A Culpa É Toda Minha

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26 de Setembro, 2013
New York, Mount Sinai Hospital
02:38 a.m

- Onde está? Cadê ela? - Eu disse pra balconista do hospital.
- Senhor! Vai com calma! De quem o senhor está falando? - Ela disse assustada com a minha pressa e angústia.
- Mills, Anna Mills! - Eu disse batendo minha mão impacientemente na madeira do balção.
A moça checou o computador.
- Sim... Anna Mills... Ela está no quarto 101. - Ela disse
- Como eu faço pra chegar lá?
- É alguém da família?
- O namorado! Isso conta?
- Não... Me desculpe... Venha hoje ás 16:00h, o deixarei entrar.
- Que se dane! - Me afastei do balcão e fui em direção a Scott que estava em pé na entrada da recepção.
- Dylan... O que vai fazer cara? - Disse Scott
- Vou entrar lá!
- E você tem permissão?
- Bom... Não...
- Como posso ajudar?
  Eu olhei para Scott e sorri, ele sabia muito bem o que fazer. Então ele foi até a balconista. E eu fui discretamente até a porta que levava a um corredor que dava pros quartos onde os pacientes ficavam internados.
- Ah... Oi gatinha... - Scott colocou o braço direito dobrado em cima do balcão.
- Posso ajudar? - Ela disse
- Pode!
- E como?
- Me passando seu número! - Ele sorriu pra ela.
Nesse momento eu abri as portas herméticas de batente e fechei sem fazer barulho. Prossegui pelo corredor iluminado procurando o quarto 101. Não havia ninguém no corredor, foi mais fácil de me locomover. Até que enfim achei.
  Ela estava deitada sobre a maca com uma camisola de hospital, conectada aos aparelhos. Dormia como se não tivesse acontecido nada. Fui até ela, beijei sua testa branquinha e peguei em sua mão, que estava muito gelada. Ela abriu os olhos, o aparelho que media os batimentos cardíacos começou a fazer um "" mais acelerado. Ela arregalou os olhos, e começou a mexer na maca.
- SOCORRO! ENFERMEIRAS! - Eu gritei
- O que está fazendo aqui? - Uma enfermeira apareceu na porta e entrou no quarto para ajudar Anna. Eu me afastei dela.
- Me deixaram entrar! - Eu disse enquanto olhava Anna se contorcer na maca.
- Eu sei que não deixaram garoto! - Ela pegou uma seringa que contia um líquido branco.
- O que é isso? - Perguntei
- Sedativo! Ela está em choque... Mas vai ficar bem! - Ela aplicou o sedativo no braço de Anna.
- Não vai me expulsar?
- Esse não é o meu trabalho! Sei que estava preocupado com ela.
- É... Eu estava... Na verdade me sinto culpado pelo que aconteceu!
- Vão ter muito o que conversar quando ela levar alta.
- Nem me fale.
- Bom... Estou certa de que ela descansará bem hoje. - Disse a enfermeira olhando pra mim com um sorriso.
- Eu... Eu já estou saindo... Obrigado!
- Vá em paz!
- Obrigado! - Eu saí do quarto e fui me encontrar com Scott no estacionamento.
  Entrei no carro, fechei a porta e coloquei o cinto. Scott me olhou.
- Então... Como Anna está? - Ele perguntou
- Ela está... Ela ficará bem...
- E por que precisava tanto vê-la?
- Precisava saber se ela estava bem... Só isso!
- Ótimo! Se não tivesse conseguido eu ia ficar muito puto contigo!
- Por que?
- Eu tive que paquerar uma mulher de 45 anos.
  Eu ri.
- Não ri não! Peguei até o telefone!
- Que garoto sedutor! - Eu disse sorrindo.
- Cuidado! Posso te seduzir também! - Ele piscou pra mim.
  Nós dois rimos, Scott ligou o carro e nós fomos pra casa. Mesmo eu rindo ainda estava preocupado com Anna, me perguntando quem fez isso com ela, e por que ela disse que eles estavam atrás de mim... Era muito pra um dia só. Não sei se conseguiria dormir.
Chegando em casa eu me joguei na cama ainda desarrumada, e fechei os olhos, tentando esquecer os acontecimentos anteriores, tentando ter pensamentos felizes. Como o esperado eu não consegui dormir. Foi um dia estranho demais pra fingir estar tudo bem.
Decidi ir pra sala assistir TV, procurar algum filme interessante pra desviar os meus pensamentos. Foi o que eu fiz, saí do meu quarto e andei pelo corredor escuro, a janela acima da mesa com porta-retratos de mim e Sophie crianças estava aberta, e entrava uma brisa fria, que me fez cruzar os braços. Desci as escadas com meus pés descalços e me encaminhei a sala para enfim ligar a televisão.
- O que tá fazendo aqui? - Sophie apareceu me assustando, ela usava seu pijama rosa e o cabelo loiro estava preso.
- Ai que susto! - Eu me virei pra ela assustado. - Que eu saiba essa casa não é só sua, posso andar aqui se eu quiser!
- Poderia ter sido menos grosso, eu só fiz uma pergunta. - Ela cruzou os braços.
- Desculpa! Não foi um dia muito normal... Eu não estou com cabeça Sophie!
- Fiquei sabendo da Anna! - Ela está bem?
- Todo mundo me pergunta isso...
- Claro! É o namorado dela!
- Ela ficará bem!
- Ótimo... - Ela virou de costas, andou dois passos, parou e olhou pra mim novamente. - Ah... Esqueci de te falar, uma amiga sua apareceu aqui, acho que o nome dela é Skyler.
- O que ela queria? - Perguntei
- Eu não sei, ela parecia preocupada... Queria muito falar com você. - Ela fez uma pausa. - Acho melhor você ligar pra ela.
- Eu... Não tenho o número...
- Como assim? Não são amigos?
- Conheci ela hoje! Não pedi o número ainda.
- Não pediu o número mas passou seu endereço?
- Eu não passei!
- Então como ela chegou aqui?
- Eu não faço a mínima idéia...
- Estranhos... - Ela revirou os olhos e caminhou até a escada.
- Sophie...
- O que foi? - Ela parou e se virou
- Eu estava pensando... E... Sabe algo sobre nossa família? Tipo... Tios, primos, avós? Nunca conheci ou ouvi falar deles...
- Claro que já! Vamos pra casa da vovó Ellen todas as férias!
- Não a família por parte de mãe, a por parte de pai...
- Não... Nunca ouvi falar, perguntei pra mamãe uma vez... Ela me disse que a história era complicada.
- Tá... Obrigado!
- De nada, eu acho... - Ela subiu as escadas.
Sentei no sofá e liguei a TV, assisti um filme e acabei adormecendo no sofá.
- Filho! Acorda! - Eva me chacoalhou.
- Mãe?
- Dormiu no sofá! Já disse pra não fazer isso!
- Que horas são? - Eu sentei no sofá.
- Já é tarde...
- Por que não me acordou antes? Hoje é quinta! Tenho aula!
- Eu pensei que depois do que aconteceu você não iria pra escola!
- Mas...
- Você não está com cabeça, eu sei! - Ela se afastou de mim - Connor! Desça aqui! - Ela gritou o meu pai.
- O que foi Eva? - Disse meu pai descendo as escadas, usando um suéter verde escuro, uma calça marrom clara, e chinelos nos pés. Seu cabelo grisalho estava bagunçado mas pelo menos a barba estava feita.
- Preciso da sua ajuda na cozinha. - Eva prendeu os cabelos curtos e loiros.
- Mãe! Cheguei! - Sophie entrou pela porta da frente.
- Oi docinho! - Disse Eva
- Como vão as notas? - Perguntou Connor.
- Vão bem papai! Já posso pegar meu celular de volta? - Ela disse esperançosa.
- Veremos isso quando o boletim sair. - Ele disse.
- Tudo bem... - Ela largou a mochila e o casaco na porta.
- Aí não é lugar querida! - Eva disse se dirigindo a cozinha
- Ah... - Sophie revirou os olhos e subiu as escadas, batendo os pés com força.
- Mãe! A senhora não entende... Eu precisava ir pra escola hoje! - Eu disse.
- Não acho uma boa ideia! Nós entendemos... - Ela começou a fatiar os legumes com uma faca.
- Quando tudo isso passar você pode voltar pra escola... Ah! E não saia de casa também! - Disse Connor pegando uma cerveja na geladeira.
- Mas por que? O que significa "quando tudo isso passar"? - Perguntei
- Apenas obedeça Dylan! - Disse meu pai.
Nesse momento alguém tocou a campainha e bateu na porta, e eu me encaminhei para abrir a porta.
- Dylan! Não saia de casa! - Gritou Connor
- Não posso nem abrir a porta?
- Deixa que eu abro! - Connor caminhou até a porta e a abriu - Posso ajudar?
- Ah... Sim! O Dylan está? - Disse uma voz feminina familiar.
- Quem deseja?
- Skyler! Meu nome é Skyler.
- Pai! Deixe comigo! - Eu disse me aproximando da porta e a segurando com a minha mão direita. Connor assentiu e voltou para a cozinha.
- Entra Sky... - Eu disse
- Não Dylan! Eu tenho que ser rápida! Você não apareceu na escola hoje... Te procurei por todo lugar, eu vim hoje a noite depois da festa, sua irmã te falou?
- Sim, sim... O que foi?
- Dylan... Fui eu! A culpa é toda minha!

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