Plutão - O gato preto

A colheita

Com o passar dos dias, eu o provocava. Esfregava-me em suas pernas, sutilmente o irritava, sempre o fazendo lembrar do que ele fez. Até que um dia, chegando nas escadas, ele me viu esfregar-me em suas pernas novamente, provocando-o ao fazê-lo perder o equilíbrio. Em um instante de fúria, pegou um machado que estava pendurado como enfeite na parede. Com os olhos arregalados de ódio, subiu as escadas atrás de mim, cego pela ira. Sua esposa, desesperada, se colocou em seu caminho, gritando para ele parar. Em um movimento impensado, ela o empurrou. Ele caiu pelas escadas, e o machado, que ainda segurava com força, perfurou sua barriga com um estalo seco.

Por um momento, ele ficou imóvel, o choque dominando seus sentidos. Seus olhos, que antes estavam cheios de raiva, se encontraram com os meus. E ali, naqueles últimos segundos de vida, um brilho de reconhecimento surgiu. Ele me olhou com uma expressão de horror misturado com compreensão. Era como se, finalmente, ele entendesse. A vingança que ele nunca esperou, a vingança de um simples gato, estava se concretizando.

A dor e o medo deram lugar à resignação em seus últimos suspiros. Seu olhar não deixou o meu até que o brilho se apagou, e sua vida escapou junto com o sangue que se espalhava no chão. Eu o observei morrer, com a certeza de que ele sabia que havia sido eu. Não um gato qualquer, mas Plutão, o gato a quem ele traiu e tentou destruir. Agora, a vingança estava completa.

Tanto eu quanto sua esposa ficamos imóveis, observando a cena. Ela demorou para sair do estado de choque. Quando finalmente chamou a ambulância, já era tarde. A polícia apareceu e, quando questionada, ela não mencionou as agressões que sofria. Sabia que, se contasse a verdade, poderia ser acusada de homicídio premeditado. Assim, o caso foi tratado como um acidente. E eu? Saí ileso. E a mulher dele se tornou a pobre viúva que apenas se defendeu de seu amado esposo durante um surto. No final, todos acreditaram que a tragédia foi apenas fruto do acaso. Mas nós sabemos a verdade: quem brinca com gato... sempre sai arranhado.

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