Camarada D'agua

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Passado o carnaval era hora de cair na estrada. Passou por todo o Nordeste, sem pular um estado e se demorando um pouco mais em Pernambuco por causa das boas ondas e na Bahia pelos bons amigos, a boa comida, música e, ora, porque sim. Não tinha motivo para sofrências, pois ainda em setembro estaria de volta ao Nordeste para atuar junto ao projeto Tamar na temporada de desova das tartarugas marinhas e monitorar o trajeto dos filhotes ao mar, além de ter no final do ano a temporada de Pororoca nos rios de alguns estados da região, que Liam não perdia a chance de surfar naquelas ondas literalmente fenomenais por nada no mundo. Mesmo assim, deixar o Nordeste era um pouco sofrido.

A praia de Iriri, no Espírito Santo, era seu primeiro paradeiro no Sudeste. Ele se encontrava com muitos amigos adeptos ao mesmo estilo de vida que ele, vindos de tudo que era lugar, era uma salada de sotaques, gírias, culturas e cores. Faziam competições de surfe entre si, davam aulas para os poucos turistas que aproveitavam a baixa temporada para ter mais sossego e, não mais que de repente, o grupo se dispersava Brasil a fora.

No grande estado de Minas Gerais, muitas vezes o surfista passava sem ter uma boa justificativa. Apenas ia chegando, conquistando uns e outros, reencontram tantos e saboreando da boa comida e bebida. Se deixassem ele ainda liderava junto aos universitários ações que visavam impedir a devastação ambiental para construção de hidroelétricas, destruindo córregos, cachoeiras e matas, além da expansão desenfreada e irresponsável das grandes fazendas - problema enfrentado em todo canto do país.

Mas naquele ano a sua passagem pelos estados era ligeira. Chegando abril ele já estava no Rio de Janeiro, pulando de cidade em cidade, ele não podia ver um punhado de árvores derrubadas no início de uma mata para se meter a besta de investigar e denunciar se fosse o caso. O estado fluminense era cheio de gente abusada que inventava de construir casa em reserva, jogar lixo nos rios, contaminar lençol freático. Não era nada fácil.

Por isso que, ao chegar nos bairros e favelas onde encontrava abrigo com amigos, ele dedicava muito do tempo tempo trabalhando em escolas e centros educacionais, ensinando crianças e adolescentes a terem um pouco de consciência ambiental. E após um dia exaustivo nada melhor do que jogar bola descalço com a garotada nos campinhos ou no meio da rua mesmo usando chinelo com trave de gol. Era bem comum, entretanto, ele levar um surra dos mais novos. Futebol não era seu forte.

E quase todos os dias ele tratava de arrumar um prancha com alguém - de nada adiantaria comprar uma para si - e lançava no mar todo o seu cansaço, suas tristezas e suas frustrações. Deslisava sobre as ondas até se sentir leve, inatingível por qualquer negatividade que o mundo pudesse emanar, parava sentado sobre a prancha antes da formação das ondas e observava o sol desaparecer ao horizonte.

- Nos vemos amanhã, parceiro. Obrigado por mais um dia. - ele murmurava fazendo uma breve reverência.

Ele já tinha visto em uma das praias cariocas grupos de jovens aplaudindo o pôr do sol. Achava uma graça.

Divertir-se à noite naquela cidade não era difícil, nem caro quando se é Liam Payne. A noite ele podia ser encontrado em qualquer espaço popular. Rodas de samba e forró - onde ele fingia ter algum gingado, não convencia, mas cativava -, bebendo bares de esquina rindo e falando alto com novos e velhos conhecidos. Se alguém sugerisse uma boate, a primeira pergunta dele era: toca o funk carioca? Se a resposta fosse sim, a presença dele era garantida.

Liam achava simplesmente fantástica a habilidade que os brasileiros tinham de pegar qualquer estilo musical do mundo e transformar em algo único. E talvez funk fosse a única dança brasileira que ele podia se gabar em ter aprendido rápido e, como diziam os nativos, "mandava bem". Curiosamente ele tinha adoração por vários estilos musicais que muitos dos próprios brasileiros entortavam o nariz, e nem era algo que o rapaz fazia de propósito.

Menino do rio (Niam)Onde histórias criam vida. Descubra agora