14 de novembro de 2020

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16:10

  Faz mais ou menos um dia que o Doutor tirou a meu sangue e ele o fez hoje novamente. Acho que ele irá acabar em pouco tempo o seu propósito. Então eu espero que quando o conseguir me liberte: não aguento mais ficar confinado nessa casa minúscula com esse velho ridículo. Ele é completamente insano, já não fala coisa com coisa e tem lapsos constantes de memória. Ontem ele esqueceu e escorregou no chão que eu havia a segundos limpado. Eu esperava que ele estivesse morto, mas para meu azar, não estava. Pena.

  Bom, mesmo assim, meu dia não foi tão ruim. Só tive um arranhão por causa de uma ameaça de morte com uma faca e levei apenas um tombo. Que sorte! Normalmente eu tropeço em minhas pernas e caio no Doutor, o que, você sabe, já não acaba bem.

  Bom, deixe-me dizer como é a cara dele. Ele tem uma barba espessa e grisalha, não tem cabelo (por isso usa um chapéu), algumas rugas, duas sobrancelhas espessas, pequenos cílios, uma pequena boca, grandes e pontudas orelhas e uma cara estranha de quem quer matar você. Quanto à mim, tenho um pequeno e pontudo nariz, sobrancelhas e bigode ralos, uma grande boca e pequenas orelhas.

  Então, características dadas, vamos continuar com o meu cotidiano.

  Hoje de manhã eu e o Doutor brigamos sobre um prato de sopa que ele derramou mas pois a culpa em mim. Ele me bateu, mas na adrenalina do momento nem senti, então continuei firme e, pela primeira vez, dei um belo soco bem no meio de sua horrenda face. Ele ficou tão furioso que desmaiou. Está deitado na cozinha até agora. Bem feito!

  Quando ele acordar e se lembrar do que aconteceu vai me trucidar. Melhor limpar o sangue e a sopa, por precaução. Eu realmente quero estar vivo amanhã.

  Também brigamos, duas horas antes disso, para ver quem iria ficar com o pão que tinha sobrado. Pra você ver por o quê brigamos: coisas provavelmente simples em seu cotidiano, mas difíceis aqui.

  18:44

  Nessas duas horas eu fui dormir, e quando acordei o velho sumiu. Não sei para onde foi mas espero que demore. Não quero ter em minha cabeça mais um assunto: será que vamos fazer mais testes hoje? Já tenho um assunto suficientemente difícil de pensar: os meus pais.

  Quando eu era pequeno fui arrancado das mãos dos meus pais pelo Doutor quando eu tinha apenas 2 anos, pois eu continha o código genético perfeito para suas pesquisas - apenas isso o Doutor me contou de cara. Além disso, mesmo ele sendo meu "responsável", por assim dizer, eu nem sei qual é seu nome. Desde pequeno ele me diz para chama-lo de senhor ou de doutor. Isso não é ridículo? Eu só sei que eu tenho quinze anos por que todo ano em 1 de julho ele me lembra que faz tantos anos que nos conhecemos, ou seja, que fui sequestrado, então somando dá a minha idade.

  Estou ouvindo barulho de chaves. Ele está chegando. Hora de parar.



Diário de um cobaia ludibriadoOnde histórias criam vida. Descubra agora