atrás dela na rua, mas mesmo assim continuou a caminhar sem olhar para trás.

Não teve tempo de ligar para nenhum dos seus amigos. Mesmo assim andou pelo bairro até a casa deles, sem aviar que chegaria. Deveriam ser quase onze horas, já estava frio, uma fina garoa começava a cair em seus cabelos. Estava desgostosa da vida, pelo menos durante aquele momento.

A amante Livro1 ( Em Revisão )Onde histórias criam vida. Descubra agora