A gaiola e o pássaro

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    Eu sempre fui muito ciumenta. Pensava que se as pessoas tocassem, olhassem, tivessem para elas durante pouquíssimo tempo, estragaria o que fosse que eu estivesse guardando.
    Com pessoas era igual. Não podia conversar com outra pessoa que eu já ficava mordida. Não podia falar de outra pessoa que eu já explodia. Não podia olhar outra pessoa que eu já te odiaria. Não podia.
    Até que conheci ele. Um pássaro livre, que voava e voava, mas no final sempre acabava me visitando, sempre acabava visitando a gaiola.
    Então, ele me fez o que fazia com tudo, conquistou. E eu fiz com ele o que fazia com tudo, prendi.
    De começo o pássaro não se importou, disse que se eu o amava deveria protegê-lo, mas depois de algum tempo notei a infelicidade dele.
    Me contava sobre os céus com um brilho nos olhos, com saudades daquela imensidão. Eu ouvia, curiosa e culpada, pois sabia a falta que ele sentia da liberdade.
    Com pena, o libertei, deixei-lhe voar. Ele ia e voltava, me contando as mil e uma coisas que tinha visto e vivido. Eu adorava ouví-lo, mas sempre sentia sua falta quando partia.
    Então, vendo agora o meu sofrimento, ele me deu uma sugestão:
- Gaiola, minha amada, por que não voa comigo?
- Ora, pássaro, como poderei voar? Além de ser pesada, não tenho asas!
- Fácil! Vire um pássaro também! Não é simples?
- Não, pássaro. Como farei isso?
- Apenas sinta os céus, sinta sua liberdade, sinta as suas asas.
Naquele momento, eu me concentrei. Tinha de pensar nas minhas asas. Mas que asas? Eu não as tinha, como poderia sentí-las?
    Então o imaginei, com todas as suas histórias, com todo o seu encanto. Logo, voava do seu lado, conhecendo cada pequena parte do céu, cada vez um pouco mais.
    Estava livre, estava ao seu lado. Já não precisava prendê-lo, pois voava ao seu lado, e cuidava-o, e ele me cuidava. Já não era gaiola, era apenas um pássaro livre, um pássaro livre e apaixonado.

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⏰ Última atualização: Nov 02, 2015 ⏰

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