Cap.II

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Sou o cara que se senta na última carteira, encostado na parede. Mesmo assim toda a vez que eu falo alguma coisa, todos os olhares se voltam para mim. O que só acontece nas aulas de Português, História e Alemão, nas poucas vezes que eu digo alguma coisa. Tanto que hoje na aula de Português, não foi diferente :

- No verso: " Tu és tão bela quanto um dia de verão ", Shakspeare não estava se dirigindo à uma mulher, e sim a um homem. Pois um fato do quais poucos sabem, é que William Shakspeare, era gay.
Os murmúrios se iniciam novamente, parece que tudo oque eu digo é polêmico, mas bem, eu não acho. Quando os murmúrios começam a diminuir, uma voz que conheço muito bem se faz mais alta que todas as outras:

- Você só diz isso porque é como esse tal de Shakspeare aí!

Johny... Nós eramos amigos até o aniversário dele de 15 anos do ano passado, mas aí uns caras chegaram com umas bebidas e acabaram colocando ele no grupo dos "populares", que na verdade são só um bando de idiotas bebendo e mostrando isso para todos, mas as pessoas adoram isso, acham eles incríveis.
Oque ele disse não foi pessoal, pois como nunca me viram sequer olhando para uma garota, acabou se espalhando o boato de que sou gay. Mas eu não sou, só não protesto porque não tô afim de várias pessoas me observando mais mediculosamente do que já observam.
Levanto uma sombrancelha para Johny, encarando-o. Todos estão em silêncio, apenas nos observando, esperando o momento para filmarem uma briga, que não vai acontecer, se depender de mim. Neste exato momento a professora percebe o silêncio e se vira, ela olha para Johny e depois para mim, então para em Johny.

- Diretoria Johny, agora.
Ele arregala os olhos, agora olhando para ela.

- Mas por que Sra.Books?
As risadinhas começam e terminam, ela fecha os olhos e suspira com impaciência.

- Já te disse para não me chamar de Sra.Books, agora você tem mais um motivo para ir na diretoria.

- E o outro...?
Ela apenas faz seu olhar de você-sabe-muito-bem-porque. Então ele se levanta de cara feia, olha para mim e aperta os punhos, apenas o encaro de volta com tom de zombaria.

- Muito bem, vamos voltar para Shakspeare.

***

Assim que bate o sinal pego minha mochila,meus cadernos e me dirigo para meu armário. Sempre me confundo com essa maldita senha.
3754... Não
4573... Não, é alguma coisa com três...
3944... Finalmente.
Retiro meu cadeado e assim que o abro, uma pequena folha cai aos meus pés, um bilhete. Leio a caligrafia grande e horrorosa de Jonhy.

Me encontre no beco duas quadras perto do colégio. Depois da aula... Se você não aparecer... Vou deixar uma cratera no lugar do seu olho.

Ass. Você Sabe Quem

Eu começo a rir... Por um momento fico pensando se Voldemort quer me ver, mas infelizmente eu sei que é Johny. Será que eu vou? Ele vai querer me bater de qualquer jeito... Tá, eu vou, mas não vou deixar barato também, cansei. Não aguento mais Johny e suas ameaças cada vez mais patéticas... Semana passada ele disse que ia me bater tanto, que eu ia virar o patinho feio. Ridículo.
Coloco o bilhete no bolso de trás da minha calça jeans, coloco minha mochila no armário, guardo meu caderno de Português e pego o de Matemática. O sinal bate e no caminho, vejo Johny saindo da sala do Diretor com uma pequena folha. Consigo ler a frase em destaque.

Não é permitido julgar um colega pela sua orientação sexual.

Haha, ótimo. Até a o diretor acha que eu realmente sou gay.

O Garoto Que Não Sabia Amar [Sem Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora