Consumismo
iPhone na mão com uma foto do Justin Bieber como fundo de tela, bolsa Chanel, sapatos Louis Vuitton, pele branca e macia, cabelos sedosos, loiros e brilhosos. Brilho labial vermelho-cereja, que, combinado ao sorriso cheio e branco poderia cegar qualquer um que passasse por perto. Pernas depiladas e à mostra com suas saias curtas e provocantes, pretendendo chamar a atenção dos meninos com famílias ricas ou jogadores de futebol americano: suas amigas eram assim, e pareciam ter saído da mesma leva de cópias da impressora da beleza. Mas Kate não era igual a elas, e agora, olhando sua imagem refletida pelos vidros da vitrine da loja do shopping, percebia isso mais que nunca.
Vinda do interior do Texas e caindo de paraquedas no centro de Manhattan, a clichê história da garota do campo que foi parar na cidade grande se repetia novamente, e às vezes a fazia se sentir dentro de mais um filme adolescente. Tinha o cabelo curto e castanho com mechas azuis que combinavam com seus intensos e grandes olhos azuis-esverdeados; vestia jeans surrado, all star e uma camiseta qualquer, usava óculos e era lésbica. Curtia folk e adorava tocar em seu violão sozinha no quarto musicas do Jake Bugg ou do Passenger. Era escritora, ou pelo menos, queria ser um dia. Sonhava em explorar o mundo e conhecer sempre pessoas novas como fontes de inspiração para seus livros.
Por que ainda continuava ali com aquelas garotas? O motivo tinha nome, endereço e salto 15 rosa: Annie. Era sua vizinha quando criança, e consequentemente sua melhor amiga. Todos os dias saíam para o quintal para inventar uma nova história de bonecas, fazer uma caça ao tesouro ou brincar de manja-pega. Bons tempos. Annie havia se mudado dois anos antes de Kate, e quando se encontraram novamente ficaram muito felizes. Pelo menos até Kate se dar conta do quanto Annie tinha mudado, e como havia se tornado como aquelas meninas más de seriado que sempre julgaram: fútil. Levou um tempo para aceitar isso, "Por que ela mudou tanto? " Kate se perguntava ainda tentando salvar a alma de sua melhor amiga, mas às vezes nos esforçamos tanto para conhecer alguém por dentro quando, enfim, percebemos que a única coisa que há em seu interior é o vazio.
Ao invés de questionar, simplesmente decidiu não aceitar tornar-se mais uma delas. Sempre com cada vez mais sacolas, parando em cada loja que passavam, Kate sentia pena por elas serem apenas cascas artificiais do capitalismo. "Pelos teus círculos vagamos sem rumo nós almas penadas no mundo do consumo".
Até quando o valor material será mais importante que o valor humano? Kate não sabia, mas esperava estar viva nesse dia, para ver com os próprios olhos e sentir com a própria carne a pura essência de uma nova vida.
Consumismo, escrevia em seu caderno. Suas amigas ainda com iPhones com fotos do Justin Bieber, bolsas Chanel, sapatos Louis Vuitton e mais sacolas.

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People
RandomDiversos contos aleatórios escritos por mim. Olhe a vida com outros olhos, mude suas perspetivas. Todos temos uma história, gostaria muito de saber qual a sua.