Capítulo 1

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Foram à 3 anos. Mas acho que ainda não esqueci. Saber que tudo podia ter sido diferente. Ela amava-me mesmo. Amava. Porque eu fui estúpido e não lhe dei o valor que merecia. Achava que ela era apenas mais uma. Achava que eu não me ia importar com ela, não me ia lembrar dela no dia seguinte, que não ia sequer sentir o cheiro do perfume caro dela. Mas, enganei-me. Aconteceu completamente o oposto. Eu só pensava nela. Pensava nela as 3 horas da manhã, pensava nela quando olhava para as pessoas, pensava para ela quando bebia, pensava nela até não conseguir pensar mais. Ela ocupava-me a mente. Como? Uma raparia filha da noite, uma rapariga tão misteriosa, tão fria... Como a mim? Um rapaz que bebe para não ter de lidar com os problemas, que vive sozinho por dentro e por fora, que tem o mundo aberto aos seus pés. Como é que um rapaz e uma rapariga que são completamente o oposto, se atraem tão bem?

Desde pequeno, nunca senti o que era amor. Os meus pais deixaram-me numa instituição mal nasci. O meu pai era um drogado e a minha mãe uma alcoólica. Eles tinham 18 anos. Ambos. É a única coisa que sei deles. Acho que nunca tive coragem nem vontade de querer saber mais. Afinal, se me abandonaram, é que não queriam que eu soubesse deles. Por isso, fiz-lhes um favor. Nunca os procurei. Há uns meses atrás soube que o meu pai morreu devido a uma overdose. Ainda me passou pela cabeça ir ao funeral, mas mandei logo esse pensamento para bem longe, porque ia ser a última coisa que eu ia querer fazer.

Acho que sou mesmo filho deles, tenho um pouco dos dois. Tenho vícios. Sou viciado a tudo o que me faça esquecer que estou vivo. Seja bebida ou pancadas na parede.

Continuo aqui porque só há uma maneira de viver. Vivendo-te.


"vivo-te"Onde histórias criam vida. Descubra agora