II. Mostrando as Garras.

21.5K 1.3K 127
                                    

Dean Leverl

Estou sentado no jatinho, os nervos à flor da pele. A menina ao meu lado não para de me encarar. Estefânia, com seus olhos grandes e curiosos, mal sabe que está prestes a entrar em um pesadelo do qual não poderá escapar, sua vida nunca mais será a mesma. Estou a ponto de pressioná-la contra a poltrona e revelar como será sua vida daqui pra frente, mas prefiro esperar. O momento certo é essencial.

Passei anos à procura de minha irmã, Esolda, por quem sempre nutri uma paixão proibida. Desde cedo, eu sabia que meus sentimentos por ela ultrapassavam os limites do aceitável. Quando finalmente cedeu aos meus avanços na adolescência, pensei que ela fosse minha para sempre. No entanto, ela fugiu para o Brasil e se casou com um qualquer, um homem insignificante que a afastou de mim. Sempre soube do meu amor e fez de tudo para escapar. Ela intitulava meu amor como doentio.

Quando Esolda implorou aos nossos pais para ser enviada a um colégio interno, ela acreditou que estava se livrando de mim. Desapareceu, e por anos, a procurei em outras mulheres, tentando preencher o vazio com sombras de sua memória. Minha busca a transformou em algo monstruoso dentro de mim, e meu coração se endureceu, tornando-me sádico e implacável. Tudo de ruim que existe em mim tem um pouco dela.

Mas agora o destino, em sua ironia cruel, trouxe Estefânia até mim. Ela é a cópia perfeita de Esolda, como se tivesse sido esculpida pelas mãos do tempo para substituir a mãe. Sinto uma satisfação sombria em tê-la ao meu lado, pronta para ocupar o lugar que sua mãe abandonou. Esolda nunca foi inteligente, suas escolhas a levaram à ruína e agora, tenho essa preciosidade ao meu lado, esperando para ser moldada à minha vontade.

Olho para Estefânia e nossos olhares se cruzam. Ela não faz ideia do que a espera.

— O que tanto me olha? — Digo, tentando esconder minha impaciência.

— Minha mãe nunca me disse que tinha um irmão! — Ela responde, soltando o cinto, seus olhos desafiando os meus.

— Éramos muito distantes mesmo. Esolda sempre foi uma pessoa egoísta — cuspo as palavras com veneno, quase que num rosnado de ódio.

— Não fale da minha mãe, ela não pode se defender! — Disse alto o suficiente para que meus nervos fosse a flor da pele.

Sem aviso, sua mão se choca contra meu rosto. O choque da agressão inicial é rapidamente suplantado por uma fúria gelada. Nunca, além de Esolda, alguém teve a ousadia de me desafiar assim, não desta maneira. Segurando-a pelo pescoço, vejo o medo tomar conta de seu rosto. Aperto com firmeza, sentindo sua resistência diminuir, e toco meus lábios em sua testa enquanto a sufoco.

— Nunca mais ouse me tocar. Você não passa de uma puta igual sua mãe. — Cuspi as palavras contra ela, com remorso e ódio de Esolda.

Estefânia desmaia, e eu a deixo jogada na poltrona, suspirando em alívio. Não fui forte o suficiente para lhe causar nenhum dano, um desmaio apenas a deixará mais calma. Ah, finalmente, silêncio.

Enquanto o jatinho rasga as nuvens, uma tempestade de pensamentos sombrios revolve em minha mente. Estefânia, agora inconsciente, é um enigma a ser desvendado, uma peça vital em meu plano. Quando ela acordar, sua vida mudará de maneiras que ela jamais poderia imaginar. No fundo, sei que o que está por vir será desafiador, mas também excitante. Estamos apenas no começo de uma jornada obscura e tortuosa, cada passo nos levando mais fundo na escuridão que é a minha vida.

O jatinho cortava as nuvens como uma lâmina afiada, meus pensamentos mergulhavam vagavam abertamente pelas minhas intenções nada gentis. Estefânia, agora imóvel ao meu lado, era mais do que apenas uma presença física. Ela era o reflexo dos meus desejos mais profundos e perversos, uma marionete nas mãos de um destino irônico que finalmente se alinhava ao meu favor. Eu podia sentir o cheiro de sua fragilidade, seu corpo tremia levemente enquanto a respiração se estabilizava após a violência. Chegava a ser agradável observar tamanho esforço. O silêncio que se instalou no jatinho era quase religioso, um momento raro de calma dentro de um ser que era apenas confusão e maldade.

O rosto de Estefânia, era um cópia bem feita de Esolda, seus traços eram mais finos e me evocava lembranças de um passado que eu havia moldado e distorcido com minha obsessão. Esolda, a mulher que sempre desejei, a mulher que me negou, que fugiu de mim, agora vivia em cada linha e curva do rosto de sua filha. Esse pensamento me consumia, um misto de satisfação e ansiedade, enquanto ponderava sobre as possibilidades que se abriam diante de mim. Estefânia não era apenas uma substituta; ela era uma nova chance, um jogo que eu estava determinado a vencer.

Enquanto olhava pela janela do jatinho, as luzes das cidades abaixo as faziam parecer um pedaço do céu, lembrando-me das noites em que procurei Esolda em outros corpos, tentando preencher o vazio com outras mulheres, nenhuma delas conseguirá tal ato. Elas nunca foram suficientes. Sempre faltava algo, uma essência que só Esolda possuía. Agora, ao meu lado, estava sua filha, uma réplica quase perfeita, mas com uma inocência que tornava a situação ainda mais tentadora.

A jornada até Baden-Baden não era apenas uma viagem, seria a nossa travessia para um novo capítulo, onde cada movimento meu seria calculado, cada palavra dita com intenção. Em minha mente, eu já planejava os passos que tomaria ao chegarmos. Estefânia seria treinada, moldada à minha vontade, até que toda resistência fosse quebrada. Eu seria paciente, como um escultor diante de um bloco de mármore grego, lapidando cada imperfeição até que a obra final surgisse, perfeita e submissa.

Eu não podia deixar de imaginar como seria quando ela finalmente acordasse. O medo em seus olhos seria apenas uma dadiva. As lágrimas, cada súplica, só alimentaria minha imaginação. A dominação é uma bela arte, existe um brilho, um prazer em quebrar o espírito para depois reconstruí-lo aos gostos de seu mestre. E eu seria esse mestre, o autor de seu destino.

A ironia de tudo isso era um belo filme francês. O destino, que tantas vezes me negou, agora me entregava meu maior desejo, aquilo que eu pedi afinco em todas as minhas noites. A vida de Estefânia estava prestes a se entrelaçar com a minha de maneiras que ela nunca poderia nem ao menos sonhar. Cada passo que ela daria, cada escolha que fazia, seria orquestrada e conduzida por mim.

O silêncio foi interrompido apenas pelo som suave dos motores, um ruído constante que acompanhava meus pensamentos inquietos. O destino não poderia ter sido mais generoso comigo. A verdadeira história estava prestes a começar, uma história de controle, desejo e dominação. E no final, apenas eu conhecia o roteiro.


Meu Tio Dominador (REPUBLICAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora