"Mais um pouco de correria"

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Eu já disse o quanto odiava (odeio) um cara chamado "Rodrigo Siqueira"? Mais conhecido como "professor de física"?

- POR QUÊ NINGUÉM ME DISSE NADA SOBRE ESSA PROVA?!?
- Cara... A gente ficou sabendo hoje. Você devia chegar mais cedo nas aulas.

Se eu já odiava as aulas desse cara, imagina as provas. E se eu já odiava muito as provas, imagina as "provas surpresa". "Ah cara...". Eu queria tanto ter ficado doente naquele dia. Acordei atrasado como sempre. Todos do meu colégio faziam comentários sobre a "mensagem" exibida aos jogadores na noite anterior. Alguns acreditavam em um "ataque hacker em massa" feito pelos "Anonimous". Outros acreditavam se tratar de uma mensagem alienígena. Enquanto eu... Adoraria tirar uma nota maior que 4 na média desse bimestre. Nem me importava realmente se algumas pessoas possuíam poderes e se matariam para alcançarem seus objetivos. Com ou sem poderes isso já acontecia, acontece e sempre aconteceu. Desde que ninguém me matasse, eu tava "de boa" com tudo isso.

- Vocês tem meia hora para finalizar e me entregar as provas. Às 9:29 vou sair, e assim que passar pela porta da sala de aula não aceito mais nenhuma avaliação. Alguma dúvida?

Pensei em perguntar se ele poderia revisar todo o conteúdo dos últimos 2 bimestres. Mas acho que ele não faria isso e eu perderia meio ponto por fazer uma "gracinha" (de acordo com a cabeça dele, claro, porque eu não acharia engraçado se alguém me perguntasse isso).
Eu não sabia nada do assunto. As vezes não entendia nem mesmo o "bom dia" daquele cara. Enfim, tentei resolver as questões 11 e 12 que aparentemente eram as "fáceis". Provavelmente errei o calculo em algum ponto já que na resposta obtive um tamanho negativo (e isso não existe... Eu acho). E por algum motivo que nem eu mesmo entendia muito bem comecei a sentir raiva. Muita raiva. Raiva por ser obrigado a estudar coisas que eu sabia que seriam inúteis no futuro. Eu tinha sim, sonhos. Eu queria ser um herói. Sei lá. Comprar uma arma e fazer uma fantasia maneira. Ajudar pessoas que morrem de fome. Viajar o mundo, só com o dinheiro de pessoas "gratas" por eu ter ajudado. (͡° ͜ʖ ͡°) . Tudo bem tudo bem... Eu admito que também planejava roubar ladrões nesses meus atos "heróicos". Tipo um Robin Hood mesmo. Depois de alguns minutos com minha cabeça deitada sobre a prova imaginei como seria fácil se as coisas que mais precisamos caíssem do céu (tipo aquela cama com os ursos. Acho que eu precisava dela naquele momento). Desejei mais do que nunca que sem querer ele tivesse me dado duas provas. E uma delas, possuísse todas as respostas e como sou distraído nem notei isso.

- Aaaah caara (falei baixinho)

Eu tenho o sério problema de sempre me apegar às coisas mais impossíveis da vida. Sempre fui daqueles que joga no "hard" e acha o "easy" um saco. Não porque eu era bom em tudo o que fazia, mas não parava de jogar enquanto não alcançasse meu objetivo no jogo.
Por um breve momento, enquanto estava deitado em cima da prova, reclamando da vida, senti como se a prova estivesse com o dobro de folhas do começo e por curiosidade verifiquei novamente quantas folhas ela tinha. "QUÊ?!?" (Esse foi meu grito por pensamento). Haviam duas provas. Uma delas, com as respostas das questões 11 e 12. E a outra com todas as repostas aparentemente corretas e a minha caligrafia. "Espera... Não pode ser. Não não não não, isso é impossível! Se estiver acontecendo o que eu estou pensando... Eu queria... Que a primeira prova sumisse!" Olhei fixamente para a primeira prova (que eu me lembrava de ter feito). Nada aconteceu. "Okay... Eu vou fechar os olhos. Contar até 5 e abrir de novo. Eu não posso estar maluco. Não 'agora'. Não tem chance... Ou será que tem? 5... 4... 3... 2... 1... É O QUÊEEE?!??" Antes de fechar os olhos estava com a primeira prova nas minhas mãos, mas assim que abri novamente, vi que ela não estava mais lá. Apenas a outra prova, com todas as respostas. "Espera... Espera espera espera espera. Eu preciso ter certeza. Tenho que tentar de novo, e fechar os olhos dessa vez. Vamo lá... Eu queria... Que O PROFESSOR RODRIGO NÃO EXISTISSE!!". Fechei os olhos com um sorriso malicioso que eu não podia conter. E quando abri... Com um sorriso ainda maior, notei que ele não estava mais lá na frente! Era o que eu imaginava! Nunca na minha vida pude me sentir tão feliz! Eu não dependia mais da escola nem de ninguém! Não me zoariam de novo por causa de garotas!! Rasguei a prova, dei um pulo da cadeira e gritei com toda a minha voz:

- EU TENHO SUPER PODERES!! ADEUS LIXO DE ESCOLA!! ATÉ MAIS OTÁRIOS!! EU QUERO QUE VOCÊS SE...
- Daniel.
- ...
- Diretoria. Me aguarde lá.

Ele estava atrás de mim o tempo todo. Sentado em uma cadeira, como um aluno comum. Todos riram de mim. E só por ele ainda estar lá naquela sala e todos estarem rindo de mim entendi... "Eu não tenho merda nenhuma".

- Nossa. Cara... Desculpa, foi a pressão, e as vozes na minha cabeça, acho que surtei. Tô passando mal, quase desmaiando. Me desculpa, é melhor eu ir pra direção mesmo. Faço sua prova outro dia.

Saí de sala com todos rindo mais ainda de mim. Acho incrível como as pessoas acham que você é "palhaço" quando você menos pretende ser, mas quando você realmente QUER que todos riam das suas piadas, te acham sem graça ou dizem "para de forçar" e etc. "Bando de falsos", eu pensei. Ninguém realmente se importava comigo.

- Eu queria que TODOS sumissem! Nada de Rodrigo! Idiotas! Babacas! Queria que todas as roupas caras que vocês usam sumissem! Aí sim, eu ia rir pra CAR***O!

Assim que disse isso, ouvi gritos.

- O QUE DIABOS É ISSO?!? CADÊ AS MINHAS ROUPAS?!?! (voz do professor Rodrigo)
- AI MEU DEUS, QUE NOJO!!

Vi vários alunos com os cadernos e mochilas nas partes íntimas correrem pelos corredores. Alguns mais travessos não sentiam vergonha e tentavam puxar os cadernos das mãos das meninas que procuravam se esconder. A escola havia virado um caos. Todos estavam sem roupa. Menos eu.

- Hey! Foi ELE! ELE GANHOU PODERES!!
- F*deu.

Corri. Corri. Corri. E corri mais um muito. Pulei cercas. Atravessei na frente de carros. Passei por becos. "Queria poder ME ESCONDER!", pensei. Nada. "Queria um disfarce!". Nada de novo. Pensei com todas as minhas forças em algo que me fizesse escapar, mas não conseguia imaginar nada. Muitos, dos que corriam atrás de mim pelo meio das ruas e casas (pelados, ainda) sentiam ódio pela vergonha que eu os fiz passar. Pra piorar, vi que outras pessoas que não estavam na escola também corriam atrás de mim. Provavelmente curiosos que não me deixariam ir embora tão facilmente. Enquanto corria, tentei de diversas formas "escapar" através dos meus novos poderes (que eu ainda não sabia usar, então eram inúteis).

- Eu quero um disfarce! Eu quero fugir! Eu quero que uma cama caia do céu! Eu quero ficar invisível! MAS QUE MERDA DE PODERES, EU QUERIA QUE NADA DISSO TIVESSE ACONTECIDO!!

Abri os olhos. Sala de aula. Duas provas de física nas minhas mãos. E na questão de número 0 da primeira prova (a que eu fiz) um enunciado que dizia: "Você me deve uma?
a) Sim
b) Claro
c) Certamente
d) Vou te matar antes que você me mate"

Li novamente da maneira mais devagar possível o que dizia cada palavra de cada frase da questão. Mais do que nunca: Senti medo. Fechei os olhos. Confesso que dei um sorriso malicioso. E em uma tentativa frustrada de esconder o medo: Marquei a letra "D".

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