Prólogo

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Emma

Aprendi com alguns livros e filmes que, quando queremos de verdade algo, somos capazes de atraí-lo. Isso tem algum nome... Lei da atração, pensamento positivo, Física Quântica, o Segredo, sorte? Que seja, isso é uma droga.

Neste exato momento, eu queria que essa extraordinária e desconhecida força do Universo tivesse escolhido uma pessoa que precisasse mais dela a mim. Uma mãe solteira com cinco filhos para alimentar poderia achar uma mala de dinheiro na rua; uma adolescente apaixonada poderia receber uma declaração de amor do crush, um pai de família desempregado poderia ganhar na loteria. A paz mundial!

Bem, eu fui a sortuda.

Não me levem a mal, em qualquer outra situação, eu ficaria feliz de receber essa rara oportunidade. Minha quota de sorte é quase inexistente. Tudo o que tenho foi conquistado por puro esforço. E sim, é claro que tenho muito orgulho disso, mas, por favor, um pouco de sorte nunca cai mal. Mas ela teve de aparecer justo agora?

E o que eu queria? Nada honroso nem humilde. Nada que alguém de bom coração iria querer para sua melhor amiga. Eu queria vingança em uma bandeja de prata. Eu queria que Carol perdesse algo tão importante quanto o que roubou de mim ou, pelo menos, sentisse a decepção de levar uma rasteira.

Durante a última hora, imaginei os mais terríveis pesadelos que poderiam lhe acontecer. Nada de grave, é claro. A maioria das minhas ideias variava de chiclete grudado em seu impecável cabelo loiro a um affaire de seu noivo. Estou exagerando? Acreditem, isso não é nada comparado ao tapa na minha cara, daqueles de novela mexicana. E não é possível controlar nossas vontades, não é mesmo? Sei que não é certo torcer para que Max a traia, e eu mataria meu irmão mais velho se ele fizesse isso. Apenas me deem um desconto e levem em consideração o meu estado de espírito nada elevado.

Obviamente, meu estranho estado de humor não passou despercebido pelo resto do mundo.

— Querida, não gaste seu tempo chateada por causa de homem — disse uma senhora de meia idade sentada ao meu lado no ônibus. A opção dela não era tão de ruim comparada à traição de uma amiga-irmã. Sim, eu preferia levar um pé na bunda do meu namorado a ser passada para trás pela minha melhor amiga. Não tenho namorado, então não faria diferença. — Você é linda. Logo ele volta de quatro, e aí você pisa nele.

Puxa, pelo menos recebi um elogio.

Você deve estar se perguntando, por que estou pu... chateada com minha, até 5 horas atrás, melhor amiga?

Antes de me explicar, devo fazer um breve resumo sobre as origens tumultuosas de nossa amizade. Talvez o começo de tudo tenha sido um mau presságio. Fomos forçadas pelos nossos pais a brincar juntas por semanas depois de Carol ter se mudado para casa em frente à minha em típico bairro do subúrbio carioca. Aqueles em que, há muitos anos pelo menos, podíamos brincar na rua até altas horas da noite ou ir desacompanhados à venda da esquina comprar doces ou adesivos. Enfim, apesar dos esforços de nossos pais, nós não nos suportávamos. Ela me batia e eu arrancava a cabeça das suas bonecas. Então, um belo dia no auge de nossos dez anos, percebi sua estranha reação abobalhada enquanto observava de longe meu irmão. Foi assim que Maxwell virou minha moeda de troca contra todas as maldades da criança com rostinho de anjo e alma de gangster. Em cada uma de suas ameaças, eu a lembrava de meu lindo irmão que me adorava.

Ah, o inocente "amor" infantil, o que ele não faz com uma menina que antes tinha nojo de garotos, não é?

Mas não se engane. Apesar dessa trégua, ainda queríamos pular no pescoço uma da outra. Essa era a verdadeira Guerra Fria. Até que, em uma manhã na escola – é claro que também estudávamos na mesma sala –, tudo mudou: Carol entrou em uma briga, e não foi comigo!

Inimigos dos noivos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora