Quebra Nozes

Natal

Feriado prolongado. Natal. Ficar em casa por duas semanas.

O ano passou tão rápido, me lembro como se fosse ontem todas as festividades do ano passado, e tudo isso era como um dejá-vu.

Sempre as mesmas pessoas, mesmas comidas e piadas de "pavê ou pra comer", a mesma rotina todo final de ano.

---- Clara! O amigo do seu pai chegou dos Estados Unidos, venha falar oi para ele. --- mamãe bateu na porta do meu quarto e tive que me levantar da cama. Eu não estava a fim de ir pra lá e dizer oi, mas era Natal e eu considerava esse amigo do meu pai como um tio e com certeza deveria ter comprado algo bem legal de onde ele tinha morado. Califórnia. Talvez um kit de maquiagem, roupa ou quem sabe um celular? Nunca se sabe o quanto ele pode ser generoso com uma "sobrinha" tão querida.

Retoquei a maquiagem. Nada muito exagerado para a véspera de Natal, meus cabelos castanhos estavam um pouco encaracolados e eu vestia um vestido roxo escuro longo, minha mãe queria que eu ficasse apresentável pelo menos no Natal já que no resto do ano eu simplesmente pegava a primeira coisa do meu guarda-roupa.

Desci as escadas e eu estava feliz por ter aquecedor dentro de casa, estava frio por aqui. Sempre morei em Londres a minha vida toda, e me acostumei com o clima, meio gélido e chuvoso da região.

Todo mundo estava reunido na sala, meu irmão estava beliscando alguma coisa que a minha mãe tinha preparado. Minhas primas estavam com seus respectivos namorados e eu me sentia uma deslocada ali. Até a árvore de Natal fazia sentido ali e eu não.

Nicolau havia chegado de viagem como disse a minha mãe, fazia tanto tempo que eu mão o via.

---- Clara, como está crescida... --- Nicolau falou. Ele havia mudado um pouco, afinal 10 anos mexem com a aparência de qualquer pessoa.

--- Um pouco --- Falei tímida. Suas feições ainda eram as mesmas, apenas o cabelo um pouco mais grisalho e algumas rugas em volta dos olhos.

---- Tem quantos anos agora? --- Ele me perguntou tentando me deixar mais confortável.

--- Faço 18 mês que vem. --- mal esperava pra isso acontecer e ir embora de Londres. Esse lugar me prendia e me sentia deslocada, pretendia desbravar o mundo assim que me tornasse maior de idade, com certeza meu pai não aprovaria isso. Mas quem se importa com o quê os pais pensam quando se é maior de idade?

--- Vamos comer --- mamãe entrou na sala e anunciou que a ceia de Natal estava servida na mesa.

Todos se reuniram naquele lugar aconchegante. Era uma época de celebrar o nascimento do menino Jesus, com a visita dos três reis magos. Dezembro em si é uma época gostosa do ano, pois é quando sentimos compaixão pelo próximo e queremos fazer o bem.

Na minha opinião é só mais um mês para o ano acabar e acontecer tudo de novo, um ciclo vicioso e contínuo. Nada de mais.

--- Como está o Eric, Nicolau? --- Minha mãe perguntou casualmente. Eric deveria ter a minha idade e nunca nos vimos pessoalmente, Tio Nicolau morava na Califórnia com ele e sempre que vinha para cá nunca trazia seu filho.

Tio Nicolau ou simplesmente Nicolau é como um tio para mim, já que é um amigo muito próximo do meu pai, se não me engano eles trabalhavam juntos. Eu sempre gostei quando ele vinha para Londres e me contava as milhares de histórias sobre todos os lugares que ele visitou. Me inspirava em ir para outros lugares, Nicolau é um homem muito sonhador e que já viu de tudo nesse mundo.

Enquanto tio Nicolau fazia várias viagens, eu nem ia para a padaria mais. Meu pai achava perigoso até ir na esquina, com medo de que eu fosse assaltada ou, Deus me livre, assassinada, mas é um exagero da parte dele.

--- Está bem, porém não pode vir para cá. Ele está passando o feriado com a mãe dele. --- Sempre a mesma resposta que recebíamos dele. Ele é divorciado e seu filho mora com a mãe, era estranho mas não discutíamos isso. Ainda mais numa época tão boa como o Natal.

--- Claro, espero que ele possa passar a semana com a gente --- Mamãe disse atenciosa.

--- O que ele faz da vida? --- Tia Melina falou com deboche. Ela dizia que o Eric não era real e que Nicolau era louco.

--- Ele está estudando muito para tentar ir para Harvard e não tem tempo para redes sociais inúteis. --- Titio disse curto e grosso para Melina.

Eu só observava o que acontecia, sem muito o que falar. Eu não conhecia esse garoto, e nem queria conhecer tão cedo.

---- Soube que foi aceita num teste para um grade espetáculo de ballet. --- ele disse com um sorriso mudando de assunto rapidamente.

--- Sim, vou para uma companhia de dança renomada de Londres. Foi difícil o teste, mas eu consegui. --- no dia do meu teste eu fiquei muito nervosa e por um momento eu pensei que não conseguiria. Mas eu consegui e vou sair daqui em uma tour com o resto do grupo de dança.

--- Sempre falei que Clara seria uma ótima bailarina --- Nicolau falou orgulhoso para todos os convidados ouvirem. Isso me fez corar, não estava acostumada a ser o centro das atenções.

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O momento mais esperado da noite. Abrir os presentes que todos compraram para cada membro da família. Tem dezenas de presentes de baixo da árvore decorada com sinos e bolinhas vermelhas, azuis e amarelas e luzinhas pisca-pisca. Uma das tradições natalinas.

--- Este presente --- Falou Nicolau misterioso antes de olhar na fitinha --- É para Leoni.

E entregou para uma das minhas primas que sorriu e agradeceu. Isso se seguiu com todos os meus primos e primas, tios, tias, mãe, pai, avós, até chegar em mim.

Eles ganharam presentes excecionais e diferentes, mal podia esperar o que tinha comprado para mim.

--- Meu último presente --- Ele falou cansado de pronunciar tantos nomes --- para a minha sobrinha mais importante, Clara.

Nicolau me entregou uma caixa um pouco grande com um embrulho de mini-árvores natalinas.

O tamanho não era pequeno e poderia ser de um kit maquiagem com várias sombras, blushes, batons...

--- Obrigada, Nicolau. --- Dei um abraço nele.

---- Abra, Clara. --- Meu pai me incentivou. Dei uma sacudida na caixa e fez um barulho lá dentro.

Comecei a rasgar o papel lentamente... O que é isso?! Me recusava a acreditar no que tinha ganhado.

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