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Emma

"Respira fundo, Emma. Está aqui em algum lugar. Quanto será que esse anel custa? Ai caramba, Max vai me matar."

Não posso colocar a culpa de ter perdido o anel no Universo, não inteira. Eu dei uma ajudinha quando parei em um canto afastado da esquina do bar e coloquei a joia em meu dedo. Em minha defesa, eu queria saber qual era a sensação que Carol teria em poucos instantes. Não a de casar com meu irmão, e sim a de ter uma relação duradoura o suficiente para caminhar pelo corredor de uma igreja.

Distraída e chafurdando na minha solidão na penumbra da noite – alou prefeito, vamos colocar lâmpadas nesses postes! –, um mal-educado esbarrou em mim bem no instante em que devolvia o anel à caixinha de veludo. Meu primeiro pensamento ao ver o pequeno objeto brilhante voando de meus dedos foi gritar:

— Ô idiota, olha por onde anda!

— Não fica parada aí que nem um poste! — a silhueta gritou de volta, sem nem olhar para trás, eu devia ser invisível mesmo para o resto do mundo.

Levou uns três milésimos de segundos para que eu me desse conta de que, jogado em algum lugar da calçada suja e mal iluminada, estava um anel de ouro branco com um solitária e pequena pedra de rubi. E por isso, agora, estou aqui, agachada nesse chão imundo procurando por uma joia há não sei quantos minutos. Imagino se os convidados lá no bar seriam justos e honestos se me ajudassem a procurar. Talvez isso acontecesse e Carol confessasse o roubo para nosso temível chefe. Ou seja, era mais fácil eu pegar o próximo avião para algum país em outro continente. Sempre quis ir à Itália, acho tão histórica e romântica... Foco, Emma.

Daniel

— Parceiro, modera aí nas bebidas — murmuro para o garçom que serve as bebidas, esperando que Max não me ouça. — Melhor, esquece que essa mesa existe.

Max obviamente já bebeu o suficiente. Os primeiros sinais de embriaguez já estavam óbvios assim que me sentei na mesa, mas pelo visto nenhum de seus outros amigos por aqui se importaram com isso. Pelo visto é verdade quando dizem, que depois de tanto tempo em abstinência, apenas alguns copos são capazes de te derrubar.

— Pagaram por uma noite de open bar, não posso deixar de servir à mesa, senão o meu que entra na reta. — O garçom dá de ombros, nem um pouco disposto a ajudar um cliente que já encheu a cara por duas vidas. Por que não tive a sorte de ter a mesa atendida pela morena do outro lado que não para de me devorar com o olhar?

— Olha, cara, está a vendo loira furiosa sentada no bar? — digo, apontando para uma Caroline estranhamente distraída no próprio noivado.

— A gostosa? — ele a cobiça completamente, alheio ao noivo que está sentado a poucos metros. Se bem que Max está mais na alcoolândia do que no planeta Terra. Eu nunca o vi em um estado tão deplorável antes, aliás há um bom tempo não o vejo bebendo uma gota de álcool. Agora entendo por que ele decidiu dar um tempo, pelo visto fechar um bar para fazer uma comemoração não foi uma boa ideia.

— Pois é, e ela também é noiva do cara que você está enchendo a cara antes do grand finale. Se ele fizer o discurso bêbado, ela vai surtar.

— Caroool o que você essstá fazzendo? — a voz arrastada e grogue de Max me interrompe, chamando a atenção de metade do bar. Quer saber? Desisto. Ele já estava bêbado, não fazia muita diferença parar agora.

— Olha, esquece. Pelo menos traz algo bom dessa vez. — Rendi-me. Maxwell tinha todo o direito de encher a cara já está prestes a se unir pela eternidade com Caroline.

Max e eu éramos amigos desde a época em que faltávamos a escola para jogar futebol na praça. Junto com Patrick, éramos um trio inseparável. Até a noite do acidente.

Como de costume, nós três estávamos andando de Skate em uma via fechada à noite, mas um carro em alta velocidade furou o bloqueio. Pat não conseguiu sair a tempo do asfalto.

Max seguiu em frente indo morar bem longe daqui; eu superei com música.

Embora os anos afastados e aquela noite tenham abalado nossa amizade, não a destruíram por completo. Nós nos víamos esporadicamente, mas sempre estive ao seu lado para apoiá-lo a prestar vestibular para a faculdade de Direito e vê-lo se tornar um advogado implacável. Nada o parava quando ele tinha um objetivo. Receber o convite para ser seu padrinho de casamento não foi uma total surpresa, mesmo se fosse pelos velhos tempos.

— Carol parece um pouco distraída. — Hugo, um dos amigos de Max, grita para sua voz soe mais alto do que a da mulher cantando Taylor Swift no Karaokê. De fato, Caroline está com os olhos praticamente grudados em seu celular, praticamente ignorando qualquer pessoa que a cumprimente.

— Ela está esstraanha a semaaana toda.

— Não sei como você atura as mudanças de humor dessa mulher. — Seu amigo tem a coragem de retrucar. Todos sabemos que Maxwell defende as mulheres de sua vida, mesmo a mais psicótica de todas.

— Ei, eu a amo. E ela também me ama, já até provou issso — ele responde com um sorriso bêbado e convencido no rosto, como se Carol fosse uma princesa que escolheu o plebeu como uma grande prova de amor. O amor não deveria ser acompanhado de provas para acreditarmos nele, mas prefiro manter essa reflexão para mim mesmo. — Ela fez uma declaração pra mim no meio de um show. — Pausa para uma risada bêbada medonha — Minha irmã gravou tudo.

E assim, depois de muitos anos, finalmente tudo o que aconteceu naquela noite fez sentido.

Inimigos dos noivos [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora