O jantar

29 7 3
                                    

Arrumei meu vestido, e passei os dedos entre meus cabelos, iria agora conhecer a filha da megera, minha futura irmã. Noite animadora. Papai reservou um restaurante ótimo, eu amo a salada de lá pelo menos, peguei minha bolsa e desci as escadas

-Nossa...Nem vi você crescer. -papai falou, era mais com um lamento

-Se isso é um elogio, obrigada. -eu sorri 

-Claro que é uma elogio. -ele pegou minha mão e me acompanhou até a porta

-Onde está Brenda e a filha dela? -perguntei um tanto nervosa

-No restaurante nos esperando. Não se preocupe elas vão adorar você. 

-Assim espero. -ele abriu a porta do carro pra mim, eu estava feliz, eu queria mais tempo com meu pai

-Sabe que, depois da história do carro do Marcos eu realmente pensei que não voltaríamos a conversar.

-Sim, eu também. -dei um sorriso fraco

-Mas, o que aconteceu aquela noite? -meu estomago apertou, eu lembrava daquela noite, mais do que gostaria, tive pesadelos durante a semana toda com isso, me lembro que Marcos estava se atirando pra cima daquela vadia, e tudo bem, namorávamos a 2 anos e nunca tinha...rolado. Eu não tinha confiança nele, e nunca levei essa história de virgindade tão a risca, não precisa ser especial nem nada, só quero me sentir segura, com alguém que eu tenha certezas.Então Marcos me puxou pra perto do lago de onde estava acontecendo a festa, e começou a forçar a barra, eu não quis e ele saiu com raiva, momentos depois Jess veio me falar que ele estava agarrado com a vadia, fervi de raiva e vi o carro dele, entrei e dirigi como uma louca até a autoestrada e joguei o carro enquanto chorava, eu nunca havia me sentido tão mal, mas todos somos tão jovens o que podemos saber da vida?

-Não quero falar disso. Só, vamos seguir em frente. -sorri amarelo

-Okay, vamos começar de novo hoje a noite. -ele sorriu e eu me senti em casa, confortável como a há muito tempo não me sentia.

    O restaurante estava cheio, caminhamos até a mesa no canto da janela, era possível sentir os sabores dos pratos só pelo cheiro, Brenda sorriu ao me ver, e ao seu lado, ah não! Só podia ser brincadeira!

-Ah sério? Isso é algum tipo de pegadinha? -Disse Kimberli assim que me viu

-Olá Kimberli. -forcei um sorriso

-Vocês já se conhecem?-disse Brenda admirada

-É claro que sim, ela é a nova aluno do colégio, já conversamos algumas vezes, nos damos bem não é?-que sorriso mais falso, se eu pudesse arranca-lo da cara de Kimberli naquele momento eu o faria

-É? -falei em duvida, tão meiga, alguma coisa estava errada. O Jantar prosseguiu muito bem, Kimberli era doce como mel, chegava me dar arrepios, chegaram mais alguns amigos de papai e sentaram-se conosco, Kimberli parecia minha melhor amiga de anos, eu já estava enjoada daquela atuação toda

-Algum problema filha? -meu pai percebeu meu desconforto

-Acho que o doce não caiu muito bem, se me derem licença. -sorri, peguei minha bolsa e fui em direção ao banheiro, retoquei a maquiagem, arrumei  meu cabelo, e Kimberli entrou no banheiro

-Melhor, irmãzinha? -a ironia na voz dela me irritava

-Qual é a tua Kimberli? -falei brava

-Qual é a tua? -ela rebateu -Chega na minha escola, chama a atenção de todo mundo, rouba todos os olhares, e ainda por cima quer fazer parte da minha família? -havia bem mais que desdém na voz dela

-Não faço questão nenhuma, de ter vinculo algum com você. -reclamei

-Não estraga meus planos com a minha mãe e meu novo papai. -ela praticamente rosnou 

-Fica longe do meu pai. -falei

-Bem, ele é mais meu do que seu até onde eu sei. -ela sorriu triunfante 

-Cale a boca! -gritei, ela largou a bolsa ao lado da minha

-Não vai querer competir comigo, não jogo limpo. -ela passou o batom e saiu, me deixando de sangue fervendo, respirei fundo, peguei minha bolsa e sai do banheiro pisando firme, meu pai me olhou sério quando me aproximei

-Pai vamos embora! -falei

-Senta. -ele falou autoritário, Kimberli estava com uma expressão chorosa -O que é isso? -ele me mostrou um comprimido

-Eu não sei. -falei pasma

-Não mente, eu tive que contar, mamãe sabe quando estou escondendo alguma coisa. -Kimberli chorava -Me desculpa.

-Deu drogas à Kimberli? -Brenda nem me olhava

-O que? Não! -falei 

-Na bolsa dela. -Kimberli ainda chorava, aquele choro era mais falso que produto do paraguaí

-Não tem nada na minha bolsa! -abri a bolsa com raiva para provar, e lá estava, um pacotinho cheio de comprimidos, por trás das mãos da Kimberli eu pude ver ela sorrir.

-Amanda, o que significa isso? -Meu pai surou -Pro carro agora! -fui emburrada pro carro, que desgraçada, como ela pôde?

-Pai não é meu. -falei quando ele entrou no carro

-Calada! Amanda chega de mentiras, eu não acredito que acreditei em você de novo, Amanda eu te dei uma chance e você jogou pela janela! Não me surpreende que seja uma drogadinha mas oferecer a Kimberli? -Como é que ele falou, fiquei muda, ele disse que não se surpreende? O resto do trajeto foi em silencio, eu digeria o que ele acabara de falar, quando ele parou desci depressa do carro e entrei  em casa

-Ela está usando drogas! -meu pai gritou

-Como é? -minha mãe me olhou

-Não é verdade! isso não é meu! -joguei os comprimidos no chão e pisei em cima deles -Nunca fui uma boa filha, aprontei muito eu sei, o carro do meu namorado, a casa do diretor da minha antiga escola, os namorados da mamãe, suas antigas namoradas, mas drogas? Nunca coloquei nada desse tipo na minha boca, e você diz que não se surpreende? Tudo o que eu fiz foi pra dizer que eu precisa de um pai, de uma família! -eu gritava, minha mãe já tinha lágrimas nos olhos -Então se veio até aqui para me mostrar sua família nova perfeita, e me chamar de drogadinha, eu quero que você vá se ferrar! Não quero fazer parte de sua nova família. -subi as escadas correndo e me joguei na minha cama.

  Chorei, como há tempos não chorava, se chorar lavasse a alma, naquele momento eu seria uma alma alva e limpa. Me sentia sozinha, como uma criança em noites de tempestade, me encolhi a fim de sumir, e assim peguei no sono, me afogando em sentimentos que não demonstrei, engasgada nas palavras que não disse e perdida em memórias que nunca aconteceram, apenas a sombra imaginaria de um pai, e fotos, só, e hoje mais do que nunca, eu preferia nem tê-lo. Engraçado, as vezes o que mais queremos é o amor, e outras fugimos dele, mas sempre, tem haver com ele.


Quebra-meOnde histórias criam vida. Descubra agora