Como Eu Era Antes de Você
Deus. Claro que ele se sente infeliz. Está preso a uma maldita cadeira de rodas. E você certamente está sendo inútil. Apenas fale com ele. Conheça-o. Qual a pior coisa que pode acontecer?
Reparei que ele parecia determinado a não lembrar em nada com o homem que tinha sido; (...). Seus olhos cinzentos tinham marcas de cansaço, ou de desconforto que ele sentia o tempo todo (...). Eles levavam o olhar vazio de alguém que está sempre alguns passos afastado do mundo a seu redor. Às vezes, eu me perguntava se aquilo não era um mecanismo de defesa de Will, já que a única maneira que encontrou de lidar com sua vida foi fingir que não era com ele que aquelas coisas estavam acontecendo.
- Deixe-me ver se entendi. Você acha que uma colher de chá de cenoura vai melhorar minha qualidade de vida?
O que me chocou não foi ver o corpo de Will descoberto, magro e cheio de escaras. (...), o que me chocou foram as marcas vermelhas arroxeadas nos pulsos dele, as compridas e denteadas cicatrizes que não podiam ser disfarçadas, (...).
Não quero viver assim, mãe. Não é a vida que quis. Não há perspectiva de recuperação, então, é bastante razoável pedir para acabar com isso da maneira como eu ache adequada.
Como poderia esse homem, cuja pele, hoje de manhã, eu tinha sentido sob meus dedos - cálida e viva -, querer simplesmente acabar consigo mesmo?
- Se você tivesse se preocupado em me perguntar, Clark. Se, por uma vez, tivesse me consultado sobre esse tal passeio ao ar livre, eu teria dito a você. Detesto cavalos e corrida de cavalos. Sempre detestei. Mas você não se preocupou em perguntar. Decidiu o que gostaria que eu fizesse e foi frente. Fez o que todo mundo faz. Decidiu por mim.
- Estou fazendo tudo o que posso, Louisa, para impedir essa... coisa. Sabe o que estamos enfrentando. E estou apenas dizendo que eu preferiria, uma vez que Will gosta de você, que você tivesse esperado mais um pouco para esfregar sua... felicidade na cara dele.
- Como ousa sugerir que eu poderia fazer alguma coisa para magoar Will? Fiz tudo de tudo. - sibilei. - Fiz tudo em que pude pensar. Dei ideias, levei-o para passear, conversei com ele, li para ele, cuidei dele. - As últimas palavras explodiram do meu peito. - Arrumei as coisas dele. Troquei o maldito cateter. Fiz ele rir. Fiz mais do que a sua maldita família tinha feito.(...). Ninguém quer ouvir você falar que está com medo, ou com dor, ou apavorado com a possibilidade de morrer por causa de alguma infecção aleatória e estúpida. Ninguém quer ouvir sobre como é saber que você nunca mais fará sexo, nunca mais comerá algo que você mesmo preparou, nunca vai segurar seu próprio filho nos braços. Ninguém quer saber que às vezes me sinto tão claustrofóbico estando nesta cadeira que tenho vontade de gritar feito louco só de pensar em passar mais um dia assim. (...).
Não posso ser o homem que quero ser com você. (...) isso apenas se transforma... em outro lembrete do que não sou.
Há coisas que você não percebe até acompanhar uma pessoa numa cadeira de rodas. Uma delas é como a maioria dos calçamentos é mal conservada, com buracos mal remendados ou desnivelada. (...). A outra coisa era como a maioria dos motoristas é desatenta. Param em cima da calçada ou tão perto de outro carro que é impossível para alguém em uma cadeira de rodas atravessar a rua.