(1)

125 6 3
                                    

"Yes, I do, I believe, that one day I will be where I was, right there, right next to you."

Miami, Flórida, oito anos atrás

Os alunos estavam posicionados em sala para assistir à aula teórica de educação física, numa quinta-feira, às sete da noite. Após a turma ser dispensada, uma roda de amigos formou-se no ginásio para jogar o velho e famoso verdade ou conseqüência. O grupo estava animado, com os mais íntimos reunidos. Que adolescente nunca se arriscou?

E deram início ao jogo, o qual era controlado por um aplicativo no aparelho celular.

Na primeira rodada, o nome de Dinah iluminou a tela. A escolha foi conseqüência: beijar a pessoa com quem você sempre faz dupla. Dinah colocou seus lábios nos de Camila. A expressão da garota não se contorceu em emoção alguma, por isso, nada foi provado quanto a um possível relacionamento entre as duas.

O próximo jogador foi Lauren, que poupou seus nervos com a conseqüência. Seu desafio era beijar a última pessoa que fora beijada no jogo, com rejeição de sexo. Isso queria dizer que Lauren beijaria Camila... aquela que acabou de beijar sua melhor amiga? Aquela por quem ela sentia sentimentos não identificados? Aquela que ela observava atuar todos os dias na escola? O quê?!

Não.

Simplesmente não.

A turma começou a constranger o casal: gritos, nomes para ship e zoeiras.

Lauren era extremamente tímida, o que causou certo desespero. Ela começou a sentir-se pressionada, e não conseguiu conter as lágrimas. Quando as faces das pessoas passaram a ser realmente assustadoras, ela correu até a primeira sala que encontrou, entrou e trancou a porta. No meio da escuridão, uma tempestade fazia aquilo tudo parecer um filme de terror. Como se não bastasse a agonia, a melhor amiga de Lauren, Vero, brotou das cadeiras com uma feição zangada. Ela pronunciou, palavra por palavra, enfatizando cada sílaba:

"Você me traiu."

Vero revelava uma força incomum e atirava os móveis para o alto, enquanto Lauren tentava fugir da pessoa que não combinava com a palavra "fugir" na mesma frase. Do lado de fora, Ally e Normani tentavam arrombar a porta, mas parecia que tinham-na colado nas bordas.

O coração de Lauren foi a mil quando o teto desabou sala abaixo. Tudo a machucava. Ela sentia farpas de madeira - provavelmente vindas das cadeiras - arranhando seus braços e emperrando em suas canelas.

Bastou uma labareda minúscula de fogo para o que o lugar inteiro fosse vestido por chamas que Lauren nunca achou que fosse ver.

Com tudo no chão, tinha chances de Lauren agarrar as mãos de Ally e Normani e as três correrem pela saída de emergência. Mas as chances não eram grandes. Aliás, eram tão pequenas que tornou-se impossível. Lauren teve de correr para um lado, e suas melhores amigas, para outro.

No meio da correria, entre chuva e fogo, escombros e corpos, vida e morte, Lauren foi perdendo o fôlego, e , sucessivamente, o movimento das pernas. Parou para observar e viu que seus amigos - ou colegas - estavam "se entregando" à morte. Pensou em Ally e Normani, Vero, e, com uma estranha tristeza, em Camila. As lágrimas saíam incontrolavelmente, se misturando ao suor e as gotas de chuva. A jovem, então, concluiu que não havia nada a ser feito. Concluiu que não queria ver o mundo sem todas aquelas pessoas, e deixou que o cansaço contribuísse para com a morte.

Lay Me DownOnde histórias criam vida. Descubra agora