Capítulo 3

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Anabela estava sentada, ou melhor, esparramada, em cima do sofá da sala. Via o último filme da noite quando ouviu alguém a subir as escadas. Rápida, saltou, correu para a porta e pôs o ouvido à escuta. Os passos detiveram-se nesse mesmo andar e sem esperar nem mais um segundo, abriu a porta de rompante  e deu com Sofia a tentar encontrar as chaves de casa na mala.

- Oh, mulher! Até que enfim! - exclamou, pondo as mãos na cintura. - Já estava a ficar preocupada! Fartei-me de ligar para o teu telemóvel e nada! Aconteceu alguma coisa? Queres fumar um cigarrito?

- Oh, Ana, estou mesmo cansada! Nem imaginas o que me aconteceu está noite!

A outra tremeu de antecipação e não era agora que iria deixar fugir a amiga.

- Então, anda aqui contar! Fumas um cigarrito e relaxas um bocadito. Anda lá! - insistiu, puxando Sofia por um braço e fazendo-a entrar em sua casa.

- A senhora Alberta há-de querer ir para casa...- começou Sofia, ligeiramente irritada, mas com uma vontade danada de desabafar com alguém.

A outra fez uma careta, foi para a cozinha e de cima da mesa, retirou um molhe de chaves e tilintou-o teatralmente no rosto da amiga.

- O filho da senhora Alberta está doente e ela, pediu-me para tomar conta dos teus filhos até chegares! Ela disse que amanhã falava contigo e agora, és tu que me vais contar tudinho! Mas, que raio aconteceu para chegares a está hora?

- Então, é melhor ir ver se os meus filhos estão bem...

- Ainda agora acabei de sair de tua casa! Dormem que nem uns anjinhos... Senta-te ali! - ordenou com um gesto imperioso para a sala e na direção de um sofá assustadoramente amarelo.

Acenderam, ambas, um cigarro e Anabela começou:

- Podes falar!

Sofia narrou o mais conciso possível, tudo o que acontecera, mas quando chegou à parte de ficar sózinha com o polícia, corou inadvertidamente e engasgou-se.

- Gostaste dele?  - inquiriu, rápida, Anabela com os olhos a brilhar de entusiasmo.

A amiga encolheu os ombros e tentou aparentar indiferença.

- Oh, pá, gostar dele?! Se queres que te diga...não sei! Não é nada de especial!

- O Silva? Nada de especial? Verdade? Olha, querida, quando tiveres tempo, hás-de me mostrar o teu caixote de lixo, que eu passo lá um mês de férias!!! - exclamou Anabela, revirando os olhos. - Cada vez que o vejo na rua, só tenho vontade de...bom, vontade de empurrá-lo contra um carro e revistá-lo todinho!!! Não há mulher nenhuma, nesta porcaria de terra, que não venha com a cabeça no ar, quando é atendida no Posto por ele!

- Aqui as mulheres perdem facilmente a cabeça... - resmungou Sofia, baixinho e enciumada.

- Ai, que montes de tretas!!! - riu-se Anabela. - Como podes ser tão mentirosa? Estás a corar por tudo quanto é lado!

Sofia ficou calada por uns momentos, perguntando, depois:

- Mas, tu...já ouviste...tu sabes?! Ouviste falar alguma coisa sobre ele? Mulherengo?!

- Nunca ouvi nada! Nunca se ouviu que andasse com alguém...agora, que o menino fez das suas, fez! O que se conta é que fugiu da mulher e de dois filhos!

Sofia soltou uma gargalhada França e abanou a cabeça.

- Estás-te rir de quê? - perguntou a amiga, rindo também.

- Porque foi exactamente o que ele disse que tinham inventado sobre ele...

- Bom, é o que se fala por aí... - disse Anabela, encolhendo os ombros, sugando o cigarro e olhando para o vazio. - Quero lá saber o que dizem...eu sei, é que a Beatriz ( tu não conheces!) disse que tinha uma prima que tinha uma amiga que morava mesmo ao pé dos país do Silva e que sabem a história toda! Parece que a mulher se metia nos copos e ele, então, veio-se embora...

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