O Esquema

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Se você tem a ideia, ótimo. O segundo passo é desenvolvê-la. 

E não digo escrevendo. Já chegamos lá. Primeiro, você precisa desenvolver como vai acontecer, para depois começá-la. Eu pessoalmente gosto de ter todo um esquema, do começo ao fim, antes de escrever algum capítulo. Às vezes, escrevo o primeiro antes, mas não avanço até saber como vai acabar. Ou, pelo menos, como vai chegar no grande problema a ser solucionado. De vez em quando, é bom deixar a resolução para quando você chegar até ela.

Mas o fato é que nunca deve-se escrever uma história sem pensar antes no que vai acontecer nela. Se você for desenvolvendo sem saber para onde está indo, o caminho será bem mais incerto. Você poderá perder tempo com coisas que não renderão nada e acabar não explorando aquelas que virarem as mais importantes. É bom saber aonde você vai acabar, para dar dicas sutis desde o começo, para desenvolver seu personagem devagar, para ser um caminho, não previsível, mas lógico. Você também não quer chegar ao final e ter as pessoas se perguntando o que é que deu na sua cabeça para você fazer aquilo, quer?

Uma história precisa de um começo, da base, aonde você apresenta os personagens principais e mostra de onde eles vem, quem eles são. A ideia é sempre desenvolvê-los durante o livro, então você precisa de um ponto de partida. Normalmente, ele não dura muito. Como na Rainha Vermelha, nós passamos pouquíssimos capítulos conhecendo a vila dela. E na Seleção, ainda menos conhecendo a vida da America antes de ela ir pro castelo, nada antes de saber da seleção. Mas é o suficiente. Você tem a missão de estabelecer a base da história no começo com poucos capítulos, alguns parágrafos e várias palavras-chave.

Depois de já ter mostrado de onde você está saindo, precisa começar a introduzir os acontecimentos, as mudanças, essas coisas. Normalmente, devagar. É aqui que você prepara seu personagem para chegar ao clímax, ao grande problema que precisará ser solucionado. Dependendo da sua história, essa parte pode ficar grande e você precisa ter certeza de não deixá-la monótona. Se está falando de alguém que está mudando, de um personagem jogado em um ambiente que não é dele, aproveite para mostrar as diferenças, para colocar o que ele vai aprendendo devagar, para retomar um pouco da base dele, mas de um jeito a indicar que aquele já não é ele.

O clímax, ao grande problema a ser solucionado, é o ponto alto da sua história. Mesmo que tudo que tenha acontecido antes tenha sido incrivelmente interessante, é por esse momento que todos os leitores estarão esperando. Guarde suas grandes ideias para ele, porque é quando o personagem será colocado à prova, quando terá que mostrar quem ele se tornou.

A solução vem de você. Eu prefiro escrever até como será solucionado antes no meu esquema, mesmo que só o grosso para depois detalhar. Prefiro pensar antes, porque gosto de decidir como será o final depois. Só se certifique de que a solução tenha o peso de todo o clímax. Não crie um problema enorme para ser vencido em cinco segundos por algo idiota. Precisa ser no mesmo nível, senão acima. E tenha certeza de não deixar pontas soltas ou margem para os leitores questionarem a veracidade de tudo.

Eu mesma faço assim: quando planejo o clímax, ou até mesmo quando chego a ele, tento ver de fora. E, principalmente, procuro problemas. Questiono. Uso bastante 'e se'. Ou até mesmo 'porque não'. Você precisa ter certeza de que já testou todas as teorias possíveis para o clímax e a solução na sua cabeça, que já as esgotou e que tem uma resposta pronta para todas. Ah, mas as respostas têm que estar na história e não na sua cabeça. O livro sempre precisa falar por si só, ser inteiro sozinho. Você tem até a última frase para cobrir todos os buracos que possa encontrar.

Alguns autores gostam de terminar o livro no ponto alto. Isso pode funcionar para dois casos: primeiro, se você está pensando em fazer uma saga e quer que as pessoas fiquem loucas para saberem como vai continuar no próximo; e segundo, quando tudo já está realmente solucionado e um simples epílogo vai satisfazer. Não termine no clímax se é o último livro e você ainda deixou pontas soltas, por mais que deixe tudo mais emocionante. Um leitor que passou pelo grande problema vai ler mais alguns capítulos felizes e calmos para entender como tudo acabou. Aliás, ele vai adorar os últimos momentos para respirar e não vai se decepcionar nem um pouco. Será um jeito bom de fechar.

Agora, se já deixou tudo fechadinho e quer, sim, acabar no momento mais emocionante, vá em frente. Só escreva mais um epílogo curto para nos garantir que tudo terminou bem mesmo.

Uma vez que você tem a ideia e o esquema, pode começar a escrever! Saiba que muita coisa muda enquanto você está escrevendo. Estava pensando em fazer o personagem odiar tal coisa e ir contra tal pessoa, mas chega na hora planejada e você percebe que ele já não é mais daquele jeito, que não faz sentido, então você muda o rumo. Faz parte. E muitas vezes não muda completamente seu esquema.

Mas se mudar, então comece outra vez. Planeje de novo o final, veja o que vai ser diferente de agora em diante. Os planos que você faz antes de escrever são feitos para te guiar e não te prender. Não se sinta nunca obrigado a acompanhar o que escreveu antes, ainda mais quando está já dentro da história e se sente no personagem. Só aproveite do esquema para manter os pés no chão e ter o mínimo de controle do que está fazendo.


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