A casa solitária

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  Me lembro daquela casa, de seus corredores escuros e empoeirados, do piso gelado de manhã cedo, e do andar que ficava em cima da lavanderia, onde jamais fui.
  Lá eu vivia sozinha, sem sequer um único amigo e sem escutar uma única palavra alheia.
  Trancada no meu quarto, mergulhada na minha solidão e em minhas palavras, eu achava que estava feliz, sem saber o que é a real felicidade de ter alguém.
  Me lembro de passar os dias escrevendo e rabiscando. Recebia emails de outras pessoas que precisavam de ajuda, e resolvia suas complicações. Mal sabia eu que, na verdade, eu que estava afundando num mar de problemas.
  Nesse momento você deve estar pensando que aquela casa só me fazia mal, mas não era exatamente assim.
  As paredes da casa solitária formavam um escudo contra os julgamentos e comentários das pessoas de fora, e me ajudavam a ignorá-los. O chão gelado e empoeirado me dava um sustento, por onde andar. Aquele escuro me impedia de ver a cruel realidade, e me fazia ficar em um mundo ilusório, o qual eu amava.
  Depois de alguns meses, eu tive que deixá-la. Sem ela, eu descobri o que é realmente viver. Sem a ilusão, vendo o que é real. Fiz amigos, e um mais-que-amigo. Conheci a minha maior obsessão, a qual não consigo esquecer um minuto. Meu mundo hoje é mais claro, e eu posso ver o mundo exterior sem me preocupar com as opiniões alheias.
  Agora tenho companhias que me dão o mesmo sustento que aquele chão, que formam escudos mais fortes que aquelas paredes, e não preciso mais me esconder da realidade.

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