O diário de Lucy

"Contaminados"

Já faz algum tempo que o governo impôs ordens rígidas, válidas praticamente para o mundo todo, e quem não as cumpre certamente não sobrevive por aqui. Todas as crianças que completam oito anos são imediatamente separadas de suas famílias, existindo assim um teste de "sobrevivência". Tive que aprender a sobreviver da pior maneira possível, vendo meus pais sendo maltratados do outro lado. Isso sempre me deixou com muita raiva de todos eles.
Eles fazem isso com todos para aprenderem a lutar, pois quem está fora dos muros são pessoas infectadas, que são os chamados "contaminados". Nunca identificaram este vírus, mas existem provas que ele modifica completamente o cérebro desses "ex-humanos" para atacar seus antigos parceiros, que somos nós: humanos.
Muitas vezes pensei em fugir daqui para outro lugar, mas não conheço muito bem o mundo lá fora, ainda mais com estes contaminados, seria perigoso demais! Tenho também esperanças de meus pais estarem vivos. Faz um tempo que planejo descobrir como estão e hoje era o dia. Então consegui com um amigo meu, chamado Josh que trabalhava para este exército, uma roupa dos oficiais. Logo me vesti, misturando-me com os outros para descobrir o que estava ocorrendo, pois tudo estava muito estranho nos últimos anos.
-Não podemos ficar parados! Esse povo contaminado vai nos matar!-Ouço uma voz vindo de uma das portas do corredor, parecia ser o chefe do exército, Newton. Naquele momento me assustei, decidi voltar, pois já tinha escutado demais! Josh me ajuda a sair dali.
-Lucy, nunca mais se arrisque desse jeito, é muito perigoso!
-Fica calmo Josh, estou bem!Conseguiu notícias dos meus pais?
-Não sei se está pronta para ouvir isso Lucy...
-Me fala! Eu tenho o direito.- digo, com os olhos já cheios de lágrimas.
-Eles foram atacados pelos contaminados. Não foram só eles, muitos outros tiveram o mesmo destino. Como sempre o governo praticamente os deixou morrer, sinto muito Lucy!
-Não, não pode ser! - abraço ele e choro sem conter minhas lágrimas. Sempre tive esperança, uma mínima esperança, mas tive. Fiquei muito abalada naquele dia.
Estava triste e ao mesmo tempo com raiva de tudo isso, incluindo os contaminados e principalmente esse governo ridículo.
O dia estava nublado, fiquei em meu compartimento por um tempo, mas não consegui ficar muito. Quando saí para tomar um ar, vejo aqueles contaminados por todo lado! Os oficiais tentavam conter com suas armas que pareciam um tanto patéticas com aquele número enorme de "ex-humanos". Me senti completamente perdida. Naquele momento só pensei em ficar viva e procurar Josh!
-Josh! Vamos embora daqui, sabe que não tem chances quanto a eles. São muitos!
-Não posso Lucy. Vá, fuja daqui enquanto pode!
-Não pense nisso, nunca irei sem você. Sabe disso! - ele para um instante de atirar e me leva para um canto seguro.
-Presta atenção Lu. Eu irei ficar para a luta, por favor não morra. Salve sua vida!
-Mas...-ele me dá um beijo na testa e volta para a luta, mas algo o ataca, um "contaminado". Vejo ele caindo no chão sem vida. Começo a correr sem rumo, chorando muito.
Tive que ser forte para sair dos muros, não foi nada fácil, ainda mais agora que não tinha ninguém para que pudesse pedir ajuda.
Acordei caída em uma floresta. Alguém se aproxima e me ajuda a levantar.
-Vamos, levante-se! Você consegue!-diz um garoto me ajudando.
-Acho que irei ficar bem, quem é você?- digo confusa.
-O carinha que está te ajudando, porque você estava no meu caminho.-ele diz me olhando, irônicamente.
-Então quer dizer que cheguei primeiro que todos. Acho que deveria ficar orgulhosa disso.-digo rindo.
-Mas se não fosse pela minha boa vontade seria a última a ficar aí.
-Ok, ok agora me ajuda aqui.
-Ok- ele acaba me pegando no colo, pois minha perna estava muito ferida, acho que enquanto corria tropecei e caí em alguma coisa.
-Até que você é leve, mas não vai se acostumando!
-Não seria má ideia ser carregada todos os dias!-rimos juntos.
-Me chamo Logan e você?
-Lucy!...Ai!- senti muita dor.
-Você está bem Lucy? Acha melhor pararmos?
-Não...tudo bem só foi uma dorzinha, já passa.
-Ok, não se esforce muito mocinha!-ele diz dando uma piscada para mim.
-Hummm, vou tentar.-digo, dando uma risadinha.
Cotinuamos a nossa caminhada em silêncio por algumas horas, estávamos apenas observando tudo em nossa volta, fiquei com medo, mas me senti livre!
-Acho melhor pararmos um pouco.-diz Logan.
-Seus braços não aguentam mais?-digo na brincadeira.
-Não, engraçadinha, você precisa descançar e comer algo, seus ferimentos são profundos.
-Existem sobreviventes, além de nós?- digo, mudando de assunto.
-Espero que sim, mas ainda não há sinal. Precisamos ficar espertos com os contaminados.
-Temos alguma arma?
-O canivete que peguei do seu bolso enquanto dormia, ou melhor, enquanto estava desmaiada.- ele diz com a nossa pequena "arma" na mão.
-Ei.- dou uma cotovelada de leve em sua barriga.
-Foi por uma boa causa.- Logan diz sorrindo.- Ei, se esforce para ficar bem mocinha!
-Por que se preocupa tanto?
-Precisamos um do outro, agora vá dormir, pois amanhã teremos um dia longo.- ele me coloca no chão, e logo nos acomodamos abaixo de uma árvore.