A sexta vida

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Não é à toa que dizem "quem brinca com fogo sai queimado". Na noite em que fui assassinado, fiz a casa do meu dono pegar fogo. Você deve estar se perguntando como um gato poderia fazer isso. Bem, eu sou mais do que apenas um gato. Descendo dos grandes felinos que acompanharam as bruxas de Salem, carrego em mim o legado de seus poderes. A morte de um gato como eu nunca vem sem consequências. Ainda mais em uma sexta feira 13, de lua cheia e a meia noite. Ele escolheu o pacote completo. E a consequência do meu assassinato foi imediata: o fogo consumiu tudo o que ele tinha. Ele perdeu a casa, seus bens, sua dignidade. Toda a vida que havia construído se transformou em cinzas. Como eu sabia? Eu vi. Vi cada chama enquanto flutuava entre esse mundo e o próximo, aguardando minha vingança. Quando voltei, a primeira coisa que fiz foi observar o que restou dele: um homem quebrado, sem lar, sem nada. Morando em uma pensão barata.

Foi ali, em uma noite qualquer, que ele me encontrou. Eu estava em cima de um balcão, meus olhos brilhando na escuridão. Ele me olhou, talvez pensando que eu era apenas uma estátua. Mas quando me tocou, percebeu que eu era real. Talvez ele tenha pensado que era uma segunda chance do destino. Talvez quisesse se redimir do que fez com o seu gato anterior. Pobre homem. Eu o acompanharia de volta à sua própria destruição. E isso não demorou, no dia seguinte, quando me levou para sua nova casa, sua esposa me acolheu de imediato. Parecia que ela via em mim algo reconfortante. Mas ele... ele hesitava. Havia algo no meu olhar que o incomodava. Era como se eu o lembrasse de algo que ele preferia esquecer. Mesmo assim, ele tentou seguir com sua vida. Mas eu estava lá, observando cada movimento, sentindo a raiva reprimida crescer novamente dentro dele. Ele reclamava de mim para a esposa, que o lembrava que eu era uma dádiva, por ser tão parecido com o antigo gato deles. "Esse gato", inclusive, foi encontrado morto ao lado da casa que havia queimado devido a um "acidente" com um vazamento de gás. Bom, naquela época eu podia ser dócil e inocente, mas agora eu sentia que na minha sexta vida, eu era um espírito justiceiro. E mesmo que muitos possam dizer que minha volta foi por pura vingança, acho mais coerente falar que o que você planta, você colhe. A colheita dele, enfim chegou. 

Plutão - O gato pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora