Cap.IV

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Minha sorte é que hoje é Sábado, se não eu teria que andar pelos corredores com todos os olhares em mim, mas... Pensando bem,vai acontecer a mesma coisa Segunda-Feira, então pouco adianta.
Assim que lavo meu rosto e escovo os dentes, me olho no espelho. Então a visão daquela garota volta a minha mente, seu olhar assustado e seu rubor não saem da minha cabeça. Mas então eu me lembro do oitavo ano, da garota loira com olhos castanhos. Suzan. Ela era linda, todos à conheciam e ela só andava com as amigas para todos os lugares em que ia... Só ficava a observando de longe, na época em que à conheci, afinal não tinha coragem para falar com ela. Mas então eu li o romance, A Maldição do Tigre. Fiquei com raiva ao longo do livro e até me permiti poucas lágrimas, mas quando terminei a saga, decidi que lutaria para ter um amor tão forte e lindo como o de Ren e Kelsey.
Era uma Quinta-feira ensolarada de Março,para mim,era o dia perfeito para falar com ela. Suzan estava sentada no banco do campus próximo aos corredores, à sua esquerda estavam suas amigas Becca e Cinthia, ambas rindo de alguma piada que Suzan havia contado. Por um momento perdi a coragem, mas então me lembrei do que queria e aspirei determinação de algum lugar no ambiente. As três só notaram minha presença quando parei em frente a Suzan e dei meu melhor sorriso, ela sorriu de volta mais parecia estar um pouco confusa. Becca e Cinthia me olhavan hum, como posso dizer... Elas estavam me comendo com os olhos. Eu abri a boca para falar umas duas vezes, olhando das amigas de Suzan para ela, meio nervoso, elas estavam me deixando desconfortável. Suzan notando meu desconforto, deu um aceno para as duas e me seguiu, enquanto caminhávamos.

- Hum... Eu te conheço?

- Eu sou Zac, nós temos aula de Francês juntos.

- Há sim, me lembrei de você... Precisa de alguma ajuda na matéria ou algo do tipo?
Comecei a suar, oque eu diria? Fiquei tão nervoso só em conseguir falar com ela, que nem pensei no que iria dizer. Até me assusto quando as palavras saem facilmente da minha boca:

- Na verdade sim, eu estou meio confuso com os estudos para a prova e já notei que você é muito boa nesse conteúdo, então pensei em pedir ajuda à você.
Dou meu sorriso fraco e ela retribui pelo elogio.

- Bem eu posso te ajudar então, me liga que a gente combinar um dia desses!
Ela me dá um tchauzinho e vai correndo para onde suas amigas estavam, e eu fico lá sorrindo que nem um idiota, até eu me tocar que ela não me deu seu telefone.
Passo o resto do dia procurando Suzan, mas não a encontro em lugar nenhum, nem na minha aula de Francês. Depois de uma semana preocupado com ela e alimentando todas as esperanças possíveis, sonhando com ela... Eu à encontro na Quinta-feira seguinte. Ela esta sem as amigas, parada perto da escada conversando com um garoto um pouco mais alto que eu, cachos loiros, ele pertence ao time de beisebol. Fico animado, olhando os dois conversando e trocando sorrisos, imaginando que ele é irmão dela ou algo do tipo. Eu estava tão apaixonado que nem pensei em qualquer outra hipótese, principalmente porque eles eram muito parecidos. Eles se olharam e interromperam os sorrisos, um minuto de silêncio, eles começaram a se aproximar, só desfiz meu sorriso bobo quando vi oque estava prestes à acontecer. O cara enlaçou Suzan pela cintura e ela colocou seus braços em volta de seu pescoço, e então, eles se beijaram.
Senti lágrimas caindo de meus olhos e algo quebrando, olhei em volta enquanto saia daquele lugar, mas só quando estava na metade do caminho, que comecei a sentir algo latejante, então me toquei. Algo dentro de mim havia se quebrado. Me sentei em baixo de uma árvore e fiquei lá pensando no que acabara de ver. Suzan estava beijando o cara do time de beisebol, primos? Não. Irmãos? Não. Conclui oque já devia ter notado. Suzan sempre gostou do cara, que agora me lembro do nome: Nathan. Por isso as passadas costumeiras no campo, toda a semana, suas conversas com ele... Tudo foi ligado. E meu coração despedaçado. Entendi que nunca teria um amor, que minha vida nunca seria como um filme, ou um livro. Desisti do amor. Até hoje sei que nunca mais vou amar.

***
Fui tomar o café com minha pequena e bela família. Me sentei ao lado de Thomas, meu irmão mais novo,8 anos, cabelos castanhos, com problemas mentais, um possível futuro nerd. À minha frente minha irmã Ashley de 14, cabelos ruivos tingidos-que ela pinta todo mês de uma cor diferente- com uma mente estruturada ao sucesso. Na ponta da pequena mesa oval, minha mãe, com 36 anos, as marcas da idade não aparecem, embora eu já tenha visto alguns fios brancos em seus cabelos castanhos. Meu pai, bem, ele morreu à três meses com um câncer no pulmão. Ele não era um pai bravo, nem muito de boa, podemos dizer. Ele era engraçado e quando ficava sério, não dava para saber, pois seu sarcasmo era único. Sempre que eu pedia alguma coisa, ele ou desviava do assunto, ou dava dinheiro para oque eu queria, então era difícil decifra-lo. Mas desde que ele morreu,além do vazio que sinto, eu ficava pensando... Oque minha mãe havia visto nele? Conclui que era pela sua simplicidade, sarcasmo, altruísmo,que ela o amava todos os dias, com um sorriso que dizia que ela nunca se arrependera de ter escolhido viver com ele pelo resto de sua vida. Quando ele morreu, minha mãe, Ellie, ficou três semanas sem comer, falava pouco, nós tentamos de tudo para que ela mudasse, mas era difícil já que estávamos sentindo a mesma coisa:o vazio, a dor, a perda de uma parte de nós mesmo. Eu tentava não chorar,pois como irmão mais velho, eu devia tentar ajudar meus irmãos, ja que minha mãe não conseguia nem falar direito, como se cada fala pudesse levar meu pai,Doc, para mais longe.
Agora mesmo, percebo que ainda estamos com um luto visível, pois nunca mais conversamos nas refeições, à três meses. Saboreio meu omelete em silêncio, observando meus irmãos e minha mãe. Penso em Doc e sei, que se ele estivesse aqui, nunca deixaria este silêncio acontecer. Por ele, que jamais será esquecido. Tenho que terminar este luto silencioso.

- Mãe, os ovos estão uma delícia.
Ela sorri fracamente, surpresa.

- Obrigada Zac. Suas torradas estão boas Ashley?
Minha irmã esta com os fones de ouvido no máximo, como sempre. Eu a cutuco por cima da mesa, ela olha para mim irritada e tira seus fones, consigo ouvir a música: Ed Sherran, Photograpy.

- Que foi?

- Só queria saber se suas torradas estão boas,querida.
Ashley se vira para minha mãe, a surpresa característica no rosto, mas então ela sorri.

- Perfeitas mãe, como sempre.
Thomas até aquele momento em silêncio, se manifesta:

- As minhas estão queimadas! A Ashley não faz torradas tão boas quanto as suas mamãe!
Dou uma gargalhada ao ver a cara de assasina da Ashley, minha mãe também ri, mais Ashley mostra seu sorriso amarelo e se aproxima rapidamente de Thomas, fazendo cosquinhas por todo seu corpo.

- Minhas torradas podem não ser boas, mas eu sei fazer cosquinhas muito bem! O melhor é que eu não canso cedo, sabia Thomas?
Nosso café da manhã continua animado assim por um bom tempo, com as risadas e os pedidos de desculpas de Thomas, o sarcasmo voltando a nossa familia por Ashley. Sinto por um momento que as rachaduras de meu coração estão se juntando, mas elas dizem que não, que ainda falta muito para isto acontecer, mas nem tanto assim.

O Garoto Que Não Sabia Amar [Sem Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora