Reconciliação

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Ele era a presa inocente, entretanto as circunstâncias estão tornando-o o predador. Os sonhos em que acreditara, agora são deixados em uma pele ferida; pois no navio habitavam o caos e a histeria.
O simples discurso proveniente de um herói não vai apagar os seus anos de sangramento, tampouco as mortes injustas de pessoas de bem.
Killian olhava as estrelas admirado por seu imensurável brilho, entretanto, sua verdadeira paixão eram as noites chuvosas, onde o céu ganhava um tom preto e límpido, sem nenhum brilho.
"O que se esperar de pessoas boas num mundo onde o ódio nos aguarda?" -abaixou o olhar para o mar iluminado pelo luar
Seus pensamentos começaram a se tornar mais sombrios, o desejo de vingança começou a dominá-lo. Killian não nasceu para ser um simples escravo e; ao seu ver, já havia passado a hora dele tomar seu verdadeiro posto naquele navio... O posto de capitão.
O rapaz tinha ciência de que com tal posto viria as responsabilidades para com a tripulação, que o sangue de pessoas inocentes escorreriam por suas mãos e que a morte das mesmas ficariam tatuadas em sua alma por toda a eternidade; mas se outros piratas conseguiram conviver com tais atrocidades ele também conseguiria.
Killian foi tirado de seus devaneios quando uma gota gélida caiu em sua testa, voltou a olhar para o céu e constatou que começara a chover.
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—Corre Killian, está chovendo! -gritava Peter
—Quem se importa? Ninguém aqui é feito de açúcar Peter, não fará mal nos molharmos um pouco. -fez uma pausa- Tampouco se tomarmos um banho de chuva.
Peter encarou o amigo por alguns instantes, sua mãe havia alertado-o sobre tomar banho de chuva e sobre vagar pela vila à noite e ele estava fazendo os dois ao mesmo tempo.
—Nem chega a ser por causa da chuva vossa alteza -Killian rolou os olhos- Está anoitecendo e a vila não é um lugar pacato a noite.
O garoto moreno fechou a cara e começou a correr junto ao amigo; apesar da imensa vontade de tomar um banho de chuva tinha ciência de que a vila era um lugar perigoso ao cair da noite.
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A chuva começa a cair grosseira, o rapaz corre até seu quarto e se deita; nenhuma lembrança perturbadora o atormenta e ele agradece -mentalmente- aos deuses.
Killian nasceu como um santo, entretanto, agora, é portador de vários pecados. Quem ele é, jamais foi como ele vive... Ele é mais que o seu próprio corpo e tem ciência deste fato.
No fundo, o rapaz sabe que pode reviver seus momentos de glória, ele apenas tem de lutar para que isso aconteça; ele só tem de lutar para que seu nome fique marcado na história... Para todo o sempre.
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—Terra à vista. -gritou o capitão
Killian olhava para aquele pedaço de terra de maneira relutante, algo o dizia que ele já estivera lá em uma época distante. Um sentimento estranho apossou-se de seu corpo, algo clamava para que permanecesse no navio, mesmo que isso lhe rendesse uma outra sessão de tortura.
O navio foi ancorado no porto, Killian desembarcou junto dos outros marujos, marujos os quais começaram a saquear a pacata vila. O rapaz, por sua vez, optou por adentrar a floresta.
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—Killian, deve ter animais perigosos por aqui, não deveríamos ter vindo tão longe.
—Peter, pare de agir como um rato medroso, não permitirei que nada de ruim lhe aconteça.
—Promete?
—Prometo!
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O rapaz é tirado de seus devaneios quando uma mão toca seu ombro, ele não se dá ao trabalho de olhar para o lado, apenas mantém o olhar fixo no horizonte e desfruta da gélida brisa matutina.
—Kill? -chama uma voz conhecida
—Peter? -pergunta um tanto quanto surpreso
Nunca imaginara que encontraria o amigo (ou devo dizer inimigo?) pessoalmente, tampouco que o mesmo lhe reconheceria.
—O que faz aqui? -perguntou o ruivo
—Nada que seja de seu interesse. -respondeu friamente
—Não é assim que se trata os amigos Killian. -fez-se de ofendido
—Você não é meu amigo Peter, ao menos não mais.
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—Peter, não acredito que fizestes isso! -exclama o rapaz de maneira indignada
Ele não acreditava que o seu melhor amigo foi capaz de traí-lo, Peter sempre soube os planos de Killian e; além de Killian e Melanie, ele era o único a saber a rota pela qual eles passariam.
—Foi você quem pediu por isso caro amigo, trilhaste um caminho de incertezas quando resolveu fugir com uma plebéia. -o príncipe o encarava incrédulo
—Não quero te ver novamente Peter, nem ao menos ouvir o seu nome; espero que apodreça no limbo do inferno.
Killian correu para longe antes que o traidor pudesse contestá-lo.
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—Hey, Killian, faz dez séculos que estou te chamando. -Peter passa a mão em frente aos olhos do amigo
—Não tenho nada para falar com você.
—Mas eu tenho. Eu queria te pedir perdão pelo que eu fiz, eu não deveria ter traído sua confiança; só os deuses sabem como eu estou arrependido.
—Acontece, meu caro Peter, que pedir perdão após fazer merda é fácil... E o que você fez não tem perdão, você entregou-a para a morte Peter, você sabia o que eu sentia por ela e mesmo assim traiu minha confiança. -respirou fundo- E isso, meu amigo, tu jamais recuperará.
—Eu sei que eu errei feio Killian, mas eu estou aqui, lhe pedindo perdão, lhe pedindo uma segunda chance. Eu mudei, sou uma pessoa melhor agora, então, me perdoa? Por favor. -junta as mãos em forma de prece
Killian se cala, o que o ruivo fez foi terrível; entretanto aquela foi a única vez que pisara na bola com o amigo.
"Será que fiz certo em condenar uma amizade de anos apenas por um erro? Devo dá-lo uma segunda chance?"
—Te darei essa última chance. -Peter sorri
—Amigos?
—Amigos.
Eles fazem, pela primeira vez em dois anos, o seu típico toque de mãos, o toque secreto que apenas eles conheciam. Se Killian voltou a confiar em seu antigo amigo? Não, a confiança demora a ser recuperada e jamais é recuperada por completo; ele apenas resolveu dar uma segunda chance ao seu amigo.
—Então, Kill, pode me dizer o que faz em meu império? -perguntou sorrindo
—Piratas meu caro Peter, piratas.
—Você se tornou o que mais odiava... Meio irônico, não?
—Eu me juntei a eles um ano atrás. -deu de ombros- E não me arrependo de minha escolha, ao menos não mais.
Um silêncio avassalador predominou na floresta, podiam jurar que até mesmo a Terra parara de girar. Peter encarava Killian, a decepção estava presente em seu olhar, em toda a sua vida jamais imaginara que seu velho amigo se tornaria um pirata; ele ia abrir a boca para dizer algo, mas Killian correu antes que pudesse fazê-lo.
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Os marujos adentravam o navio entoando cânticos para comemorar pois tudo saiu como o planejado. Eles estavam tão ocupados festejando junto ao capitão que nem ao menos perceberam a presença de um novo tripulante, tripulante o qual não deveria estar no navio.

Gancho a verdadeira história Livro 1- Amigos ou inimigos?Onde histórias criam vida. Descubra agora